história
Garota pode derrubar tese pré-histórica de homens caçadores
Os dados estão na revista especializada Science Advances
Uma adolescente que viveu nos Andes há 9.000 anos pode ajudar a desbancar a velha tese de que os grandes caçadores da pré-história pertenciam exclusivamente ao sexo masculino. A garota foi sepultada com pontas de lança e outros implementos usados para abater e esquartejar mamíferos de grande porte.
Surpresos com a descoberta, que contraria o que se sabe sobre a divisão de trabalho entre mulheres e homens nos grupos atuais de caçadores-coletores, os arqueólogos que encontraram o esqueleto da moça resolveram revisar dados anteriores sobre o tema. Esse levantamento mostrou que a presença de mulheres enterradas com aparato de caça entre os mais antigos habitantes das Américas é relativamente comum, chegando perto de empatar com a de homens.
Os dados estão na revista especializada Science Advances. Foram obtidos por pesquisadores dos EUA e do Peru e vêm do sítio arqueológico de Wilamaya Patjxa (sul do território peruano). A área fica quase 4.000 metros acima do nível do mar e, por isso, vem sendo estudada para entender como se iniciou a ocupação dos ambientes andinos de grande altitude.
Até agora, as escavações em Wilamaya Patjxa revelaram sepultamentos de seis pessoas. Entre elas, duas foram enterradas com pontas de pedra correspondentes a antigos projéteis. "Certamente estávamos interessados em aprender mais sobre a organização social desse grupo, mas não esperávamos obter dados sobre a divisão sexual do trabalho –e não imaginávamos que a sepultura de uma caçadora fosse aparecer", conta Randall Haas, pesquisador do Departamento de Antropologia da Universidade da Califórnia em Davis e um dos autores do estudo.
Dos artefatos achados na sepultura da moça, quatro são pontas de pedra que, para os pesquisadores, seriam usados em dardos delgados e compridos, despachados com a ajuda de um "atlatl" ou atirador de lanças. Esse tipo de instrumento funciona como uma alavanca.
Entre as outras ferramentas de pedra achadas na sepultura estão uma faca, raspadores e pigmento ocre (esses dois últimos provavelmente eram usados para processar o couro dos animais caçados). No sítio também foram encontrados ossos das prováveis presas: um veado andino conhecido como "taruca" e a vicunha, parente das lhamas.
Completando o trabalho, a base de dados estudada pelos pesquisadores, abrangendo populações antigas das Américas entre o fim do Pleistoceno (a Era do Gelo) e o começo do Holoceno (algo entre 15 mil e 8.000 anos atrás, portanto), sugere que a garota andina não era um caso isolado. De 27 esqueletos cujo sexo em vida foi definido e cujas sepulturas continham armas para caçar animais de grande porte, 11 seriam de mulheres.
No entanto, esse equilíbrio desapareceu entre as populações tradicionais modernas, nas quais a caça é "tarefa de homem" praticamente em todos os casos. Por que as coisas teriam mudado do fim da Era do Gelo para cá? "É uma excelente pergunta e, a esta altura, não acho que as evidências favoreçam algum modelo em especial", diz Haas.
Uma possibilidade, diz ele, é que a invenção do arco e flecha, que exigia mais força física e treinamento para ser manejado do que os dardos atirados por "atlatl", tenha influenciado essa mudança. "Também parece possível que o surgimento de dietas mais diversificadas, menos baseadas na carne de grandes animais de caça e mais na coleta de recursos vegetais, tenha criado novos contextos para a divisão de trabalho. Creio que essa será uma área importante para pesquisas futuras."
Veja também

Coronavírus
Camaragibe inicia vacinação para idosos acima de 85 anos

Coronavírus
Reino Unido é o primeiro país europeu a superar marca de 100 mil mortes por Covid-19

Presidente
Bolsonaro se vangloria de número de vacinados e agora defende imunização 'para a economia funcionar'

Entrevista
Brasil terá vacinas de consórcio em março; envio será limitado até junho, diz vice-diretor da Opas
