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Saúde

Falta de medicamentos afeta consumidores e hospitais em São Paulo

Problema inclui antibióticos de uso infantil, antialérgicos e até dipirona de uso hospitalar. Pediatras trocam receitas para ajudar os pais a iniciar tratamento

Farmácia PopularFarmácia Popular - Foto: Arquivo/Agência Brasil

A falta ou dificuldade para aquisição de antibióticos, antialérgicos e até mesmo dipirona afeta o consumidor e também os hospitais em São Paulo. Dados preliminares de uma pesquisa do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp), iniciada na semana passada com instituições da capital e do interior, mostram que pelo menos um terço tem tido problemas com fornecimento antibióticos e aminoglicosídeos (gentamicina, amicacina, estreptomicina e tobramicina), além de dipirona, Dramin B6 injetável e imunoglobulina humana, usada no tratamento de desordens imunológicas. Além da dificuldade de compra de alguns remédios, 72% dos hospitais afirmam que têm enfrentado aumentos significativos de preços.

Vendedores de farmácias de grandes redes, como Droga Raia, Drogasil e Drogaria São Paulo, ouvidos pelo GLOBO, confirmam que, para o consumidor, estão em falta medicamentos de uso infantil como amoxilina pura e com clavunanalto e azitromicina. Segundo eles, antialérgicos e xaropes também enfrentam problemas com reposição irregular, o que obriga os consumidores a voltar ao médico para trocar receitas. Os representantes de laboratórios dizem a eles que é o problema é temporário, devido à alta demanda.

O presidente do SindHosp, Francisco Balestrin, afirma que o problema de reposição de estoques nos hospitais começou há cerca de um mês e meio e a entidade fez um alerta.

Na avaliação dele, a dificuldade de abastecimento está na desorganização do fluxo do comércio internacional, iniciada com a paralisação de cadeias produtivas durante e pandemia e agravada pela invasão da Ucrânia pela Rússia e pela política Covid zero da China, que junto com a Índia são os maiores produtores de insumos farmacêuticos. Há ainda o aumento nos preços dos combustíveis, que pressionam os custos devido ao frete.

"Esse conjunto de fatores afeta os fluxos de comércio exterior e os preços. Veja o caso da dipirona injetável. A ampola âmbar, usada para acondicionar o remédio, ficou mais cara do que todo o produto todo pronto", diz ele.

Os médicos do Hospital Infantil Sabará, referência no atendimento a crianças na capital paulista, estão tendo problemas para prescrever os medicamentos. O médico Thales Araújo, gerente do Pronto Socorro, confirma que há desabastecimento de antibióticos para crianças nas farmácias. Em geral, as crianças tomam o remédio do tipo suspensão (líquido) e não comprimidos.

Segundo ele, a demanda está alta desde o fim de março, com o início, e com a volta da chamada "vida normal", com adultos e crianças sem máscaras nas escolas. Os vírus respiratórios -- como os da gripe e o vírus sincicial respiratório (VSR), que acomete principalmente crianças -- são sazonais e costumam circulam mais nesta época do ano.

"Voltamos ao fluxo de atendimento anterior à pandemia. Nos últimos dois anos as crianças ficaram em casa e houve redução na circulação dos vírus respiratórios. Agora, elas voltaram a ficar suscetíveis", diz Araújo.

A falta de medicamentos nas farmácias, diz o médico, gera ansiedade e preocupação às famílias, que precisam iniciar logo o tratamento das infecções respiratórias. Cerca de 60% das crianças atendidas têm até 4 anos de idade.

"São antibióticos muito usados e que fazem muita falta. Normalmente temos antibióticos de primeira, segunda e terceira escolha. É preciso buscar alternativas para iniciar o tratamento logo", diz ele.

Para enfrentar a escassez de produtos nas farmácias, os pediatras do Sabará passaram a fazer receitas com várias opções de antibióticos e antialérgicos. Além disso, o hospital passou a usar a telemedicina, para que a situação possa ser avaliada com os pais e a nova receita enviada eletronicamente, sem necessidade de retorno ao hospital.

Araújo afirma que também o setor de compras do Sabará fez alerta interno para a dificuldade de reposição de remédios. Segundo ele, o estoque desses produtos está sendo controlado e ainda não houve falta de nenhum remédio para pacientes internados.

"É uma situação muito difícil. A equipe se desdobra para ajudar as famílias a iniciar o tratamento logo", diz ele.

O Aché, um dos laboratórios procurados pelo GLOBO, informou que o aumento de casos de doenças respiratórias nos últimos meses tem provocado um crescimento atípico na demanda por produtos para essas necessidades e que se trata de uma situação pontual, mas que alcança todo o mercado farmacêutico nacional.

"O Aché está empenhado na regularização dos estoques e comercialização para breve, previstas para os meses de maio e junho", diz a nota.

O laboratório Sandoz, em nota, informou que a produção de amoxicilina + clavulanato de potássio, utilizado principalmente na área da pediatria, segue normalmente seu fluxo de manufatura, mas que pode ocorrer desabastecimento pontual e que está trabalhando para minimizar os impactos da pandemia também na distribuição dos medicamentos.

"O fenômeno de desabastecimento de medicamentos vem sendo enfrentado de forma constante no país e no mundo, principalmente devido à retomada da demanda global, resultante da flexibilização de atividades e circulação de pessoas, após o período de quase dois anos de isolamento causado pela pandemia de Covid-19", afirma nota.

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