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EDUCAÇÃO

Ensino de jovens e adultos terá nova política, com promessa de bolsas e formação técnica

País tem, atualmente, 9,6 milhões de pessoas com 15 anos ou mais de idade que não sabem ler e escrever; e 46% das pessoas com mais de 25 anos não completou educação básica

Zara Figueiredo, secretária do MEC, afirma que nova política de EJA será anunciada pelo presidente Lula Zara Figueiredo, secretária do MEC, afirma que nova política de EJA será anunciada pelo presidente Lula  - Foto: Paulo Barros/Fundação Roberto Marinho

A educação de jovens e adultos (EJA) voltará a ter uma política nacional após a modalidade ter sido praticamente abandonada no governo Bolsonaro. O modelo já ganhou forma dentro da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi), do Ministério da Educação.

Ao Globo, a responsável pela área revelou que prevê o pagamento de bolsas de estudos para os alunos e interlocução com o ensino técnico para que os estudantes possam continuar sua formação atrelada a uma profissão. O nome provisório é “Alfabetiza Brasil EJA”.

— É um direito dessas pessoas estarem dentro de sala de aula num curso que faça sentido para a idade delas e que dê uma formação com a perspectiva que elas desejam, que pode ser ir para o mercado de trabalho ou para a universidade — afirma Zara Figueiredo, secretária responsável pela Secadi, em entrevista ao Globo.

O Brasil tem, atualmente, 9,6 milhões de pessoas com 15 anos ou mais de idade que não sabem ler e escrever. Cerca de 5,3 milhões delas vivem no Nordeste, e 5,2 milhões têm 60 anos ou mais. Além disso, somente em 2022 o país alcançou mais da metade (53,2%) da população de 25 anos ou mais com o ensino médio completo. Mesmo assim, para pessoas pretas e pardas, esse percentual é de apenas 47%, enquanto entre as brancas é de 60,7%.

Isso significa que há cerca de 65 milhões de brasileiros — os 46,8% de adultos que ainda não completaram o ensino médio — que poderiam se beneficiar com políticas de educação de jovens e adultos, completando seus estudos da educação básica (alfabetização, ensino fundamental e médio). No entanto, a modalidade foi esvaziada no governo de Jair Bolsonaro.
 

Em 2014, o orçamento para os programas desse tipo chegou a R$ 820 milhões. Na ocasião, o governo federal — sob a administração de Dilma Rousseff — tinha programas como o Projovem, que pagava uma bolsa para estudantes da EJA e criava condições especiais nas escolas, como espaços destinados aos filhos dos alunos. Também tinha o Brasil Alfabetizado, que destinava verba para voluntários, que não precisavam ser professores, para abrirem turmas de alfabetização sob a supervisão das secretarias municipais.

No entanto, a crise econômica e a priorização de outras pautas — como escolas cívico-militares e homeschooling — quase que extinguiram os programas federais para EJA. Em 2020, foram empenhados R$ 9 milhões. No ano seguinte, nova queda, e a verba gasta foi de apenas R$ 6 milhões, o menor montante já registrado para a modalidade no século XXI. Com isso, a EJA perdeu meio milhão de estudantes entre 2018 e 2021. Neste ano, com a mudança do governo, há R$ 60 milhões disponíveis.

— Estamos prevendo para os próximos anos um orçamento sólido para a nova política nacional de EJA que estamos criando. É um investimento alto, robusto. Mas não é só dinheiro. Para ela ser efetiva, temos que pensar que instrumentos são necessários para que esses alunos estejam dentro da escola e se formem, além de entender que cada grupo tem demandas diferentes — conta Figueiredo.

Outra característica da nova política é a presença de atores estratégicos para fazer a articulação entre as redes de ensino e os alunos, entender as necessidades do território e o que precisa melhorar para que os adultos que já deixaram a escola decidam retomar os estudos.

— Atualmente, há um processo de juvenilização da EJA. E boa parte deles já são arrimos de família e vão para o mercado de trabalho. Por isso, estamos fazendo essa política com a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), do MEC, já que a inclusão produtiva desses alunos é tão importante para a gente — diz.

Pauta histórica
De acordo com a secretária, a política de EJA é simbólica para este governo. A modalidade esteve no centro da obra de Paulo Freire, mais importante filósofo da educação brasileira no mundo e principal alvo do bolsonarismo nesse campo. Atualmente, seu formato está sendo discutido no MEC e em breve será encaminhado para a Casa Civil. Quando for finalizada, deve ser anunciada pelo próprio presidente Lula. No entanto, ainda não tem data para isso acontecer.

— Essa é uma das políticas mais difíceis de se desenhar por conta de todas essas camadas. Estamos fazendo o desenho mais duro da política, considerando acesso, aprendizagem e erradicação do analfabetismo. E, no segundo momento, vamos trabalhar as condições efetivas que as pessoas têm para frequentar a escola. Estamos pensando em temas como: será que a escola não precisa ir até o educando? Estamos levando o educando com a sua necessidade para dentro da escola? Tudo isso precisa de arranjo específico. Estamos debruçados sobre esse plano há quase três meses — afirma a secretária.

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