Logo Folha de Pernambuco

Notícias

Dois acusados da morte do médico Artur Eugênio vão a júri popular

Julgamento de Cláudio Amaro Gomes Júnior e Lyferson Barbosa da Silva deve durar sete dias

Um Homem Chamado Ove Um Homem Chamado Ove  - Foto: Divulgação



O primeiro dia do julgamento de Cláudio Amaro Gomes Júnior e Lyferson Barbosa da Silva, dois dos cinco acusados pelo assassinato do médico Artur Eugênio de Azevedo Pereira, foi marcado por emoção. A sessão, realizada no Fórum de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife, foi reservada às ouvidas das quatro testemunhas - duas arroladas pelo Ministério Público de Pernambuco, uma pela defesa e outra pelo assistente de acusação -, além da declaração de três peritos. Um dos depoimentos mais aguardados era o da esposa de Artur, a médica Carla Rameri Azevedo. A viúva, que chorou durante toda a declaração, fez revelações da convivência conflituosa do marido com o médico Cláudio Amaro Gomes.

Carla, que foi a primeira a falar, solicitou à juíza Inês Maria de Albuquerque que os réus deixassem o tribunal do júri. "É extremamente desagradável a presença deles aqui porque nós não tinhámos nenhuma relação com o filho de Cláudio e nem com Lyferson. Diante de tudo o que a gente passou, não me senti à vontade e nem achei necessário precisar enfrentá-los", relatou a viúva. A defesa de Cláudio Júnior é representada pelos advogados Luiz Miguel e Braz Batista dos Santos Neri. Já a de Lyferson é representada pelos advogados Ricardo Bezerra de Menezes e Janicete Paixão Goutard.

A médica contou que Artur e Cláudio se tornaram sócios e que o marido iria receber até 30% do valor dos procedimentos e trabalhos feitos. "Em 2010, eu e o meu marido estávamos morando em São Paulo e foi quando Cláudio fez o convite para Artur trabalhar em um hospital particular do Recife. Na época, a oferta foi tentadora, já que estávamos querendo voltar para o Nordeste", comentou a viúva. Carla também contou que o marido foi alertado para o perigo das atitudes do cirurgião e que, meses após firmada, a parceria foi rompida. "Um amigo de Artur disse que Cláudio 'era um homem perigoso'. Na época, ficamos sem entender. Artur acabou rompendo a parceria com Cláudio porque discordava da conduta dele como médico", revelou a viúva.

Segundo Carla, mesmo com o fim da sociedade, Artur e Cláudio continuavam trabalhando juntos no Hospital das Clínicas. "Cláudio era o chefe dele no HC. E, por conta disso, Artur chegava em casa deprimido e falava que Cláudio não deixava ele trabalhar. A situação se agravou ainda mais quando Cláudio deu notas baixíssimas a Artur, na avaliação do estágio probatório", comentou a médica. Ainda segundo ela, o marido decidiu processar Cláudio. "Ele disse que ia processar Cláudio por danos morais porque aquela situação mancharia a reputação dele como médico", revelou a viúva, que revelou que jamais imaginaria que Cláudio fosse capaz de planejar o crime.

O delegado da Polícia Civil Guilherme Caraciolo, que foi a segunda testemunhas a ser ouvida, informou que Cláudio Júnior foi ativo na execução e na destruição das provas. "Rastreamos todas as ligações e descobrimos todos os locais que Cláudio Júnior esteve no dia do crime. As impressões digitais dele foram encontradas no local onde o carro foi queimado. Ele aparece nas imagens das câmeras de segurança do hospital", comentou o delegado. Ainda segundo ele, Cláudio Gomes deu dinheiro ao filho para que ele pagasse aos outros envolvidos no crime. Lyferson recebeu R$ 13 mil e Flávio recebeu R$ 20 mil para matar o médico", finalizou. Ainda segundo o investigador, uma semana após Cláudio Júnior ser preso preventivamente, ele foi convidado pelo defensor do réu, Braz Neto, a fazer uma visita ao acusado no Cotel, em Abreu e Lima, para um conversa informal. Segundo Caraciolo, Cláudio revelou que Flávio Braz e Lyferson Barbosa estariam envolvidos no crime e que não havia feito a revelação na delegacia por medo. Porém, o delegado não documentou a ouvida do réu, o que gerou um embate com o defensor de Cláudio, Luiz Miguel dos Santos.

Cláudio Júnior será julgado por homicídio duplamente qualificado (por motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa da vítima) em concurso material com furto qualificado mediante fraude em comunicação falsa do crime e dano qualificado pelo uso de substância inflamável. Já Lyferson responderá por homicídio duplamente qualificado (por motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa da vítima) em concurso material com o crime de dano qualificado. A previsão é que o júri termine na próxima terça-feira (27).

Já Cláudio Gomes e Jailson Duarte César aguardam julgamento. Flávio Braz de Souza foi morto em uma troca de tiros com a Polícia Militar, em fevereiro de 2015.

Júri

Os pais de Artur Eugênio, Alvino Luiz e Maria Evanir, acompanham o júri junto com a viúva do cirurgião, Carla Azevedo, e outros amigos e familiares. Antes de entrar para a sessão o advogado de defesa comentou o caso: "Pretendemos trazer aos jurados a verdade. O cancelamento do julgamento desmarcado anteriormente foi por motivos de saúde e não uma tática da defesa. Vamos mostrar falhas gritantes na perícia e vou permanecer com apenas uma testemunha", afirma.

A promotora Dalva Cabral comentou as expectativas para o julgamento minutos antes do início: "Nós temos um acervo probatório amplo. Hoje é um dia importante porque serão ouvidas as testemunhas arroladas. Temos uma segurança imensa de que se fará justiça e hoje é o primeiro grande passo".

Investigações

O delegado Guilherme Caraciolo, responsável pelas investigações do caso, foi a segunda testemunha arrolada pelo MPPE a ser ouvida. Ele falou que, desde o começo, trabalhou com a hipótese de que a morte tivesse sido por desavenças profissionais, já que Artur Eugênio era muito querido por todos. Ele não descartou, no entanto, a hipótese de latrocínio, já que alguns pertences da vítima foram levados.

Caraciolo lembrou que soube das desavenças do médico com Cláudio Amaro Gomes. Ele explicou toda a dinâmica do crime: como rastreou as ligações telefônicas dos acusados, como conseguiu ver que Cláudio Jr esteve presente em todos os locais (Hospital das Clínicas, Hospital Português e no bairro da Guabiraba, onde o carro foi encontrado). Falou também da descoberta de que o pai deu dinheiro para que o filho contratasse o executor e um ajudante - eles teriam recebido, respectivamente, R$ 20 mil e R$ 13 mil.

A terceira testemunha arrolada pela acusação foi o perito Artur Jorge da Silva Lima, que foi contratado pela família de Artur Eugênio para acompanhar as perícias criminais do Instituto de Identificação Tavares Buril (IITB), que revelou a digital de Cláudio Jr no vasilhame encontrado na cena do crime. Ele falou que não há dúvida sobre a impressão de Cláudio Jr no objeto.

A última testemunha, desta vez relacionada pela defesa de Cláudio Jr, foi Flavison José da Silva Lopes. Ele dividia uma sala do escritório em que o réu trabalhava. Ele disse que emprestou cheques para Cláudio pagar débitos, mas afirmou que não sabe se os cheques foram emprestados na época do crime.

O primeiro dia do julgamento foi encerrado por volta das 21h30. A sessão será retomada nesta quinta-feira (22), às 9h.

Adiamento

O julgamento ocorreria no último dia 14, mas terminou sendo adiado após um dos advogados dos acusados apresentar um atestado médico.

Veja também

Moradores e comerciantes sofrem com apagão em SP: ''É um prejuízo que não sei nem calcular''
FORNECIMENTO

Moradores e comerciantes sofrem com apagão em SP: ''É um prejuízo que não sei nem calcular''

Líbano anuncia 15 mortos em bombardeios israelenses fora de redutos do Hezbollah
ATAQUE

Líbano anuncia 15 mortos em bombardeios israelenses fora de redutos do Hezbollah

Newsletter