Debate feminista da GQ Brasil na Dona Santa surpreendeu
A loja, na Zona Sul do Recife, ficou lotada, segunda (26), para o projeto da revista, que trouxe Antonia Pellegrino e Bruna Linzmeyer para a cidade
A Dona Santa ficou lotada, segunda (26), para o debate feminista que a GQ Brasil armou em parceria com Juliana Santos. Com uma plateia predominantemente feminina, as convidadas especiais, a ativista Antonia Pellegrino e a atriz Bruna Linzmeyer, falaram sobre igualdade de gênero em papo mediado pelos jornalistas Daniela Falcão e Ricardo Cruz.
A conversa foi das mais ricas, principalmente pela interação do público. Em pauta, também, o processo que levou à execução do projeto da revista, que se apresenta como uma publicação destinada aos homens, e que, pela primeira vez, ousou em tocar no assunto, dedicando todas as suas capas de março a mulheres representativas do Brasil - Taís Araújo, Camila Pitanga, Leandra Leal e a própria Bruna. A ideia foi levar os homens a refletirem sobre o assunto e criar um pequeno guia para que eles entendam, de uma vez por todas, como não devem mais agir.
Para muitas ali aquele foi o primeiro debate sobre feminismo do qual participaram, e está aí o lado mais positivo da coisa toda. Mulheres feministas encontraram, na ocasião, outras que não se dizem, mas que também são “militantes”, ainda que discretas, da causa. Juliana Santos, aliás, citou a mãe, Lília, como exemplo. “Dona Lília, cadê a senhora?”, procurou entre o público. Logo identificada, a matriarca da família Santos virou o centro das atenções. “Ela sempre foi empreendedora, essa atitude na minha casa sempre foi uma realidade”, lembrou Juliana, afirmando que a mãe nunca se disse feminista, mas que tinha todas as características.
Antonia brilhou no debate. Ora indagada por Daniela, ora pela plateia, a militante conduziu a conversa com muita calma e paciência. Fez questão de esclarecer cada ponto do movimento, e de falar, entre outras coisas, sobre a força maior do feminismo: a igualdade de direitos entre homens e mulheres. “A gente quer uma reconexão entre homens e mulheres que seja harmônica para ambos os lados, porque também tem muito homem incomodado sobre aquelas exigências sobre quem eles devem ser. E eu acho que a GQ é um espaço que baliza muito o estereótipo de um certo homem poderoso. Então tinha uma reflexão sobre que homem é este, que a gente quer poder falar e como a gente quer falar de feminismo para eles, para que eles possam ser aliados nessa história”, comentou.
Antonia Pellegrino falou da importância de almejar a igualdade de direitos entre homens e mulheres - Crédito: Gustavo Gloria
O debate funcionou para quem não entende muito bem o que é feminismo, que ouve pouco ou que tem acesso a uma forma deturpada do que é o movimento. Na sua fala, Daniela explicou que não foi fácil achar o tom para chegar até o público-alvo da revista, mas que, depois de conversas com Antonia, tudo foi se encontrando, e o processo foi dos mais ricos. Os exemplos foram os mais diversos, vindos dos convidados ou da plateia.
A atriz Bruna Linzmeyer comentou o que faz para treinar o seu olhar em relação ao feminismo - Crédito: Gustavo Gloria
Bruna referiu-se a um exercício constante que tem mudado muito das suas atitudes. “Eu sempre fico pensando: se, nesta situação, ao invés de ser uma mulher, fosse um homem, como seria?”, comentou. E convidou todos a fazerem o mesmo. Foi clara, no entanto, ao afirmar que, nem sempre, dá para levar as coisas com paciência. “São anos de opressão”, ressaltou.
Nos comentários da plateia, uma opinião foi unânime: ali, estavam mulheres privilegiadas, com acesso a informações e em condições que só uma pequena parte da população feminina brasileira vive. As mensagens giraram em torno do quanto as que estavam ali poderiam fazer para mudar a realidade de outras brasileiras, principalmente das mulheres negras de periferia, que provam da pior face do machismo, que mata, estupra e tolhe das formas mais violentas.
“Uma sementinha foi plantada”, afirmou Daniela, e não minimizando o passo da revista, mas, sobretudo, como uma medida que pode definir os próximos caminhos da publicação. Ricardo citou a filha, de 15 anos, que sempre o “cutuca” em relação a essas questões, mostrando vídeos e alertando para urgências femininas. Também comentou toda a negatividade que o machismo carrega. “Parece muito pequeno você interromper uma mulher durante uma conversa. Parece pequeno você achar que aquela mulher não entende tanto de futebol como você acha que sabe. Mas isso, somando a ações que você tem no dia a dia, vai configurar algo muito nocivo”, pontuou.
Ricardo Cruz falou do quanto o feminismo pode ser importante também para os homens - Crédito: Gustavo Gloria
Pelo evento circularam muitas figuras conhecidas da nossa Cidade: as médicas Angelina e Renata Miranda, a advogada Gisela Martorelli, a DJ Lala K, Murilo Cavalcanti, Túlio Gadêlha, Tico Melo e muitos outros nomes. Sarah Falcão comandou as picapes no começo da noite, e Larissa Lisboa cantou durante o coquetel pós-debate!