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SAÚDE

Fake news sobre câncer nas redes sociais afasta pacientes de tratamento seguro; entenda

Fake News sobre saúde invadem a Oncologia, muitas vezes afastando pacientes do tratamento respaldado pela ciência

Ilustração mostra crescimento de célula do câncer Ilustração mostra crescimento de célula do câncer  - Foto: Wikimedia Commons

O diagnóstico de câncer assusta. Não é incomum que, após a confirmação da presença de um tumor no corpo, muitas pessoas recorram à internet e às mídias sociais para obter informações. O que é realizado para buscar um fio de esperança pode produzir efeitos desastrosos.

“As pessoas têm compartilhado informações de saúde imprecisas desde o início dos tempos. Mas as mídias sociais tornaram muito mais fácil o compartilhamento de informações incorretas sobre saúde. O algoritmo, que vê interação e não qualidade da informação, premia posts que têm respostas, mesmo que elas desmintam a informação dada. E desse jeito, esse vídeo aparecerá para mais pessoas, em um ciclo constante de desinformação que é prejudicial e cruel para pacientes oncológicos”, explica Ramon Andrade de Mello, médico oncologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia.

Segundo o especialista, que também é pesquisador honorário da Universidade de Oxford, na Inglaterra, estudos, que se debruçaram sobre as informações da internet, observaram que um em cada três posts sobre os quatro tipos de câncer mais comuns continha informações falsas, imprecisas ou enganosas.

 

“E a maioria dessas informações falsas sobre o câncer era potencialmente prejudicial, por exemplo, ao promover tratamentos não comprovados como alternativas àqueles que estudos rigorosos demonstraram ser benéficos”, diz o oncologista. “Uma proporção substancial do conteúdo nas redes sociais é potencialmente tendenciosa e/ou desinformada e esses vídeos obtêm mais visualizações e curtidas do que vídeos contendo informações precisas”, explica o médico.

Muitos destes vídeos indicam "soluções milagrosas", descredibilizam os tratamentos, ou inventam "teorias da conspiração" sobre profissionais e substâncias utilizadas no tratamento da doença.

“Soluções para esse problema não são simples. Mas, os médicos e provedores de assistência médica podem ajudar mantendo as linhas de comunicação abertas, ouvindo os pacientes sem julgamentos, trabalhando com eles como parceiros para tomar decisões sobre triagem e tratamento de câncer e fornecendo a eles recursos sugeridos para mais informações”, explica o especialista.

Muitos destes conteúdos mencionam uma “medicina alternativa” como tratamento para a doença.

“Mas o tal tratamento simples não vem sem dano. Estudo publicado em 2017, por exemplo, descobriu que pessoas com câncer que usaram tratamentos alternativos ou complementares em vez de tratamentos convencionais contra o câncer tiveram um risco maior de morrer do que pessoas que receberam terapia convencional contra o câncer”, alerta o oncologista.

Os danos potenciais, segundo o médico, incluem efeitos perigosos de um tratamento sugerido, atrasar ou não procurar atendimento médico para uma condição tratável ou curável e danos financeiros, incluindo desperdício de dinheiro.

O oncologista é bem claro quanto à principal dica após o diagnóstico: confiar no médico e esclarecer todas as dúvidas com ele.

“Médicos que diagnosticam e tratam câncer têm lidado com desinformação há muito tempo. E algumas desinformações podem levar os pacientes a expressar dúvidas, hesitação ou medo de aderir a tratamentos comprovados. Para essas situações, devemos ouvir as preocupações das pessoas com empatia e respeito. E, se possível, criar uma abertura para que o paciente tire todas as dúvidas de seu tratamento”, explica o médico. “É muito importante ter uma discussão aberta com as pessoas sobre o que elas viram nas mídias sociais e compartilhar informações baseadas em evidências sobre o que é recomendado em seus casos”, acrescenta.

Até mesmo suplementos naturais, substâncias aparentemente inofensivas e mudanças na dieta devem ser discutidas com o médico e sua equipe multidisciplinar.

“Alguns suplementos alimentares, por exemplo, podem interagir com seu tratamento, então é sempre importante conversar com seu médico. Além disso, estratégias alimentares devem também fazer parte dessa discussão, pois não é indicado retirar grupos alimentares da dieta, nem fazer restrições que possam piorar a qualidade de vida do paciente”, destaca. “O diagnóstico de câncer é sempre difícil, mas é importante confiar no médico e entender que nenhum suplemento, alimento ou estratégia alternativa terá efeito milagroso. O tratamento oncológico evoluiu muito, com medicamentos quimioterápicos e biológicos, que podem fazer o câncer entrar em remissão, permitindo ao paciente, após todo tratamento e acompanhamento, ser curado”, conclui Ramon.

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