Meio Ambiente

Enviado de Biden diz que precisa discutir com Brasil para Amazônia não desaparecer

'Estamos dispostos a conversar com eles, não com tapa-olhos, mas sabendo onde já estivemos', afirmou John Kerry

John Kerry, enviado dos EUA para o climaJohn Kerry, enviado dos EUA para o clima - Foto: Mark Makela

Em audiência com o comitê de relações exteriores do Congresso americano, o enviado de Joe Biden para o clima, John Kerry, disse nesta quarta-feira (12) que, se não discutir a preservação da Amazônia com o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), "a floresta vai desaparecer".

"Estamos dispostos a conversar com eles, não com tapa-olhos, mas sabendo onde já estivemos", afirmou o ex-secretário de Estado americano, que chamou de positivas as conversas, iniciadas semanas atrás, segundo ele. "Esperamos que a intenção possa ser traduzida em ação que seja efetiva e verificável."

Kerry reconheceu que o Brasil vinha diminuindo os níveis de desmatamento entre 2004 e 2012 e disse que o país estava "fazendo progressos". Mas pontuou que as proteções ao ambiente foram revertidas sob o que chamou de "regime Bolsonaro" -usando termo normalmente aplicado, por exemplo, à ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela.

Sobre o avanço das negociações com o governo brasileiro, o ex-secretário afirmou que o objetivo americano é conseguir montar uma nova estrutura de fiscalização das ações na floresta em que todos "tenham confiança". "Tivemos essa conversa. Eles dizem que estão comprometidos em aumentar o orçamento e montar uma nova estrutura."

Depois de prometer mais verba para fiscalização na Cúpula de Líderes sobre o Clima convocada por Biden, em abril, Bolsonaro oficializou um corte de recursos para a área relacionada a mudanças do clima, controle de incêndios florestais e fomento a projetos de conservação do meio ambiente.

Um dia antes do discurso no encontro virtual, o presidente brasileiro afirmou ter determinado a duplicação dos recursos destinados a ações de fiscalização ambiental no Brasil. De acordo com interlocutores de Bolsonaro, estimava-se que o aumento de recursos para a fiscalização ambiental ficasse em torno de R$ 115 milhões.

O Orçamento de 2021 sancionado por ele, no entanto, não inclui o incremento prometido e ainda corta quase R$ 240 milhões da pasta do Meio Ambiente.

Há duas semanas, o governo americano tinha questionado o Brasil sobre o corte de recursos.

Durante reunião com os ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Carlos França (Relações Exteriores), no dia 30, Kerry mostrou preocupação com as notícias sobre o corte de verba promovido pelo líder brasileiro e quis saber o que havia acontecido.

Segundo relatos feitos ao jornal Folha de S.Paulo, os brasileiros argumentaram que a tesourada tinha sido inevitável porque a cúpula ocorrera às vésperas da sanção do Orçamento de 2021 e não houvera tempo hábil para evitá-la. Salles e França, no entanto, argumentaram que uma recomposição orçamentária do Ministério do Meio Ambiente deve ocorrer em breve.

No Congresso americano, o enviado de Biden citou a preocupação com pesquisas científicas que dizem que a Amazônia já libera mais carbono do que consome e que há risco de que ela deixe de ser uma floresta tropical. "Precisamos resolver isso."

Questionado pela deputada Susan Wild, democrata da Pensilvânia, se os EUA estavam negociando diretamente com indígenas brasileiros, além de com o governo, Kerry disse que ainda não houve encontros diretos, mas que representantes deles estão sendo consultados pelos americanos.

"As preocupações deles são primordiais. Eles têm muita voz e precisam ser ouvidos", afirmou.

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