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EUA

Governistas e opositores de Israel aplaudem plano de Trump para reassentar palestinos de Gaza

Ex-ministro de extrema direita sugeriu que seu partido voltará à coalizão do premier Benjamin Netanyahu se ele começar a implementar as ideias do presidente americano

Plano é defendido pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, mas sofreu duras críticas da comunidade internacional e da Autoridade Palestina, que acusa Israel de "limpeza étnica"Plano é defendido pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, mas sofreu duras críticas da comunidade internacional e da Autoridade Palestina, que acusa Israel de "limpeza étnica" - Foto: Jim Watson / AFP

As declarações do presidente americano, Donald Trump, sobre seu desejo de que os Estados Unidos assumam o controle da Faixa de Gaza, depois de sugerir também que toda a população palestina do enclave seja realocada, foi bem recebida por boa parte da classe política de Israel nesta quarta-feira, incluindo líderes da oposição.

O plano é defendido pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, mas sofreu duras críticas da comunidade internacional e da Autoridade Palestina, que acusa Israel de "limpeza étnica".

— Gaza em sua forma anterior não tem futuro. Outra solução deve ser encontrada, e é isso que o presidente Trump está tentando fazer — declarou o ministro das Relações Exteriores, Gideon Sa'ar ao plenário do Knesset, o Parlamento de Israel.

— Desde que a migração seja realizada por livre e espontânea vontade de uma pessoa e desde que haja um país disposto a aceitá-la, não se pode dizer que seja imoral ou desumana.

Sa'ar disse ainda que Gaza está cheia de "ódio por Israel e o desejo de destruí-lo".

— Acredito que, junto com o governo americano liderado pelo presidente Trump, temos a oportunidade de pelo menos tentar construir um futuro melhor para nós mesmos e para todo o Oriente Médio — acrescentou.

— Portanto, nesse espírito, sugiro que também examinemos as novas ideias apresentadas pelo presidente dos EUA [para o] experimento fracassado [que é Gaza].

Outros ministros do governo israelense foram ao X para mostrar seu apreço e entusiasmo após a reunião do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu com Trump em Washington, nos EUA.

"Isso é o que acontece quando dois líderes corajosos se encontram", escreveu a ministra dos Transportes, Miri Regev.

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Já o ministro da Energia, Eli Cohen, disse que essa é uma “manhã histórica para o Estado de Israel, o Oriente Médio e o mundo”, enquanto o presidente do Knesset, Amir Ohana, descreveu o fato como "o amanhecer de um novo dia".

O ministro da Cultura e dos Esportes, Miki Zohar, também ficou muito entusiasmado: "Temos um ótimo primeiro-ministro e um presidente americano incrível! Graças a Deus por esse milagre que Ele realizou para o povo de Israel".

“Juntos, tornaremos o mundo grande novamente”, disse o Ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, de extrema direita.

Retorno à coalizão
Por sua vez, o ex-ministro da Segurança Interna, Itamar Ben-Gvir, sugeriu que seu partido, o Partido Judaico, também de extrema direita, voltará à coalizão se Netanyahu começar a implementar o plano de Trump para Gaza.

Ben-Gvir renunciou ao cargo em 18 de janeiro em retaliação ao acordo de cessar-fogo aprovado com o Hamas na Faixa de Gaza, embora tenha afirmado que não derrubaria o governo.

Na ocasião, ele chamou o acordo de "imprudente" e disse que consideraria voltar ao governo se a guerra recomeçasse após a primeira fase da trégua.

— Ainda não costurei um novo terno ministerial, mas não há dúvida de que as chances de o Partido Judaico retornar ao governo aumentaram — afirmou o político ultranacionalista à Radio Galei Israel.

— A bola agora está nas mãos do primeiro-ministro. Assim que começarmos e houver a intenção de implementá-lo, estarei de volta. Não quero me estender sobre essa conversa, já existem planos.

Ben Gvir, que há muito tempo defende o que ele chama de "migração voluntária" da Faixa de Gaza, disse que não é hora de “política mesquinha”.

— Temos uma grande oportunidade e não podemos perdê-la. Mesmo antes de 7 de outubro, eu incentivava a emigração e eles zombavam de mim. Devemos abraçá-la e não apenas fazer uma declaração. É hora de implementá-la e promovê-la — declarou.

— Houve aqueles que trabalharam nesse projeto em Israel muito antes e ganharam apelidos como "messiânico e delirante", então agora é a hora de passar para a implementação."

O líder opositor Benny Gantz, da Unidade Nacional, também avaliou positivamente o plano esboçado por Trump e defendeu o "pensamento criativo, original e interessante" do presidente americano.

"O presidente Trump demonstrou, e não pela primeira vez, que é um verdadeiro amigo de Israel e continuará a apoiá-lo em questões importantes para fortalecer sua segurança", disse Gantz em um comunicado, acrescentando que as falas do presidente americano representam "mais uma prova da profunda aliança entre os Estados Unidos e Israel.

“Em suas observações, ele apresentou um pensamento criativo, original e interessante, que deve ser examinado juntamente com a realização dos objetivos da guerra, dando prioridade ao retorno de todos os reféns.”

Yair Lapid, outro importante opositor, à frente do centrista Yesh Atid, descreveu a entrevista coletiva desta quarta-feira como "boa para o Estado de Israel", mas ponderou que é necessária uma análise mais minuciosa dos planos para Gaza.

— Teremos que estudar os detalhes para entender qual é o plano para Gaza — disse ele à Army Radio, após a entrevista coletiva conjunta de Netanyahu e Trump, acrescentando que pretende apresentar "um plano suplementar aos americanos" durante sua própria visita a Washington, planejada para o final do mês. — O papel da liderança israelense é apresentar planos, não apenas esperar pelos americanos”.

"Explodir pontes"
A ideia de reassentar os palestinos em outros países agradou aos líderes dos colonos israelenses, que pediram ao governo israelense que implemente o plano imediatamente e comece a construir assentamentos judaicos no território.

— [A proposta equivale a] declarar o fim do sonho palestino de destruir Israel por meio de Gaza ou o estabelecimento de um Estado palestino no coração da terra de Israel — disse Israel Ganz, chefe do Conselho Yesha, órgão que reúne os colonos.

Uma das poucas vozes dissonantes em Israel partiu de Ofer Cassif, um parlamentar de extrema-esquerda suspenso do Knesset desde novembro por criticar as Forças Armadas de Israel e a guerra em Gaza, e que também defende a criação de um Estado palestino.

Nesta quarta, ele ameaçou "explodir as pontes" para impedir a possível realocação dos moradores de Gaza.

“Diante da noção de deportação e exílio árabe — "transferência" — devemos nos levantar e dizer de forma clara e simples: será impossível porque não permitiremos”, escreveu Cassif, o único membro judeu do partido Hadash-Ta'al, de maioria árabe, em um post em inglês na rede social X. “Mesmo que tenhamos que nos deitar sob as rodas dos caminhões. Mesmo que tenhamos que explodir as pontes. Não haverá deportação em massa pela força, porque não permitiremos que isso aconteça."

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