Cáritas Brasileira NE2 lança projeto Juventudes pela Cultura de Paz em Recife
Evento acontece no dia 11 de junho e marca fase de ações para prevenir a violência e fortalecer a juventude nas periferias da capital
A Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2 lança, na próxima quarta-feira (11), o projeto Juventudes pela Cultura de Paz.
A iniciativa tem como foco o fortalecimento da participação social e política de adolescentes e jovens, especialmente negros e negras, na prevenção da violência em cinco comunidades da cidade do Recife: Morro da Conceição, Alto José Bonifácio, Alto do Brasil, Linha do Tiro e Brejo da Guabiraba.
O lançamento será na quadra do Centro de Reabilitação e Valorização da Criança (Cervac), localizada no Morro da Conceição, a partir das 14h, com apresentações culturais e participação de grupos, coletivos e juventudes locais.
O projeto será desenvolvido pela área de atuação Programa Infância, Adolescência e Juventude (PIAJ) da Cáritas Nordeste 2 e prevê a formação de redes de jovens, capacitações em direitos humanos, criação de centros de mediação de conflitos e ações de incidência política.
Ainda como proposta de atividades a promoção de encontros com famílias, campanhas públicas e articulação com órgãos do poder público e da justiça.
“A gente acredita que promover a cultura de paz é também criar oportunidades para que adolescentes e jovens se sintam ouvidos, respeitados e protagonistas das transformações em seus territórios”, afirma Mona Mirella, assessora do PIAJ da Cáritas Brasileira NE2.
Antes do lançamento, o projeto promoveu uma pesquisa, realizada nos bairros, para entender a percepção da população sobre a violência, os desafios locais e o papel da juventude.
Entre os resultados, foi possível descobrir que 74% dos jovens sentem-se pouco ou nada seguros em seus territórios e que 93% deles não conhecem ações de prevenção à violência juvenil em sua comunidade ou escola.
A pesquisa ouviu mais de 1.500 moradores e teve uma característica especial: foi conduzida por jovens das próprias comunidades, em uma abordagem do tipo “jovem ouvindo jovem”, o que gerou mais confiança, escuta sensível e envolvimento da juventude.
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O projeto Juventudes pela Cultura de Paz conta com a parceria Cáritas Alemã, também é realizado em outros dois estados brasileiros: na Paraíba, pelo Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM NE); e no Ceará, pela Cáritas Regional Ceará. A expectativa é que ele atue como ferramenta de transformação social, fortalecendo o protagonismo juvenil e promovendo uma cultura de paz nas comunidades.
Violência naturalizada
A pesquisa que antecedeu o lançamento do projeto no Recife revela uma percepção generalizada de insegurança, ausência de políticas públicas e naturalização da violência.
Para 70% dos moradores do Morro da Conceição, Alto José Bonifácio, Alto do Brasil, Linha do Tiro e Brejo da Guabiraba, a violência já faz parte do cotidiano. Entre os jovens de 14 a 29 anos, 74% afirmaram sentir-se pouco ou nada seguros em seus territórios.
A maioria dos entrevistados vê os jovens tanto como principais autores (89%) quanto como principais vítimas (87%) da violência.
Além disso, 93% dos moradores disseram não conhecer ações de prevenção à violência juvenil em suas comunidades ou escolas, e apenas 2% dos estudantes relataram a existência de processos estruturados de mediação escolar.
No ambiente escolar, as formas de violência mais citadas foram bullying, racismo e LGBTfobia.
A confiança nas instituições de segurança pública também se mostrou abalada: 34% dos moradores da capital disseram não confiar em nenhuma força policial, número que chega a 74% no bairro da Linha do Tiro.
“Embora muitas pessoas saibam identificar violências de gênero, racial ou policial, a maioria ainda não sabe como denunciar essas violações, o que revela uma desconexão preocupante entre os direitos garantidos por lei e o acesso real à justiça nas comunidades. Esse cenário reforça a urgência de implementar ações consistentes e participativas, que fortaleçam o protagonismo juvenil, articulem redes comunitárias de apoio e disseminem uma cultura de paz”, finaliza Mona Mirella.