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ESTADOS UNIDOS

CIA oferece incentivos para demissão voluntária para funcionários; indicado de Trump também fala

Novo chefe da agência diz que decisão faz parte dos esforços para garantir que a força de trabalho da organização esteja alinhada com as prioridades de Trump

Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, a CIAAgência Central de Inteligência dos Estados Unidos, a CIA - Foto: Larry Downing/Reuters

A Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) ofereceu na terça-feira pacotes de desligamento voluntário para reduzir seu quadro de funcionários. A iniciativa faz parte do esforço do presidente americano, Donald Trump, para reduzir o tamanho do governo federal e moldá-lo de acordo com a sua agenda, reforçando o foco da CIA em prioridades estratégicas para a nova administração republicana, como a China.

Como parte da oferta enviada aos funcionários, aqueles que aceitarem poderão receber salário e benefícios até 30 de setembro mesmo sem precisar trabalhar. Ainda não está claro quantas pessoas aceitarão a proposta, já que a retenção de funcionários na CIA é alta e muitos permanecem na agência por décadas. Até então, a medida não tinha sido aplicada para a maioria dos cargos de segurança nacional, em reconhecimento à sua importância para o país.

O indicado de Trump para chefiar a CIA, John Ratcliffe, no entanto, decidiu pessoalmente incluir a agência no programa, segundo fontes ouvidas pela CNN. Em comunicado, a agência declarou que a medida faz parte dos esforços de Ratcliffe para “garantir que a força de trabalho da CIA esteja alinhada com as prioridades de segurança nacional da nova administração”, e é “parte de uma estratégia para revitalizar a agência”.

Apesar de a oferta ter sido enviada a todos os funcionários, não está claro se todos poderão aceitá-la. Áreas e funções devem ser restringidas, segundo uma das fontes ouvidas pela rede americana, o que sugere que a diretriz será menos abrangente do que nos órgãos civis sem atuação em segurança nacional. Além disso, Ratcliffe quer gerenciar o momento em que os agentes de setores estratégicos poderão deixar seus cargos.

Mudanças estruturais
O interesse geral na oferta de demissão parece ser baixo, segundo consultores de carreira especializados em funcionalismo público ouvidos pelo Wall Street Journal (WSJ). Segundo eles, muitos dos trabalhadores têm dúvidas sobre se podem legalmente aceitar outro emprego durante o período de pagamento — ou se poderão voltar ao governo em uma futura administração. A oposição democrata vê a medida como arriscada.

"Não vejo nenhuma base legal para o presidente fazer essa oferta", disse o senador democrata Tim Kaine, que representa milhares de servidores federais e afirmou que nenhum de seus eleitores manifestou interesse no acordo.

[Ao aceitar a proposta], a administração saberá que você não quer trabalhar para ela. Eles encontrarão outra maneira de se livrar de você. Você não deve se voluntariar para isso.

Alguns integrantes da equipe de segurança nacional do líder republicano acreditam que, nos últimos anos, a CIA tem se concentrado na análise de informações em detrimento da coleta clandestina de inteligência e da realização de operações secretas — atividades conduzidas pela muito menor Diretoria de Operações da agência. Durante sua audiência de confirmação, em janeiro, Ratcliffe prometeu que reforçaria ambos os setores, publicou a rede americana CNN.

"Aos bravos agentes da CIA que nos ouvem ao redor do mundo: se isso tudo soa como algo que vocês se inscreveram para fazer, então apertem os cintos e estejam prontos para fazer a diferença", disse Ratcliffe aos parlamentares. Se não, então é hora de buscar outra profissão.

Novas prioridades
A CIA sob a administração Trump deverá ter um foco maior no Ocidente, mirando países que tradicionalmente não são considerados adversários dos Estados Unidos, segundo fontes ouvidas pelo WSJ. A agência usará espionagem, por exemplo, para dar a Trump uma vantagem extra em suas negociações comerciais, possivelmente monitorando o governo do México em meio às disputas comerciais que estão em andamento.

A agência também deverá ter um papel significativo no combate aos cartéis de drogas mexicanos, que Trump designou como organizações terroristas em seu primeiro dia no cargo. Embora a presidente do México, Claudia Sheinbaum, tenha anunciado na segunda-feira que chegou a um acordo com Trump para suspender as tarifas elevadas contra seu país, a medida deve durar somente 30 dias. Ainda não se sabe o republicano fará depois desse período.

Por décadas após a sua criação, a CIA esteve focada na rivalidade dos EUA com a União Soviética. Depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, no entanto, a agência transformou grande parte de seu trabalho em uma força paramilitar secreta capaz de eliminar terroristas com drones, publicou o Wall Street Journal. Nos últimos anos, a agência voltou a centrar seus esforços em países como a China, considerada como a maior ameaça de longo prazo aos Estados Unidos.

Ainda não está claro se outras agências de inteligência seguirão o exemplo e oferecerão pacotes de desligamento. Na terça-feira, o Comitê de Inteligência do Senado aprovou por uma margem estreita a indicação de Tulsi Gabbard para ser a diretora de inteligência nacional de Trump — cargo que supervisiona as 18 agências e departamentos de inteligência do país —, mas sua confirmação pelo plenário do Senado ainda não ocorreu.

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