Futuro incerto para microcéfalos
Um ano após a descoberta do mal provocado pelo zika, famílias reclamam da rede de saúde
Um ano depois do decreto nacional de emergência em saúde devido ao aumento dos casos de microcefalia provocado pelo zika, um longo caminho já foi percorrido. No entanto, ainda há muito a ser feito na avaliação das famílias atingidas, da sociedade civil, de entidades médicas e do poder público.
As famílias dos bebês microcéfalos são unânimes em dizer que a rede de saúde ainda é insuficiente para dar apoio aos tratamentos. Embora o crescimento dos casos da anomalia tenha desacelerado, o que indica um controle, o futuro dessas crianças continua incerto. O Brasil completou agora dez mil notificações. Pernambuco, 2.175.
“Usamos a lanterna do celular e pratos coloridos. Tentamos fazer o possível”, disse a mãe, acrescentando que só tem uma consulta mensal de terapia ocupacional na AACD e uma semanal de oftalmologia na Fundação Altino Ventura. “Nunca conseguimos uma vaga para a fisioterapia dela, então agora vamos ter de pagar R$400 numa clínica particular.” A renda da família é de um salário mínimo vindo do benefício de prestação continuada da filha.
Agora, a menina precisa tomar um leite especial. A lata custa R$104 e só dura três dias. Para isto, a família está recebendo ajuda de amigos. “Os amigos, às vezes, fazem cotinha. Pedimos a lata à Secretaria de Saúde, mas até agora não nos ajudaram.” Procurada, a Secretaria de Saúde do Recife disse que precisaria checar o protocolo da solicitação feita por Nádia.
Número de mortes chega a 103 em PE
Chegou a 103 o número de mortes notificadas de bebês pernambucanos que nasceram com microcefalia. O número representa 4,7% do total de suspeitas da malformação. Até agora são 53 natimortos (óbitos fetais), 40 neomortos (quando óbito ocorre até 27 dias após o nascimento) e dez ocorreram no período pós-neonatal (óbito após os 27 dias do nascimento). As vítimas estão espalhadas por 55 cidades.
Entre os notificados, 92 (89,3%) permaneceram em investigação. A pediatra e integrante do grupo de trabalho estadual de mortalidade em menores de 1 ano, Daniele Cruz explicou que a confirmação da infecção viral tem sido complicada, principalmente nos casos dos natimortos. “Para confirmação pelo Ministério da Saúde precisamos dos exames e está um pouco difícil à coleta deles porque o feto nasce muito macerado, muito destruído. Então, quando encaminhamos para o Instituto Evandro Chagas (no Pará), eles já chegam em estado que não dá para fazer os exames.”
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Ela esclareceu que os óbitos fetais acontecem intrautero depois da 22ª semana. O que tem se observado nos 53 casos natimortos é que a gravidez estava num curso normal, quando perto dos sete ou oito meses se verificou que a criança estava sem vida.
“O que temos visto é que nesses casos os bebês têm mais alterações. Não só microcefalia, mas também artrogripose e outras gravidades. Em algum momento, simplesmente, o coração dele para de bater na barriga”, contou a especialista. Os neomortos são vítimas de infecções diversas e os pós-neonatal tem morrido devido à pneumonia causada por problema de deglutição.