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RIO DE JANEIRO

Corpo exumado de enteada supostamente envenenada por madrasta passa por perícia inovadora

Técnica que detecta substâncias na fauna cadavérica será usada pela primeira vez pela Polícia Civil num caso de investigação sobre envenenamento

Jane Carvalho ao lado da flha, FernandaJane Carvalho ao lado da flha, Fernanda - Foto: reprodução

O corpo da estudante Fernanda Carvalho Cabral, de 22 anos — morta após ter sido supostamente envenenada pela madrasta — passa por uma perícia inovadora para detectar substâncias tóxicas.

A fauna cadavérica, colhida após a exumação, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio, no último dia 26, está sendo analisada nos laboratórios de Entomologia Forense e Toxicologia Forense, ambos no Instituto Médico Legal (IML), no Centro da cidade. O resultado do exame deve ficar pronto na próxima segunda-feira, dia 6.

De acordo com a perita Denise Rivera, assessora Técnica Especial da Secretaria da Polícia Civil, a técnica será utilizada pela primeira vez em casos de investigações sobre envenenamentos no Rio. Os profissionais, após coletar as amostras, colocam reagentes para descobrir por qual substância houve contaminação.

Segundo o inquérito da 33ª DP (Realengo), Fernanda deu entrada no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em 15 de março e morreu 12 dias depois. Ela foi hospitalizada após passar mal na casa em que o pai, Adeílson Cabral, morava com a mulher, Cíntia Mariano Dias Cabral. A jovem caiu no chão do banheiro, e ficou encharcada de suor, com dificuldade para respirar, a língua enrolada e a boca tomada por espuma.
 

Sem diagnóstico, a estudante não respondeu ao tratamento e morreu na unidade de saúde. Em seu atestado de óbito consta que ela foi vítima de falência múltipla dos órgãos em decorrência de causas naturais. Sem indício de crime, o corpo dela não foi submetido a necropsia.

O irmão de Fernanda, o também estudante Bruno Carvalho Cabral, de 16 anos, também passou mal em circunstâncias semelhantes, em 15 de maio, também na casa da família. Durante o almoço, ele reclamou que o feijão estava com gosto amargo e o colocou no canto do prato. Cíntia então levou o prato de volta a cozinha e colocou mais comida.

Após a refeição, o estudante foi deixado na casa da mãe, Jane Carvalho Cabral, que ligou então  para o ex-marido contando dos sintomas apresentados pelo filho. Levado também ao Albert Schweitzer, o jovem foi submetido a uma lavagem gástrica e teve a intoxicação exógena diagnosticada pela equipe médica.

À mãe, o estudante relatou ter passado mal justamente após ingerir “umas pedrinhas azuis que estavam no feijão” e contou que, ao servir seu prato, a madrasta teria apagado a luz da cozinha “como se estivesse escondendo algo”. Aos policiais, Cíntia disse que as tais “pedrinhas” eram um tempero de bacon que não havia dissolvido na comida. O exame do IML detectou os materiais em exame feito no estômago de Bruno, mas não conseguiu atestar a presença de inseticidas ou outras substâncias tóxicas no material analisado.

Presa temporariamente por tentativa de homicídio contra Bruno, Cíntia nega, por meio de seus advogados, que tenha cometido o crime. De acordo com as investigações, os envenenamentos teriam acontecido por ciúmes que a madrasta nútria da relação do companheiro com seus filhos biológicos. Ela ainda é investigada ainda pela morte do ex-namorado, o dentista Pedro José Bello Gomes, em 2018; e de um vizinho, o representante farmacêutico Francisco das Chagas Fontenele, em 2020.

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