Guerra na Ucrânia

Rússia proclama 'libertação total' de Mariupol e prossegue com ofensiva no leste da Ucrânia

Último grupo de 531 soldados se rendeu nesta sexta-feira (20), segundo porta-voz da Defesa russa

Porta-voz do ministério da Defesa russo, Igor KonashenkovPorta-voz do ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov - Foto: Wikipedia

A Rússia anunciou, nesta sexta-feira (20), a rendição dos últimos combatentes ucranianos entrincheirados havia quase três meses na siderúrgica Azovstal, cidade de Mariupol, um passo-chave em sua estratégia de conquistar o leste do país.

"Desde 16 de maio, 2.439 nazistas do batalhão de Azov e militares ucranianos bloqueados na siderúrgica se renderam. Hoje, 20 de maio, o último grupo de 531 combatentes se entregou", disse o porta-voz do ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov. "Os túneis do local, onde se escondiam dos combatentes, passaram ao controle completo das forças armadas russas", acrescentou.

Segundo o porta-voz, o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, informou ao presidente russo, Vladimir Putin, "o fim da operação e a libertação total do complexo de Azovstal e da cidade de Mariupol".

Konashenkov informou que o chefe do batalhão Azov, milícia integrada ao exército ucraniano, entregou-se às forças russas e foi retirado em um "veículo blindado especial" para evitar que seja agredido por habitantes hostis.

Autoridades ucranianas haviam ordenado pela manhã que suas tropas entregassem as armas, a fim de "salvar a vida" dos soldados que ainda se escondiam nos túneis do complexo industrial, último reduto de resistência em Mariupol, devastada por meses de bombardeios.

O cerco russo à localidade estratégica, no Mar de Azov, provocou diversas acusações de crimes de guerra, incluindo um ataque contra uma maternidade.

O ministério russo da Defesa divulgou um vídeo que mostra soldados saindo da fábrica, alguns deles de muletas, após semanas de cerco.

"O comando militar superior deu a ordem de salvar as vidas dos militares de nossa guarnição e de parar de defender a cidade", declarou Denys Prokopenko, comandante do batalhão ucraniano Azov, em um vídeo publicado no Telegram. Os combatentes, acrescentou, continuam tentando retirar os soldados mortos da siderúrgica. "Espero que em breve as famílias e todos na Ucrânia possam enterrar seus combatentes com honras", acrescentou Prokopenko.

A Ucrânia deseja organizar uma troca dos soldados de Azovstal por prisioneiros russos, mas as autoridades pró-Moscou da região de Donetsk afirmaram que alguns podem ser julgados.

"Esperamos que (...) todos os prisioneiros de guerra sejam tratados de acordo com a Convenção de Genebra e o direito de guerra", disse o porta-voz do Departamento Defesa dos Estados Unidos, John Kirby.

Na Ucrânia, o primeiro militar russo julgado por crimes de guerra pediu "perdão" em um tribunal de Kiev, ao detalhar como matou um civil no início da invasão russa, há quase três meses. O veredicto será anunciado na próxima segunda-feira, 23 de maio.

"Realmente sinto muito", declarou Vadim Shishimarin, de 21 anos. 

Mais ajudas
A Rússia concentrou nas últimas semanas a ofensiva no leste e sul da Ucrânia, destruindo vilarejos e cidades, depois que não conseguiu conquistar a capital, Kiev.

A resistência ucraniana desde o início da invasão, em 24 de fevereiro, recebeu o forte apoio financeiro e militar dos Estados Unidos e da União Europeia (UE).

Na quinta-feira, o Congresso dos Estados Unidos aprovou um pacote de ajuda avaliado em 40 bilhões de dólares.

E o G7, que reúne os países mais ricos do planeta, prometeu 19,8 bilhões de dólares para apoiar as finanças da Ucrânia.

'Inferno'
As tropas russas tentam assumir o controle total do Donbass (leste), uma área de língua russa parcialmente controlada por separatistas pró-Kremlin desde 2014.

"No Donbass, os ocupantes tentam aumentar a pressão", disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. "É um inferno, não é um exagero".

Doze pessoas morreram e 40 ficaram feridas em um bombardeio na cidade de Severodonetsk (leste), informou o governador regional.

As forças russas estão cercando a cidade e a vizinha Lysychansk, separada de Severodonetsk por um rio que marca a frente de guerra. Ambas representam o último reduto de resistência ucraniana na região.

O ministro da Defesa da Rússia, Serguei Shoigu, afirmou que Moscou está perto de controlar totalmente a região separatista de Lugansk, também no leste da Ucrânia.

Otan
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, apresenta a guerra na Ucrânia como parte de um combate a favor da democracia e contra o autoritarismo.

Na quinta-feira, ele expressou "apoio total e completo" à Finlândia e Suécia na campanha de adesão à Otan. 

Historicamente, os dois países permaneceram à margem da aliança de defesa, mas a invasão russa provocou uma aproximação da Organização do Tratado do Atlântico Norte. 

O principal obstáculo é a Turquia, membro da Otan, que acusa os dois países nórdicos de abrigar extremistas separatistas do Curdistão, região em conflito há décadas com Ancara.

Shoigu advertiu que o Kremlin responderia a qualquer expansão da Otan com a criação de mais bases militares no oeste da Rússia.

O conflito também gera impactos negativos na economia global, em particular nos mercados de energia e alimentos.

Rússia e Ucrânia são responsáveis por 30% das exportações mundiais de trigo e a guerra provocou a disparada dos preços do grão. A Rússia também é um importante exportador de fertilizantes. 

Washington pediu a Moscou que permita as exportações de cereais ucranianos bloqueados nos portos do Mar Negro.

Mas o ex-presidente russo Dmitri Medvedev atribuiu a situação aos ocidentais.

"De um lado, impõem sanções irracionais contra nosso país e, do outro, nos pedem fornecimento de comida", afirmou. "As coisas não funcionam assim, não somos idiotas", concluiu. 

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