Em sua 17ª edição, Caminhada dos Terreiros luta contra a discriminação religiosa e o racismo
Cortejo desfilou por ruas do Centro do Recife nesta quarta-feira (1º), abrindo o Mês da Consciência Negra
Com o lema “Contra a Discriminação Religiosa e o Racismo”, a tradicional Caminhada dos Terreiros de Pernambuco chega à sua 17ª edição nesta quarta-feira (1º). Após a concentração no Marco Zero do Recife, que iniciou às 14h, o cortejo iniciou o desfile pelas ruas do Centro da Cidade por volta das 16h30.
O evento marca a abertura do Mês da Consciência Negra, celebrado em novembro, e pede o fim do preconceito e da intolerância. Um dos nomes à frente do cortejo, Pai Fernando de Odé destaca a importância da caminhada para os praticantes de religiões de matriz africana.
“É mais uma vitória para nós que somos discriminados. Essa caminhada é para a gente poder se sentir vivo, se sentir livre”, disse.
Como ressalta o religioso, esse é um momento que une fé e busca por direitos. “É muito bonito, todo mundo unido em um só pensamento, em uma só vibração. A luta continua, e a gente vai até o fim”, comentou.
Coordenador da caminhada, Anderson Venancio de Oxumaré destaca que um dos principais objetivos do cortejo é lutar pela implementação e cumprimento de políticas públicas que assegurem os direitos da população negra.
“Essa 17ª edição resgata os nossos direitos, os nossos ancestrais. E, no caso, a garantia do Estatuto da Igualdade Racial, do Plano Estadual de Combate ao Racismo e todas as lutas do povo negro e da matriz africana”, disse.
A luta contra a discriminação racial e religiosa é uma marca da Caminhada dos Terreiros de Pernambuco. Mãe Elza de Iemanjá, uma das lideranças do cortejo, reforça a luta para que as religiões de matriz africana sejam respeitadas.
“Além de celebrar a abertura do Mês da Consciência Negra, a gente está pedindo para que as pessoas compreendam que as religiões precisam ser, de fato, respeitadas. Hoje, nós dissemos não ao racismo religioso e à discriminação religiosa”, frisou.
Segundo a ialorixá, a caminhada também deseja chamar a atenção para que o empoderamento feminino seja reforçado em 2024. Além disso, luta para combater diferentes preconceitos e crimes. “Infelizmente, o racismo está aí, o racismo institucional está aí, a homofobia está aí. As nossas mulheres continuam sendo mortas, os nossos jovens também”, denunciou.
Em janeiro deste ano, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a lei que cria o Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. A data passa a ser celebrada anualmente no dia 21 de março.
Leia também
• Sport lança camisa em reflexão ao mês da Consciência Negra; confira
• UFPE sedia Semana da Consciência Negra; programação conta com debates, cursos e lançamento de livros
• Alepe realiza 1ª Jornada Antirracista para celebrar Mês da Consciência Negra; veja como se inscrever
Na primeira edição da Caminhada dos Terreiros de Pernambuco após a criação da data nacional, diversos praticantes de religiões de matriz africana reafirmaram o orgulho pela sua fé e pediram respeito e igualdade.
Líderes de um terreiro de candomblé no município do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife (RMT), Mãe Nininha de Oxum, de 75 anos, e a filha, Zelda Silva, de 45, fizeram questão de participar do cortejo.
“Eu me sinto muito bem, muito feliz, com muito axé por estar aqui. Com muita força também e eu vou cada vez melhorar mais”, contou a ialorixá.
Já Zelda lembrou a discriminação sofrida pela religião ao longo dos anos.
“Antes, a gente era muito discriminado. Hoje, abrimos um leque para a nossa religião de matriz africana, reconhecida como uma das religiões mais antiga do mundo, do Brasil. Porque quando os africanos vieram para cá, deixaram esse legado para a gente. E hoje temos que dar continuidade a esse legado”, pontuou.
Atualmente desempregado, Maurício José das Neves, de 48 anos, também enxerga na Caminhada dos Terreiros uma oportunidade de lutar contra o preconceito.
“É um orgulho defender a nossa ancestralidade, porque a gente é muito discriminado, o preconceito rola muito. Então, para mim, é um prazer estar aqui defendendo a minha religião e mostrar para o público que nós somos de paz, não somos de guerra. Quebrar a visão que o povo tem de que a gente cultua o demônio. A gente não cultua o demônio, a gente cultua a natureza, os ancestrais.”
A Caminhada dos Terreiros de Pernambuco, conforme percurso previsto pela organização, passou inicialmente pelas avenidas Marquês de Olinda e Martins de Barros, no Bairro do Recife. Na sequência, o cortejo também desfilou pela Praça da República, rua do Sol, avenida Guararapes e avenida Dantas Barreto.