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Espanha: direita vence eleição, mas não consegue maioria para formar governo

Ultra direita Vox é a maior derrotada, esquerda se sai melhor do que as pequisas indicavam, negociações começam imediatamente e separatistas do JUNTS serão fieis da balança em quadro de confusão política

Alberto Nunez Feijóo lidera disputa presidencial na Espanha Alberto Nunez Feijóo lidera disputa presidencial na Espanha  - Foto: Miguel Riopa/AFP

Com 96% das urnas apuradas, o Partido Popular (PP), de Alberto Nunez Feijóo, apontado pelas pesquisas como favorito para vencer as eleições, lidera a disputa eleitoral na Espanha. A legenda de direita abriu vantagem contra o principal rival, o governista Partido Socialista Operário Espanhol (Psoe), do premier Pedro Sánchez. Nesta altura da apuração, a sigla tem 136 cadeiras, contra 122 do Psoe.

Mesmo com a vitória nas urnas consolidada — a primeira para o PP desde 2016 — é impossível que a sigla alcance o número mágico de 176 cadeiras, que significa a maioria absoluta do parlamento. De acordo com o El País, quando a apuração ainda estava em 80% das urnas, mesmo unindo-se ao Vox, de extrema direita, o número mínimo de cadeiras para formar governo era inalcançável.

Sem a possibilidade de formação de um governo de maioria composto apenas por aliados prioritários (no caso do PP, o Vox, e no caso do Psoe, o Sumar), as coalizões dependem agora das siglas menores para tentar formar um governo fragmentado, sob risco de instauração de um governo provisório, apenas para convocação de uma nova eleição.
 

O Vox, aparece como a 3ª legenda mais votada, com 33 cadeiras, seguido pelo Sumar, de esquerda, com 31, em um placar de 169 a 153 para o bloco de direita. Abaixo deles, duas siglas aparecem com sete cadeiras (ERC e Junts), uma com seis (Bildu), uma com cinco (PNV) e outras três terão um parlamentar apenas.

Separatismo no governo?

Ao contrário dos acordos que pareciam pré-determinados antes da votação, as negociações com as siglas menores guardam um grau de imprevisibilidade maior — e uma quase impossibilidade de diálogo entre determinadas siglas.

Projeções do diário espanhol El País apontam como cenário provável o alinhamento de ERC, Bildu, BNG e PNV à coalizão Psoe/Sumar. Gabriel Rufián, líder da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), anunciou que cederá as sete cadeiras que conquistou à coalizão de esquerda, e convocou o resto das formações independentistas a não apoiar o bloco de direita com Vox.

— Não rompamos as negociações, não levantemos da mesa — disse o líder

Enquanto isso, UPN e Coalición Canária, que conquistaram uma cadeira cada, uniriam-se ao PP/Vox. Neste contexto, a esquerda tomaria a liderança da direita, por 172 a 171 — número ainda insuficiente para governar.

O fiel da balança passaria a ser, neste caso, o JUNTS, partido político que defende o separatismo da região da Catalunha fundado em 2020. A posição quase marginal do partido na política espanhola coloca ambos os blocos em uma situação delicada: aceitar em seus governos uma sigla que tem como função básica contestar a unidade territorial do país.

Em uma primeira declaração, a líder do JUNTS, Miriam Nogueras, pareceu acenar com a possibilidade de apoio a Sánchez, mas prometeu que a eventual participação no governo não seria barata para o socialista.

— Entendemos o resultado. Cremos que o nosso povo aproveita as oportunidades. E esta é uma oportunidade. Uma etapa para recuperar a identidade. No Junts mantivemos nossa posição, não foi fácil, recebemos críticas, mas valeu a pena. Meu pulso não tremerá, não faremos presidente Pedro Sánchez em troca de nada — declarou Miriam.

Mudança de ânimo

Com as pesquisas eleitorais apontando um amplo favoritismo para a coalizão de direita/extrema direita, o clima era de otimismo entre os representantes do PP. Logo após votar em Madri, Feijóo afirmou que "a Espanha pode iniciar uma nova era".

Antes do começo da divulgação dos resultados, a secretária-geral da sigla, Cuca Gamarra, exaltou o eleitorado espanhol, que disse ter dado um "exemplo de exercício cívico" pelo comparecimento às urnas, antes de afirmar esperar um grande resultado para o partido.

— Com toda a prudência, uma prudência lógica que corresponde ao momento em que nos encontramos, em que a apuração acaba de começar, do PP acreditamos que este vai ser um grande dia eleitoral porque o PP vai recuperar o cargo de primeira força política nas eleições gerais — afirmou.

No Partido Socialista Operário Espanhol (Psoe), o clima era de sobriedade. A porta-voz da direção da legenda, Pilar Alegría, evitou fazer uma análise logo após o fechamento das urnas, enquanto Pedro Sánchez não passou nenhuma mensagem de confiança ao votar, resumindo-se a dizer que o resultado do pleito seria importante "para o mundo e para a Europa".

— Devemos apelar para essa prudência e dentro de algumas horas teremos um resultado bem mais avançado — disse Alegría na sede do Psoe pouco depois do começo da apuração.

Com os colégios eleitorais fechados às 20h (15h em Brasília), a contagem começou mostrando uma ligeira vantagem para o Psoe, embora já indicasse um crescimento do PP no número de cadeiras (o partido ganhou 47 cadeiras no parlamento ao todo). No entanto, a direita conservadora tomou a dianteira pela primeira vez apenas com 54% dos votos apurados — a contagem começou mais lenta em regiões que a legenda é mais votada, incluindo Madri.

O avanço da direita, contudo, não foi suficiente para confirmar o que mostravam as pesquisas eleitorais divulgadas no domingo, que previam uma vitória significativa do PP e do Vox — o que significaria o retorno da extrema direita ao poder pela primeira vez desde a ditadura de Francisco Franco (1939-1975).

De acordo com a pesquisa Sigma Dos, para a televisão pública, o bloco de direita teria entre 169 e 177 cadeiras, contra 141 a 149 da esquerda. A pesquisa GAD3 para a Mediaset, dava ao PP/Vox uma soma de 181, contra algo entre 141 e 149 cadeiras para a esquerda.

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