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Entidades cobram de candidatos que condenem intimidação de jornalistas

Segundo Abraji, foram registrados 141 casos de ameaças e violência contra jornalistas que cobriam as eleições

Este julho deste ano, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou o Brasil pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog durante ditadura militarEste julho deste ano, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou o Brasil pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog durante ditadura militar - Foto: Instituto Vladimir Herzog

Entidades ligadas à imprensa e defesa de direitos humanos se uniram para cobrar dos presidenciáveis Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) que condenem "de forma contundente" as ameaças e atos de violência contra jornalistas que cobrem a campanha eleitoral. A nota divulgada nesta quinta-feira (25) é assinada pelas organizações Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Artigo 19, Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), Human Rights Watch, Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e Conectas Direitos Humanos.

"A fim de demonstrar comprometimento com a preservação da democracia, ambos os candidatos devem condenar qualquer ameaça ou ataque contra jornalistas por fazerem seu trabalho e devem se abster de qualquer discurso que incite a violência", afirma o presidente da Abraji, Daniel Bramatti. A Abraji registrou 141 casos de ameaças e violência contra jornalistas que cobriam as eleições. A maioria deles é atribuída a partidários de Bolsonaro, enquanto o restante é atribuído a apoiadores do Partido dos Trabalhadores (PT).

O texto lembra que na terça-feira (23) a Folha de S.Paulo entrou com uma representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) solicitando à Polícia Federal que instaure inquérito para apurar ameaças contra a jornalista Patrícia Campos Mello após a publicação da reportagem "Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp" e o diretor-executivo do Datafolha, Mauro Paulino.

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De sexta-feira (19), dia seguinte à publicação, até terça-feira (23), um dos números de WhatsApp mantidos pelo jornal recebeu mais de 220 mil mensagens de cerca de 50 mil contas do aplicativo. "As ameaças contra Patrícia Campos Mello e outros jornalistas representam uma escalada alarmante da retórica contra a imprensa neste ciclo eleitoral contencioso no Brasil", disse a coordenadora do programa do CPJ para a América Central e do Sul, Natalie Southwick.

Southwick também cobra o posicionamento dos candidatos e o respeito à liberdade de imprensa. "Os jornalistas que cobrem a eleição presidencial no Brasil devem poder trabalhar livremente e com segurança enquanto fazem reportagens sobre questões de interesse público. Pedimos aos candidatos de todos os partidos que respeitem a liberdade de imprensa, se abstenham de fazer declarações inflamatórias contra a mídia, e exortem seus partidários a parar de assediar e ameaçar jornalistas", declarou.

A diretora executiva da Conectas Direitos Humanos, Juana Kweitel, classifica as ameaças como inaceitáveis. "Elas devem ser investigadas e todos os envolvidos devem ser responsabilizados a fim de proteger o jornalismo responsável, investigativo e independente", disse. Segundo a organização Artigo 19, os ataques contra jornalistas mulheres frequentemente incluem violências de gênero, incluindo assédio sexual online e ameaças de violência sexual. A diretora executiva em exercício para a América do Sul, Laura Tresta defendeu o respeito à liberdade de expressão para garantir a democracia no país.

"É inaceitável que pessoas sejam intimidadas ou atacadas em razão de seu trabalho ou opinião política. Isso tem um efeito perturbador para toda a sociedade. Precisamos de maior liberdade de expressão para nutrir nossas instituições democráticas", disse. Para o diretor regional para a América Latina da RSF, Emmanuel Colombié, os ataques de apoiadores de candidatos contra a imprensa "são inaceitáveis e indignos de qualquer partido político que almeja governar o país".

"O discurso de ódio e campanhas de desinformação estão exacerbando as tensões na sociedade já altamente polarizada no Brasil", afirma. A diretora da Human Rights Watch no Brasil, Maria Laura Canineu, afirma que qualquer pessoa pode discordar de uma reportagem, porém "ameaçar o jornalista e incitar outros a fazer o mesmo não só põe em perigo a segurança pessoal dos jornalistas, mas prejudica a liberdade de expressão e a democracia". Segundo ela, os candidatos à presidência "devem defender o direito dos jornalistas de informar o público e o direito do público de ser informado".

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