Vida saudável

Essas mulheres...

Muitas vozes se levantam no dia 8 de março

Não precisamos mais de heroínas de folhetimNão precisamos mais de heroínas de folhetim - Foto: Da editoria de Arte

No Dia Internacional da Mulher muitas vozes se levantam a enaltecer suas qualidades, suas lutas e seus direitos, os quais ainda vêm sendo pisoteados e até invisíveis, sobretudo em países cuja cultura de dominação tiraniza e fere, sem piedade. No Brasil, contudo, vimos assistindo a um “levante do Bem”, onde alguns, tateando nas noções de cidadania, salientam o quão justo e digno é valorizar a mulher enquanto individualidade, pela importância que transcende os códigos escritos nas leis dos homens.

Não precisamos mais de heroínas de folhetim, nem de mártires, nem de movimentos simbólicos do tipo sutiãs queimados em praças públicas. A mulher é. Esta mulher do século XXI vai à luta faz tempo. Nas sociedades de outrora, era destinada a casar e sua obrigação consistia em desenvolver inúmeros dotes, inclusive na cozinha. “Prender um marido pela barriga” era um chavão que alimentava a rotina das famílias com moças casadoiras, como se falava então.

Hoje em dia elas “seguram a onda” como podem, face às demandas surgidas com a famosa emancipação (relativa, diga-se de passagem). A subordinação (direta ou subliminar) ao modelo que fez da mulher, a detentora de deveres domésticos cumulativos à exaustão, tornou, ela mesma, a “burra de carga” por muitos séculos.

Elas seguiram impávidas, cuidando da casa e da família - ocupação nobilíssima é verdade; mas deixaram de ver a si mesmas com as nuances da subjetividade e do auto amor, que vão além do reconhecimento do cuidar, social e culturalmente.

No particular da saúde e da nutrição as mulheres estão avançando na individuação, a partir do viés do empoderamento. Contudo, cabe um alerta: há necessidade de buscar informações em fontes confiáveis, sob risco de se perderem nos equívocos desta “vida líquida”: os parâmetros de beleza esculpida, as dietas da moda, a ortorexia e a vigorexia (culto exagerado ao “comer correto” e à prática de exercícios extenuantes), que levam a transtornos inenarráveis, em muitos casos.

Até hoje, as estatísticas de saúde apontam para a predominância das mulheres na frequência aos serviços de saúde. Este dado é útil no planejamento das ações em todas as esferas do cuidado, tornando-as parceiras nos ambulatórios, nos polos de atividade física das Comunidades e em mutirões de saúde e cidadania amplamente ofertados nos dias de hoje. Por meio deste protagonismo dentro e fora da unidade doméstica, essas mulheres-cidadãs são instadas a multiplicar informações valiosas nos grupos de convívio.

No lar, as mulheres de hoje exercem as tarefas que escolhem, dependendo de uma boa parceria - e isto também se conquista. As que se vêm com pendores para cozinhar têm investido no aprendizado da culinária - da trivial à sofisticada (que o diga a audiência dos programas de TV e da Internet, que exploram tão bem este nicho de mercado).

Para as que não “encaram” o fogão, sempre poderão investir em estratégias inteligentes de alimentação fora do lar, buscando locais com padrões decentes de higiene, variedade de cardápios, preços justos e proposta de saudabilidade na oferta dos serviços. Para se safarem com os lanches, aceitam sugestões de comidas de preparo rápido, como as frutas e sementes oleaginosas, fugindo do apelo e da escravidão dos ambientes de fast food.

Por isso, lembremos com carinho destas mulheres, sim. Mas que isto ultrapasse a superfície do elogio rápido e do eventual presentinho material. Afinal, todos nós temos (ou tivemos) conosco mulheres libertadoras, arrojadas e amorosas a quem, em pensamentos e gestos devemos reverenciar com gratidão por seu exemplo.

*É nutricionista e atua no Tribunal de Justiça de Pernambuco no Núcleo do Saúde Legal e escreve quinzenalmente neste espaço.

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