Reconhecimento

Escritores africanos dominaram os prêmios literários em 2021

Historicamente, os escritores africanos são sub-representados no cenário internacional

Abdulrazak Gurnah, vencedor do Prêmio Nobel de LiteraturaAbdulrazak Gurnah, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura - Foto: Reprodução/Twitter

Os escritores africanos ganharam este ano três grandes prêmios internacionais: o Prêmio Nobel, o Booker Prize no Reino Unido e o Goncourt na França.

"Vemos um renascimento da atenção do mundo literário sobre a África", declarou à AFP Xavier Garnier, professor de Literatura Africana francófona e suaíli na universidade Sorbonne Nouvelle. Um fenômeno "singular".

Historicamente, os escritores africanos são sub-representados no cenário internacional.

Mas neste ano o senegalês Mohamed Mbougar Sarr se destacou, aos 31 anos, como o primeiro escritor da África Subsaariana a levar o Prêmio Goncourt, o Graal da literatura francesa, pelo seu livro "La plus secrète mémoire des hommes" (A mais secreta memória dos homens, em tradução livre).

No mesmo dia, o sul-africano Damon Galgut ganhou o Booker Prize, o prêmio máximo para os romances escritos em inglês. 

E a coroação aconteceu com o Nobel de Literatura concedido ao tanzaniano Abdulrazak Gurnah.

Mas a lista não acaba: o Booker Prize International coroou o franco-senegalês David Diop, o renomado Prêmio Neustadt (Estados Unidos) foi atribuído ao senegalês Boubacar Boris Diop e o Prêmio Camões (que premia um autor de língua portuguesa) foi vencido pela moçambicana Paulina Chiziane.

Esses prêmios chegam após o "renascimento da literatura africana nos últimos dez anos", explica à AFP Boniface Mongo-Mboussa, doutor em Literatura Comparada.

Ecologia e afrofuturismo

A literatura africana está cada vez mais dominada por "escritores profissionais, o que não aconteceu com nossos antecessores", explica este especialista.

Outro fenômeno coincidente: "a entrada em cena das mulheres", como Tsitsi Dangarembga (Zimbábue), Paulina Chiziane (Moçambique) ou a já premiada várias vezes Chimamanda Ngozi Adichi (Nigéria).

Os assuntos também mudaram, explica Mongo-Mboussa, escritor e crítico literário. 

Mohamed Mbougar Sarr, premiado com o Goncourt, "escolheu falar de literatura" em seu livro, o que significa "tomar distância" dos temas mais comuns das histórias africanas "que falam por exemplo de violência, guerra, das crianças soldados".

O feminismo, a homossexualidade, a ecologia, o afrofuturismo (corrente da ficção científica) também aparecem na produção literária do continente.

No entanto, no mundo francófono persiste a distinção entre literatura francófona e francesa, destaca Boniface Mongo-Mboussa.

Vários escritores africanos levaram o prêmio Renaudot, outro grande prêmio literário francês. O franco-congolês Alain Mabanckou deu aulas no prestigioso Collège de France. 

Mas os escritores francófonos africanos continuam sendo vistos como "produtos do antigo Império" e não realmente como atores no mesmo patamar, acrescenta este doutor em letras.

Veja também

Argentina pede prisão de ministro iraniano por atentado contra Amia
Ataque de 1994

Argentina pede prisão de ministro iraniano por atentado contra Amia

Controladores aéreos convocam greve para quinta-feira (25) na França
Cancelamento de voos

Controladores aéreos convocam greve para quinta-feira (25) na França

Newsletter