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meio ambiente

Catadores, na linha de frente da luta contra a poluição por plásticos

Estima-se que entre 20 e 34 milhões de pessoas trabalhem como catadores em todo o mundo

Uma instalação de arte retratando o interior de uma baleia forrada com resíduos plásticos é vista em Busan em 25 de novembro de 2024Uma instalação de arte retratando o interior de uma baleia forrada com resíduos plásticos é vista em Busan em 25 de novembro de 2024 - Foto: Anthony Wallace / AFP

Enquanto os diplomatas negociam as portas fechadas, em Busan, um tratado para frear a contaminação por plásticos, os catadores, que trabalham dia após dia nos lixões, coletando e classificando itens descartados, lutam por reconhecimento.

Estima-se que entre 20 e 34 milhões de pessoas trabalhem como catadores em todo o mundo, desempenhando um papel crucial na recuperação de material reciclável.

“Estamos em todo canto”, disse à AFP María Soledad Mella Vidal, uma catadora chilena de 54 anos.

“Não temos o financiamento, não temos a capacidade de infraestrutura, não temos o maquinário (...), mas nos sentimos extremamente orgulhosos porque acreditamos que estamos dando uma contribuição real”, acrescenta a mulher.

Representantes de mais de 170 países negociam em Busan, na Coreia do Sul, um acordo histórico para evitar contaminação por plásticos.

Atualmente, apenas 9% dos plásticos são reciclados em todo o mundo. Mais da metade, graças aos catadores.

R$ 18 por dia 
Johnson Doe, de 39 anos, virou catador aos 16 em Acra, Gana. “Não encontrei nenhum trabalho formal, então a única forma de ganhar a vida era ir ao lixão”, conta.

A cada dia ele espera a chegada dos caminhões de lixo a um dos depósitos da cidade e coleta de itens recicláveis, que em seguida vende para um intermediário.

Sua renda média é equivalente a R$ 18,00, o "suficiente para viver".

Depois de 23 anos neste ofício, o plástico não tem mais segredos para ele.

"Isso é PET [Tereftalato de Polietileno]. Isso é polipropileno de alta densidade. A etiqueta é de polipropileno não reciclável", explica, enquanto examina uma garrafa d'água.

“Gosto do meu trabalho, mas precisamos de integração, respeito e inclusão”, afirma.

María Soledad não trabalha em lixões, mas nas ruas. Todas as manhãs, ela acorda às 05h, para chegar antes dos caminhões de lixo. Depois, em casa, classificou os resíduos que catou.

“Nenhuma máquina pode substituir a relação entre o catador e a destruição”, afirma. "Um prego ou um pedaço de vidro pode parar uma máquina. Nada pode nos impedir", garante.

Ela também se tornou uma especialista em plásticos e defendeu a proibição de embalagens de uso único.

Em 2022, uma resolução da ONU admitiu a “importante contribuição” destes trabalhadores na luta contra a contaminação por plásticos.

Mas agora quero ver este reconhecimento escrito no tratado negociado em Busan, o que abriria o caminho para o reconhecimento legal da profissão.

“Muita gente tem preconceito conosco. Pensamos que somos delinquentes ou dependentes químicos”, lamenta María Soledad.

América Latina, "na vanguarda" 
A vida de um catador às vezes não vale muito.

Em 1992, na Colômbia, ocorreu o caso de 11 catadores mortos a tiros por segurança em Barranquilla. Seus corpos foram vendidos para uma faculdade de medicina. Um sobrevivente, que conseguiu escapar milagrosamente, alertou a polícia.

Este crime chocou toda a Colômbia e marcou o início de um movimento unificador. O 1º de março, dia em que a chacina de Barranquilla foi descoberta, se tornou o Dia Mundial dos Catadores.

Desde 2022, a Aliança Internacional de Catadores, que tem 460.000 membros, leva as suas reivindicações ao nível internacional.

"O movimento de catadores latino-americanos esteve na vanguarda", explica Patrick O'Hare, professor da Universidade de St Andrews (Escócia) e especialista no tema.

“Mais recentemente, surgiu um forte movimento na África. Também na Índia há organizações muito poderosas, a maioria dirigida por mulheres”, explica.

Os trabalhadores reivindicam, entre outras coisas, uma melhor cobertura de saúde, uma prioridade nesta profissão, na qual se expõem frequentemente a substâncias tóxicas.

“Não contamos com o apoio dos governos”, queixa-se Johnson Doe. Mas "se um tratado menciona os catadores, então teremos uma existência legal".

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