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EM APURAÇÃO || Reproduzido em cativeiro, mutum é reintegrado à natureza

Seis espécimes foram devolvidos a seu hábitat natural após dois anos sendo criados em um viveiro em Alagoas

De volta ao lar. Uma das cinco aves mais raras do mundo, o mutum-de-alagoas (Pauxi mitu) se tornou a primeira espécie extinta na natureza a ser devolvida ao seu hábitat natural na América do Sul. Após um longo processo de reprodução em cativeiro, três casais do animal foram devolvidos para o seu lugar de origem, na última semana.

As seis aves foram soltas na floresta localizada na Usina Utinga, em Rio Largo, Região Metropolitana de Alagoas. Ação acontece dois anos após um casal do animal ser inserido em viveiro instalado dentro do Centro de Educação Ambiental Pedro Nardelli, também na usina, que integra o Grupo EQM, do qual também faz parte a Folha de Pernambuco.

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Para isso, foi instituído o Plano de Ação Estadual de Reintrodução (PAE), composto pelo Ministério Público Estadual de Alagoas (MPAL) e diversos órgãos ambientais. Já a Universidade de São Paulo (USP), o Museu de Zoologia da USP (MZUSP) e a Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), sob o comando do CRAX - Sociedade de Pesquisa da Fauna Silvestre (Contagem/MG), foram os responsáveis pelos estudos genéticos que permitiram a reprodução dos mutuns em cativeiro e, consequentemente, a sua volta ao meio ambiente.

A coordenadora ambiental da usina Utinga, Michelle Cardoso, contou que os mutuns passaram alguns dias em um grande viveiro preparado exatamente com a finalidade de experimentarem as matas alagoanas, para que pudessem se acostumar com o solo, o clima e a comida. "Enquanto isso, pesquisadores ficaram monitorando o comportamento das aves, para avaliar se estavam bem para poder soltar", comentou.

O presidente do Instituto para Preservação da Mata Atlântica (IPMA), Fernando Pinto, explicou que esse monitoramento continuará sendo feito de forma contínua mesmo após a soltura dos mutuns. "Está sendo feito via satélite por meio de equipamentos colocados nas aves para acompanhar a localização delas. A mata está sendo acompanhada inclusive por câmeras. Isso não só vai ser usado para observar os mutuns, mas também para identificar predadores e coibir caçadores", disse.

Segundo Fernando Pinto, a expectativa é que os três casais comecem a acasalar e se reproduzir a partir de 2020. "Muito provavelmente no ano que vem a gente pode ter alguns filhotes na mata. De qualquer forma, a nossa intenção é levar mais casais nos próximos cinco anos até conseguir formar uma população. Estamos trabalhando na formação de mais casais, para aumentar o plantio e futuramente trazer uma quantidade maior para a mata localizada na usina Utinga e também levar para outras áreas de reserva", comentou.

Além da recuperação da espécie, a reintrodução dessas aves ao seu habitat natural trará outros benefícios para o meio ambiente. "O mutum é um dispersor de sementes, que assim como outros foram muito predados. Com isso grandes árvores começaram a desaparecer. Em uma mata com população estabilizada de mutum você tem uma colônia estabelecida de dispersor de sementes. E a gente precisa muito disso porque nossas matas estão ficando muito pobres", explicou o presidente do IPMA.

Quarenta anos de combate à extinção
O trabalho de combate à extinção do mutum começou há cerca de 40 anos com o empresário carioca e ambientalista Pedro Nardelli. Em 1976, durante viagem a Alagoas, ele descobriu que o mutum-de-alagoas estava desaparecendo. Dois anos depois, Nardelli voltou ao Estado, dessa vez com uma expedição, e ficou dois anos embrenhado na mata atlântica alagoana em busca por novos mutuns.

Em 1980, o ambientalista voltou para o Rio de Janeiro com cinco indivíduos. Eram os últimos vivos e, exatamente por isso, Nardelli decidiu salvá-los do completo desaparecimento. Foi quando teve início a reprodução em cativeiro. Tal trabalho de reprodução foi continuado pelos criadores mineiros Moacyr Dias e Roberto Azeredo. A Sociedade de Pesquisa do Manejo e da Reprodução da Fauna Silvestre (Crax), entidade não governamental sediada em Contagem, Minas Gerais, foi responsável pela continuidade do processo reprodutivo.

Em 2017, uma força-tarefa formada por diversos pesquisadores, criadores e instituições levou um casal da ave de Minas Gerais para Alagoas. Até hoje macho e fêmea estão em um viveiro instalado dentro do Centro de Educação Ambiental Pedro Nardelli, situado na usina Utinga, que aceitou ceder parte da sua área para o projeto. Atualmente, existem cerca de 90 aves mantidas sob rigoroso controle genético e sanitário na Crax.

O empresário carioca não pode acompanhar a devolução das aves ao seu ambiente natural, pois morreu no dia 24 de agosto deste ano. "Quando o ambientalista Pedro Nardelli, lá no final da década de 70, montou uma expedição para resgatar os últimos exemplares da espécie, talvez ele não soubesse que, foi aquela sua iniciativa, que deu início a esse sonho coletivo. Foi um processo longo, que exigiu muitos estudos e a criação de um plano estadual para tratar dos processos necessários à reintrodução”, disse o promotor Alberto Fonseca. No lugar de onde ela nunca deveria ter saído”, disse Fernando Pinto, do IPMA.

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