Cantora amadora e pedagoga, mãe do Papa Leão XIV encorajou sua vocação sacerdotal
Apesar de ter pós-graduação, Mildred Prevost nunca exerceu o magistério; filhos recordam sua interpretação de "Ave Maria"
Seus amigos a chamavam de Millie. O futuro papa a chamava de mãe. Mildred Prevost, cujo filho mais novo, Robert, um dia adotaria o nome de Papa Leão XIV, trilhou seu próprio e extraordinário caminho de ambição, talento e devoção religiosa em sua cidade natal, Chicago.
Nascida Mildred Agnes Martinez, ela se formou em ciências da educação em 1947 e cursou pós-graduação na Universidade DePaul, um caminho acadêmico incomum para mulheres naquela época. Ela esperou até a faixa dos 30 anos, segundo os registros do Condado de Cook, para se casar com Louis Prevost, oito anos mais novo. Mildred estava com quase 40 anos quando deu à luz três meninos num intervalo de pouco mais de quatro anos.
Uma artista entusiasmada, presença constante em esquetes e apresentações teatrais dos eventos beneficentes da escola e uma cantora talentosa, ela certa vez gravou sua própria interpretação de "Ave Maria", uma peça musical de considerável dificuldade para um amador.
Mãe do agora papa sempre incentivou sua vocação | Foto: John Joseph Prevost/Divulgação"Essa era a música que era sua marca registrada", disse seu filho mais velho, que também se chamava Louis, em entrevista no sábado. "Ela punha a voz para fora quando a cantava."
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Mildred faleceu em 1990, após ser diagnosticada com câncer e passar por quimioterapia. Mas seus filhos se reuniram em Roma na semana do Dia das Mães, dias após o caçula dos três ser eleito líder de 1,4 bilhão de católicos romanos do mundo.
Robert Prevost passou a infância em Dolton, subúrbio de Chicago, imerso na cultura católica que girava em torno da paróquia da família, Santa Maria da Assunção, na zona sul da cidade.
A escola católica era uma tradição familiar de gerações. Mildred Prevost se formou na Immaculata High School, na Zona Norte da cidade, em 1929, segundo registros de jornais, e era a caçula de uma grande família católica.
Diferentemente de seu filho Robert e de quase todos os seus vizinhos da Zona Sul, Mildred era torcedora dos Chicago Cubs no baseball. (Leão XIV é torcedor dos White Sox.)
Desde criança, Robert Prevost já dava sinais claros de que se tornaria padre, dizia sua família, e sua mãe era uma fervorosa apoiadora desse desejo. Quando ele quis cursar o ensino médio em um pequeno seminário em Michigan, ela e seu pai permitiram.
"Eles lhe deram muita confiança", disse o bispo Daniel Turley, que conheceu o futuro papa ainda adolescente, recém-saído da escola de Michigan. "Quando ele entrou para o seminário agostiniano, o fez com o incentivo de sua amorosa mãe."
O bispo Turley se lembrou de ter conhecido Mildred — quase meio século atrás — e de ter ficado impressionado com seu orgulho pelo filho pequeno e sua intensa convicção católica.
"Ela era praticamente uma santa", disse ele. "Ela era simplesmente uma daquelas pessoas que você conhece e sente a presença de Deus."
Pizza caseira e Evelyn Waugh
Mildred fazia questão de ensinar os filhos sobre questões práticas, diz Louis Prevost, o filho. Ele se lembra de estar na cozinha da família enquanto ela explicava os passos de uma receita, preparando qualquer uma de suas favoritas: goulash, frango Lo Mein, pizza caseira ou rosbife.
"Aprendemos a cozinhar, aprendemos a limpar, aprendemos a passar roupa", disse ele. "Ela nos ensinou todas as habilidades necessárias para sermos independentes e nos sustentarmos."
Além de inspirada pela religião, Mildred também achava motivação em interesses intelectuais. Ela trabalhou como voluntária em bibliotecas de escolas católicas. Em 1950, ela resenhou "Helena", um romance de Evelyn Waugh, para uma palestra com um grupo local de mulheres católicas e, de acordo com o The Chicago Tribune, em 1952 participou de um fórum intitulado "A Mulher Católica no Mundo Profissional".
"Toda a nossa família era voltada para a educação", diz Louis. "Acho que ela talvez quisesse ser professora um dia, mas isso nunca se concretizou porque ela se casou e teve filhos."
Ela e o marido, que faleceu em 1997, provavelmente não imaginariam que o filho mais novo um dia se tornaria papa, disse John Prevost, outro irmão do papa que mora nos subúrbios de Chicago.
"Eles estariam nas nuvens", disse ele.

