Droga injetável semanal para diabéticos chega ao Brasil
Novidade, além de boas respostas em testes clínicos sobre a queda dos níveis de açúcar no sangue, também reduzirá drasticamente a ingestão diária de remédios
“De um ano para o outro minha glicose ficou bem elevada. Já se vão duas décadas, mas só agora os sintomas estão mais evidentes. Tenho que controlar a glicose diariamente. Tomo dois remédios de manhã e dois à noite. Mesmo assim é difícil controlar”. Esse é o relato de Fulvio Rego Barros, 67 anos, sobre a doença que o pegou de surpresa. Não só a dele, mas a de 415 milhões de pessoas no mundo e 14,3 milhões no Brasil, apenas em 2015. Diabetes tipo 2. Enfermidade que acomete um em cada 11 adultos no planeta e matou 5 milhões de pessoas devido as suas complicações. Para enfrentar esse cenário, uma nova terapia com apresentação injetável semanal a base de dulaglutida é a mais nova aposta dos médicos e esperança de qualidade de vida para os pacientes.
A droga foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) há cerca de um mês. Com duas apresentações de dosagem, o medicamento tem a apresentação de uma caneta. Se comparado com a terapia convencional com comprimidos antidiabetes ou a insulina, onde o paciente faz usos diários de medicações ao ano, com o novo medicamento são apenas 52 aplicações.
“Ele tem como principal ação a estimulação. Porque na diabetes tipo 2 você tem o pâncreas funcionando, só que a liberação de insulina não é adequada. É aí que dulaglutida atua, sobretudo no pâncreas, fazendo com que haja uma modulação de liberação de insulina de acordo com os níveis de glicose circulante”, explicou o endocrinologista e professor da Universidade Federal de Pernambuco, Ruy Lyra.
A dulaglutida é uma molécula agonista do receptor de GLP-1, hormônio produzido naturalmente pelo organismo, responsável por estimular a secreção da insulina e inibir a liberação do glucagon. A insulina é o hormônio sintetizado e excretado pelo pâncreas logo após as refeições. Sua função é retirar o excesso de glicose (açúcar) do sangue e enviá-la para as células, onde são armazenadas na forma de glicogênio.
Já o glucagon funciona de maneira oposta à da insulina: age no fígado, quebrando o glicogênio em glicose. Entra em ação quando o indivíduo fica longos períodos sem se alimentar e é responsável por elevar os níveis de glicose no sangue, gerando energia para o funcionamento do corpo. Seis estudos clínicos comprovaram a eficiência da dulaglutida, que além do controle da glicemia também proporcionou queda média de peso de 2,9 quilos nos pacientes. “Os principais ganhos que já verificamos foi o controle adequado da glicose, perda de peso - que é uma característica vista em poucas medicações-, melhor qualidade de vida pela utilização semanal”, enumerou o médico.
Indicações
“Tomo dois tipos de drogas três vezes ao dia. Acabar com essa obrigação e fazer uma medicação só por semana seria uma maravilha. Até porque, uma hora ou outra, principalmente quando viajo, há o risco de esquecer”, disse Valentin Vanderley, 60, diagnosticado há mais de dez anos. Apesar dos ganhos, cada paciente deve ser avaliado individualmente.
“Como todo e qualquer medicamento, existe uma necessidade de características do paciente para ver se esse ele pode ser tratado com essa droga. As diretrizes nacionais e internacionais sugerem que ele pode ser utilizado para quase todos os diabéticos”, comentou Lyra.
Em sua descrição de indicação aponta que deve ser usado como um adjuvante à dieta e ao exercício em pacientes do diabetes tipo 2 quando a metformina está contraindicada ou é considerada inadequada por intolerância. O medicamento também é indicado em terapia de associação quando não há controle efetivo da glicemia. Pode ser combinado com os seguintes redutores de glicose: metformina, metformina associada a sulfonilureia ou tiazolidinediona, e também à insulina prandial (na hora das refeições). Em ambos os casos, o paciente deve manter uma dieta adequada.
Projeções
Controlar o diabetes tipo 2 significa evitar complicações que podem levar a invalidez e morte. As chamadas complicações crônicas que levam a comprometimentos neurológicos, renais, visuais, mas também mascrovasculares, como doenças cardiovasculares. Dados da Federação Internacional do Diabetes apontam que em 2040 haverá mais 640 milhões de diabéticos no planeta.