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Edifício Kátia Melo

Desabamento em Jaboatão: "Condomínio não tem condições de arcar com demolição", diz administradora

Moradores pagavam taxa de condomínio referente a R$ 335

Edifício Kátia Melo desabou na terça-feira (6)Edifício Kátia Melo desabou na terça-feira (6) - Foto: Walli Fontenele/Folha de Pernambuco

A administradora do Edifício Kátia Melo, em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, Silvia Maria, afirmou, durante entrevista à Folha de Pernambuco, que o condomínio do prédio não tem condições financeiras de arcar com a demolição de parte da estrutura que ficou de pé, após o desabamento parcial do local.

Desde 2017 que ela está responsável administrativamente pelas tratativas do Kátia Melo e afirmou que vai entregar um relatório à Defesa Civil de Jaboatão, assinada por um engenheiro que teria dito que não há possibilidade de reaproveitamento do que restou.

“A gente vai fazer o levantamento de empresas, mas o condomínio não tem condições de arcar com a demolição. Então, a gente vai pedir a acessibilidade da prefeitura para ver o que podemos fazer pelo Kátia Melo”, frisou ela.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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O condomínio, ainda segundo o que explica Silvia, não tinha condições financeiras para pagar serviços de limpeza ou vigilância. Cada família pagava R$ 335 de taxa condominial para benfeitorias, calculada de acordo com o poder aquisitivo dos proprietários.

Ela se limitou apenas a dizer que o condomínio ainda possui dinheiro em caixa e reconhece que os moradores estão em estado de choque, depois de tudo que aconteceu.

“O relatório conterá informações técnicas do imóvel, que é um prédio-caixão construído há 45 anos e que não há possibilidade de recuperação. Nem engenheiro e nem Defesa Civil sabem o que, de fato aconteceu. É uma coisa que ainda vamos investigar”, continua.

Moradores teriam removido paredes?
Vídeo que tem circulado nas redes sociais mostra o momento da interdição do prédio, no domingo (4), e um homem exibe pedaços de cerâmicas no chão e tijolos expostos.

Segundo ele, um morador do terceiro andar teria removido uma parede que dividia quarto e sala, para ampliar esta última. Isso teria sobrecarregado as paredes dos extremos, uma vez que o prédio não possuía vigas ou estruturas de segurança. 

“Meu contato com os moradores era apenas profissional. Eu te garanto que na minha gestão não houve essa questão de derrubar paredes. Se tivesse havido, teriam que me informar. Pode ter acontecido em gestões anteriores, mas isso eu não posso informar”, acrescentou.

Edifício Kátia MeloEscombros do prédio que desabou em Jaboatão | Foto: Walli Fontenele/Folha de Pernambuco

Serviço no edifício
Há dois meses, de acordo com Silvia, foi realizada a lavagem da fachada do prédio. Estava com mofo. Os trabalhadores que fizeram o serviço aplicaram hipermeabilizante nas paredes.

“Passaram hipermeabilizante para proteger do inverno. Mas lá eu não tinha uma reclamação de infiltração. Eu garanto ainda que onde tinha caixa de esgoto e cisterna não tinha uma rachadura sequer. Por isso que a gente ficou de ‘boca aberta’”, finalizou.

O que são os prédios-caixão?
O Kátia Melo era um prédio-caixão. Além do térreo, possuía três andares. Eram 16 apartamentos.

O que diferencia um prédio-caixão de outro tipo de edificação é, basicamente, o fato de usar alvenaria resistente na função estrutural do prédio, ou seja: no lugar de vigas e pilares, são as próprias paredes da edificação que sustentam a estrutura.

Esse tipo de imóvel se popularizou nos anos 1970, especialmente entre as classes de menor poder aquisitivo – devido ao baixo custo, sendo uma “solução” para um profundo déficit habitacional à época.

Há 20 anos, está proibida em Pernambuco essa técnica de construção. Isso porque foi constatado que o modelo não apresentava condições de durabilidade e resistência ao longo do tempo.

Problema crônico
O histórico mostra que, de 1977 até 2023, houve um total de 18 desabamentos de prédios-caixão, resultando em 54 mortes.

Só em 2023, foram registrados dois desabamentos com mortos: o Edifício Leme, em Olinda, que ruiu após interdição, chegando a vitimar fatalmente seis pessoas; e o bloco D-7 do Conjunto Beira Mar, em Paulista, que desabou parcialmente, provocando a morte de 14 pessoas.

Veja o momento em que o prédio desabou:

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Riscos de desabamento de prédios-caixão: ouça o podcast

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