Crise leva 4,1 milhões à pobreza [NÃO LIBERAR]
Percentual de pessoas pobres cresceu 22% no Brasil em 2015, ano de retração econômica, de acordo com estudo publicado pelo Ipea
Em 2015, o Brasil viu o número de pessoas na pobreza crescer 22%, de acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Fundação João Pinheiro. Enquanto em 2014 o percentual de pobres estava no menor da história, 8,1% da população, no ano seguinte, chegou a 9,96%. Significa que a redução da renda levou 4,1 milhões de pessoas para a pobreza e, destes, 1,4 milhão para a extrema pobreza. Naquele ano, o Produto Interno Bruto (PIB) nacional registrou queda de 3,8 - a maior em 25 anos.
Vale lembrar que pobres são aqueles cuja renda domiciliar é inferior a ¼ do salário mínimo (na época, R$ 510; logo, R$ 127,5). Importante ressaltar ainda que a renda per capita em 2015 caiu, em relação a 2014, de R$ 803,36 para R$ 746,84. Já os extremamente pobres são aqueles indivíduos cuja renda domiciliar per capita é de até R$ 70, nas considerações do Ipea, e cresceram de 3,01% para 3,63% da população. O mesmo movimento, de aumento dessa parcela, já havia sido detectado em 2013.
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Os dados mostram um retrocesso no combate à pobreza no País, visto que entre os anos de 2000 e 2010, o percentual de pobres havia passado de 27,9% para 15,2% do total de brasileiros. E a crise econômica teve reflexo na renda, porque entre 2014 e 2015, a renda média dos pobres caiu de R$ 154 para R$ 150.
Segundo o pesquisador do Ipea Marco Aurélio Costa, os números já eram esperados por causa do desemprego. O Radar IDHM é um levantamento que atualiza o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, produzido a cada dez anos, com base nas publicações dos censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Ainda sem números
“Tudo o que a gente tem para monitorar é a renda, se a pobreza está aumentando ou diminuindo. Ainda não temos dados recentes, mas é muito provável que a gente esteja assistindo um agravamento da pobreza e da desigualdade de renda”, disse o professor da UFPE e doutor em Economia, Raul Silveira Neto, à reportagem do Portal FolhaPE no Especial Fome publicado no último fim de semana.
Uma casa em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife, mostra o que os dados ainda não atualizaram: a queda da renda fez a fome crescer com força. Lá, um homem vive com seis filhos menores de idade e nem todos estão na escola, então o subsídio do Bolsa Família não contempla como poderia.
De cabelos loiros e desgrenhados, Bianca tem apenas seis anos e vive, com os irmãos, a escassez de alimentos. Sentada na frente de casa, ela corta salsichas dentro de uma panela. Ao lado, um gato assiste à cena de perto, quase com a cabeça dentro do recipiente. A irmã mais velha, Deise, 19, diz que aquele é o almoço daquele dia, com cuscuz.
Beatriz, 12, se aproxima. É ela que está fora da escola “porque não tem vaga”. É rechonchuda, tem bochechas tão redondas que deixam sua boca pequena. A pele é oleosa e cheia de erupções. Mesmo que se tente encaixá-la no velho estereótipo de que criança “gordinha” é criança saudável, está na cara que ela tem problemas de saúde. A pele não tem viço, apesar da pouca idade; a obesidade é explícita. E obesidade, na maioria dos casos, é indício de fome.
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