Caso Lorena

Clínica onde Lorena foi atendida assume que ela foi deixada sozinha e sedada, inalando fumaça

A pernambucana, uma mulher trans, tinha ido a São Paulo para colocar silicone

Lorena MunizLorena Muniz - Foto: Reprodução Instagram

A pernambucana Lorena Batista Muniz, 25 anos, morreu em decorrência de inalação de fumaça em um incêndio no centro da cidade de São Paulo, nesse domingo (21). A clínica Saúde Aqui, onde seria realizada uma cirurgia para colocar silicone em Lorena, informou que a cirurgia estava sendo realizada por duas idosas, que saíram do local assim que a fumaça começou a tomar conta da sala. 



A pernambucana, uma mulher trans, tinha o sonho de colocar silicone nos seios. Durante a cirurgia, na quarta-feira (17), um incêndio atingiu a clínica onde era realizado o procedimento, e Lorena foi deixada sozinha, sedada, inalando fumaça. Seu marido e amigos denunciam negligência. 

Registro da Polícia Civil afirma que o incêndio começou após uma explosão, ocorrida enquanto técnicos da Enel Distribuição São Paulo faziam a manutenção da rede elétrica, na rua da Glória. Um dos funcionários da concessionária, ainda segundo a polícia, correu até a clínica perguntando onde estaria a chave geral, com o intuito de a desligar, logo após a explosão.

Ao constatar o incêndio, o técnico teria saído do local, segundo moradores da região, deixando um cone da empresa para trás, que permanecia no local até esta segunda-feira (22). 

A concessionária de energia nega "qualquer relação com o incidente". "A distribuidora não possuía qualquer serviço em andamento no local e no horário informados pela reportagem", afirma trecho de nota.

A Polícia Militar chegou em seguida à clínica, impedindo que pessoas entrassem no local, por medida de segurança. Lorena só foi socorrida após a chegada dos bombeiros, minutos depois. Ela estava inconsciente desde antes da explosão, por causa da cirurgia, e passou minutos desacordada inalando a fumaça que ocasionou sua morte. Ainda no domingo, ela foi encaminhada em estado grave ao Hospital das Clínicas, onde morreu. 

A clínica Saúde Aqui afirmou à reportagem na tarde desta segunda-feira, por meio de seu departamento jurídico, que uma cirurgiã e uma anestesista, ambas idosas, haviam iniciado o procedimento para a colocação de duas próteses mamárias em Lorena quando o incêndio teve início.

"A distância entre a origem do fogo e a sala de cirurgia era de cinco metros. Por isso, uma forte fumaça preta invadiu rapidamente o ambiente, obrigando as médicas a saírem rapidamente do local", afirmou a empresa.

Questionada pelo fato de ninguém ter socorrido Lorena, a empresa afirmou que dois auxiliares de enfermagem, que ajudaram as duas médicas a saírem da clínica, foram impedidos de retornar ao prédio pela PM.

"No desespero, eles ajudaram as médicas, pensando em retornar para auxiliar a jovem. Pode ser que não tenham tido a atitude correta [deixando Lorena inconsciente na sala], mas que era necessária por uma questão de sobrevivência [por conta da forte fumaça que invadia o prédio]", afirmou o jurídico da clínica.

A empresa acrescentou estar em contato com a família de Lorena, garantindo que irá arcar com todos os gastos necessários para o traslado do corpo, assim como sepultamento da jovem, além de dar todo apoio necessário.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que o 1º DP (Sé) investiga "todas as circunstâncias da ocorrência", por meio de Inquérito Policial
.
Testemunhas já foram ouvidas, acrescentou a pasta, e laudos periciais são elaborados para indicar as causas do incêndio e para "determinar se houve negligência dos profissionais [da clínica], que acabou culminando com a morte da mulher", diz trecho de nota.

Em uma publicação do Instagram, Washington Barbosa, conhecido como Tom Negro, marido de Lorena, questionou "Quantas mais teriam que morrer ?" e afirmou que não deixará a morte de Lorena passar em vão.

Erica Malunguinho, deputada estadual de São Paulo, salientou, em seu Instagram, que a morte de Lorena não pode ser enxergada como um fato isolado. "O caso da jovem Lorena não pode ser tratado como um fato isolado e deve ser interpretado à luz do direito à atenção integral à saúde das pessoas trans, que deve contemplar todas as suas necessidades, garantindo o acesso sem qualquer tipo de discriminação", publicou. 

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