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Erotomania: entenda distúrbio de Martha, personagem que persegue Donny, protagonista de "Bebê Rena"

Psicanalista também encontrou características de Transtorno de Personalidade Borderline na trama

Martha é a vilã de série hit da NetflixMartha é a vilã de série hit da Netflix - Foto: Netflix/Divulgação

A série da Netflix que virou febre nos últimos dias, “Bebê Rena” está levantando questionamentos sobre saúde mental, isso porque na trama, baseada em uma história real, uma advogada se apaixonada perdidamente por um aspirante a comediante. Porém, o que poderia ser uma relação saudável acaba virando um processo doentio de stalker e perseguição.

Martha (Jessica Gunning) entra no local em que Donny Dunn (Richard Gadd) trabalha como barman, e ele percebendo que ela não está bem, oferece um drinque para a moça. Isso já é suficiente para ela acreditar que eles têm uma relação e que o homem está apaixonado por ela. Martha manda 41 mil mensagens de texto, 350 horas de correio de voz, 700 tweets, além de centenas de páginas de cartas. Nada é obstáculo para a mulher que passa por cima de tudo e de todos para estar perto de Donny, tendo até atitudes agressivas e violentas.

Em entrevista ao jornal O Globo, a psicanalista Fabiana Guntovitch, especializada em comportamento humano, afirma que não há como diagnosticar um personagem que não está em análise, porém, a personagem Martha apresenta características que sustentam duas possibilidades de hipóteses diagnósticas, a de Erotomania e a de Transtorno de Personalidade Boderline.

A primeira, também chamada de síndrome de Clèrambault, é uma desordem delirante em que a pessoa acredita que alguém, em geral de um status mais elevado, podendo ser mais rico, bonito, ou até mesmo uma figura pública, está apaixonado por ela.

"O paciente acredita nesta fantasia delirante de que aquela pessoa está apaixonada por ela, o outro pode até mesmo nunca te-la visto, mas ela vai fazer tudo o que está no alcance dela para viver esse romance que ela acredita ser verdadeiro", afirma Guntovitch.

Também chamada de “síndrome do amor”, ela pode ser dividida em três fases. São elas:

Sentimento de esperança: a pessoa acredita que é amada por um determinado indivíduo;

Sentimento de decepção: nesta fase, o paciente desenvolve sentimentos vingativos baseados na mágoa por seus sentimentos não serem correspondidos;

Sentimento de ódio: por fim, a pessoa sente muita raiva, a ponto de se tornar ódio. Este sentimento resulta em ameaças vingativas ao indivíduo que ela acredita que ama.

Apesar de não ser muito comum, essa forma de delírio pode resultar em violência ou até mesmo em algo mais grave contra o interesse amoroso ou contra pessoas que sejam consideradas possíveis rivais do paciente.

Transtorno de Personalidade Borderline

— Podemos perceber na Martha mudanças muito repentinas de humor em relação aos afetos, a incapacidade de lidar com rejeição, dificuldade controlar impulsos, obsessão, dependência, rompantes de agressividade, baixa tolerância a frustração, o desespero para viver essa relação, além do pavor do abandono. Sintomas que podem caracterizar um transtorno boderline, por exemplo — explica a psicanalista.

A condição é considerada muito comum no Brasil com mais de dois milhões de casos por ano no país. A raiva é um sentimento comum no transtorno, causada pelos pensamentos de abandono e negligência. Esse receio é um dos sintomas mais presentes, mesmo em estágios iniciais, e podem correr para tais extremos a ponto do paciente se isolar voluntariamente para evitar que outros o façam.

Os indivíduos que sofrem do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) tem medo de que as emoções fujam do controle e, por isso, tendem a se tornarem mais irracionais em situações de muito estresse, criando dependência em relação a outras pessoas e “válvulas de escape” para se sentirem mais confortáveis.

— É importante ressaltar, porém, que nem todas as pessoas com este tipo de transtorno tem esses sintomas apresentados pela Martha na série. As reações aparecem de forma muito singular para cada pessoa e variam de intensidade. Na maioria dos casos, eles surgem de maneiras mais leves do que os apresentados na série — diz a psicanalista.

Tratamento
A especialista ainda relembra que Martha na série não está em tratamento psiquiátrico, psicológico ou medicamentoso e que ela é extremamente sozinha, o que acaba potencializando os sintomas da doença.

De acordo com o Instituto de Psiquiatria Paulista, o tratamento mais adequado para pessoas com Borderline é a conciliação entre o atendimento psicológico e o psiquiátrico. Os dois tipos de profissionais são aptos para realizar o diagnóstico da doença. Apesar de não ter cura, o uso de medicamentos pode ser indicado para minimizar os sintomas, fazendo com que o indivíduo possa seguir a vida sem maiores prejuízos. É importante lembrar que o ambiente tem um peso importante no manejo do transtorno, sendo indispensável uma rede de apoio saudável na vida do paciente.

Os três tipos de tratamento também são considerados para Erotomania. A ideia da utilização de medicamentos é tratar dos sintomas de maneira isolada, com combinação de antidepressivos, estabilizadores de humor e antipsicóticos, por exemplo, sempre conciliados ao tratamento psicoterapêutico.

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