Dom, 07 de Dezembro

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CRIME ORGANIZADO

CV e PCC compartilham rotas no Norte do Brasil, diz secretário do Rio: "Não podemos ser ingênuos"

Relação com a região do país também se destaca por comunidades cariocas abrigarem chefes de outros estados

Victor César Santos, secretário estadual de Segurança Pública, durante coletiva de imprensaVictor César Santos, secretário estadual de Segurança Pública, durante coletiva de imprensa - Foto: Mauro Pimentel/AFP

Dos 117 mortos, considerados suspeitos pela polícia do Rio, 99 deles foram identificados. Do total, 40 são de outros estados, como treze do Pará e outros sete do Amazonas. As relações do Comando Vermelho (CV) com o Norte do país vão além do abrigo para chefes da facção.

O secretário de Segurança Pública, Victor César Santos, comentou durante uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira que rotas por rios da região são usadas pelo grupo criminoso para transportar drogas e armas, até em parcerias com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

"Já evidenciamos a relação de negócios entre o Comando Vermelho e o PCC. A gente não pode ser ingênuo de achar que eles não compartilham essas rotas do Norte para efeito de entrada não só de drogas, principalmente a cocaína, mas também o contrabando de armas", disse Victor César.

"Se nós aqui no Sudeste temos dificuldade muito grande em relação às nossas rodovias, imagine o Norte, com a quantidade de rios e afluentes, onde embarcações conseguem passar com muita facilidade devido à dificuldade de fiscalização".

Uma operação contra o CV em maio de 2024, por exemplo, tentou desmantelar a estrutura criminosa da facção, que permitia a comercialização de armas e drogas. Na ocasião, foi detalhado que as drogas, assim como armamento oriundo do leste europeu, entram no país através da fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, respectivamente no encontro das cidades de Tabatinga (AM), Letícia e Santa Rosa de Yavarí, e se utilizam da chamada Rota do Solimões, que percorre o rio de mesmo nome para chegar a Manaus.

Da capital amazonense, os produtos ilegais — por meios que não têm um padrão, podendo ser de carro ou de caminhão, por exemplo — percorrem o Centro-Oeste brasileiro até Minas Gerais e, em seguida, Rio de Janeiro.

Ainda durante a coletiva, em que foi divulgado um balanço da operação de terça-feira, outro secretário presente, Felipe Curi, titular da pasta de Polícia Civil, definiu os complexos do Alemão e da Penha como bases do CV, a nível nacional.

"Os complexos da Penha e do Alemão, até aquela ocupação de 2010, eram o QG (quartel-general) do Comando Vermelho apenas aqui no estado do Rio de Janeiro. Essa constatação de hoje mostra que os complexos da Penha e do Alemão passaram a ser o QG do Comando Vermelho em nível nacional", disse Curi.

"São desses complexos que partem todas as ordens, decisões e diretrizes da facção para todos os outros estados onde o Comando Vermelho tem atuação, praticamente em todos os estados do Brasil".

Curi afirmou ainda que os dois conjuntos de favelas se tornaram bases de treinamento de manuseio de armamento, com papel central na cooptação de criminosos de fora do estado. Segundo o secretário, esses forasteiros são "formados" no Rio e, posteriormente, retornam para seus estados de origem para implementação da cultura do CV nesses locais.

Ainda em suas falas, o secretário afirmou que, atualmente, os policiais atuam em algo que "já não é mais um trabalho de polícia". Para ele, "polícia nenhuma do mundo faz o que as polícias do Rio de Janeiro fazem".

Entre os números da operação, constam ainda 113 pessoas presas, e 10 adolescentes apreendidos: desse todo, 33 são de outros estados, e 54 têm anotações criminais. Todos os presos, segundo o secretário, tiveram prisão preventiva decretada na audiência de custódia.

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