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LEVANTAMENTO

Em 30 anos, ondas de calor no Brasil aumentaram de 7 para 52 dias ao ano, apontao Inpe

Segundo o Inpe, quatro das cinco regiões do Brasil tiveram elevação brusca

CalorCalor - Foto: Frederic J. Brown/AFP

Nos últimos 30 anos, a média de dias em que o território brasileiro passou registrando ondas de calor aumentou de 7 para 53, mostra um novo estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O trabalho, feito a pedido do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para embasar o plano federal de adaptação do país à mudança climática, montou um histórico de dados das seis últimas décadas, depois comparou o que aconteceu nas três primeiras delas com o que foi registrado nas três seguintes.

O trabalho define ondas de calor como "um mínimo de seis dias consecutivos em que a temperatura máxima supera um limiar de 10% do que é considerado extremo, comparado ao período de referência (1961-1990)".

Enquanto o período de referência exibiu uma média de 7 com ondas de calor para o território nacional, o valor subiu para 20 na década de 1990, depois para 40 na década de 2000, e bateu os 52 na última década. Os números ainda não incluem os recordes de 2023.

Mapas divulgados pelo Inpe mostram que essa tendência de extremos é verdadeira par todas as áreas do país, especialmente no Semiárido. Na região Nordeste, houve uma elevação brusca não apenas em ondas de calor, mas nos recordes de temperaturas máximas, na forma de "anomalias de temperatura".

No período de referência a média de temperatura máxima na região era de 30,7°C. Na década seguinte subiu para 31,2°C, depois 31,6°C, e ficou em 32,2°C entre 2010 e 2020.

O novo relatório também aponta a tendência de seca no território nacional nas últimas décadas, medida como "dias consecutivos secos", com precipitação abaixo de 1 mm. No semiárido, esses períodos somavam até 85 dias em média antes de 1991. Nas três décadas seguintes foi subindo até uma média de 100 na última década.

Sul chuvoso
A única região do país que foi minimamente poupada da seca e dos extremos de temperatura ao longo do período estudado foi o Sul. As anomalias de chuva ali porém, foram as maiores.

Os extremos de precipitação foram avaliados segundo o critério de recorde anual para acúmulo de água em períodos de 5 dias. Enquanto esse número era de 140 mm em média no período de referência, na última década foi de 160 mm.

O coordenador do estudo do Inpe, o climatólogo Lincoln Alves, afirma que a motivação para a realização do novo estudo foi a constatação de que a crise do clima se agravou além do esperado na última década dentro do país. Como muitos tópicos do plano de adaptação do país usavam projeções relativamente antigas, cientistas atualizaram dados para subsidiar melhor as políticas públicas.

— Comparando o período mais distante com o período mais recente, claramente, a gente consegue identificar regiões no Brasil com com aquecimento médio superior a 1,5°C, que é o que requer o Acordo de Paris para o clima em nível global — afirma Alves.

O trabalho do grupo do pesquisador foi feito com uma base de dados ampla que incluiu estações meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), da Agência Nacional de Águas (ANA), do Serviço Geológico do Brasil e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Arqueologia de dados
Os dados do Inmet, particularmente, são difíceis de processar, porque há grandes períodos de registros mais antigos que ainda não foram digitalizados e não estão disponíveis na internet. Um esforço acadêmico recente, porém, recuperou dados do Inmet para alguns parâmetros até o ano de 2020 e os abriu ao público, afirma Lincoln Alves.

O trabalho do pesquisador usou ao todo dados recolhidos de 1.252 estações meteorológicas (642 usando registros manuais e outras 610 eletrônicas) para construir as séries de temperatura. Com relação às chuvas, os dados são referentes a 11.473 pluviômetros espalhados pelo país.

Os históricos de observação climática são importantes, diz o pesquisador, para entender particularidades locais do Brasil no contexto da mudança climática.

— O IPCC (painel do clima da ONU) traz essas informações de forma muito genérica, muito abrangente, muito global — afirma. — A ideia dessa dessa análise que fizemos para subsidiar o Plano Clima de adaptação é mostrar dados regionais para os setores estratégicos que estão contemplados, porque eles precisam compreender como o clima tem mudado nos últimos 60 anos.

Dois dos principais desafios do país serão adaptar os setores de energia e agropecuária a essas mudanças. A ideia do novo estudo é oferecer mais detalhes, como os que estão sendo apresentados agora, para ajudar no planejamento contra crises futuras.

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