Notícias

Grupo de brasileiros tenta cancelar cruzeiro para Ásia por medo do coronavírus

A empresa mudou parte do roteiro e afirma que não vai permitir o embarque de pessoas com sintomas da doença ou quem esteve recentemente nas áreas mais afetadas

CoronavírusCoronavírus - Foto: ROMEO GACAD / AFP

Era para ser a viagem dos sonhos: um mês em alto mar na Ásia, passando por Emirados Árabes, Sri Lanka, Tailândia, Malásia, Singapura, China, Hong Kong, Taiwan e, por fim, Japão.

Bom, até o coronavírus aparecer e frustrar os preparativos para o cruzeiro que vai sair de Dubai no dia 21 de março. Agora, um grupo de ao menos 50 brasileiros quer desistir da ida, mas a operadora, a MSC, está cobrando uma multa de 60% para o cancelamento.

A empresa mudou parte do roteiro e afirma que não vai permitir o embarque de pessoas com sintomas da doença ou quem esteve recentemente nas áreas mais afetadas. Também diz que irá isolar os hóspedes que tiverem febre durante o trajeto.

Quem pagou cerca de R$ 15 mil reais pela viagem, fora o trecho de avião, no entanto, não quer arriscar. A maioria dos viajantes é aposentada e tem mais de 50 anos. Parte deles convive com doenças respiratórias como asma, pneumonia, bronquite e enfisema pulmonar.

Leia também:
China pede que pessoas que se curaram de coronavírus doem plasma
Anvisa descarta suspeita de coronavírus em navio no Porto de Santos, em São Paulo


O agora chamado covid-19 é um vírus que pode causar doenças respiratórias que variam de resfriados comuns até a Sars (síndrome respiratória aguda grave).Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), 72% das pessoas infectadas tinham mais de 40 anos e em 40% dos casos os pacientes tinham outras doenças, como diabetes, pressão alta e problemas cardiovasculares.

As mortes também estão concentradas em pessoas mais velhas e que já tinham outras condições clínicas associadas. O grupo quer mesmo é cancelar a viagem sem ter que pagar a multa e receber o dinheiro de volta, já que em todos os países por onde o navio deve passar há ao menos uma pessoa infectada. Alguns topam fazer outro roteiro, bem longe da Ásia, ou ficar com um bônus ou crédito na MSC para embarcar numa nova data.

No fim de janeiro, a OMS declarou que a epidemia do novo coronavírus é uma emergência de saúde internacional. Com isso, a entidade reconheceu que o vírus representa um risco não só na China, onde ele surgiu no fim de 2019, mas no mundo.

A China, no entanto, ainda concentra 46.550 dos 46.997 casos confirmados, de acordo com boletim desta sexta-feira (14) da OMS. Já são 1.368 mortes no país asiático.

O Ministério da Saúde do Brasil passou a desaconselhar viagens para a China no final de janeiro. Em meio a crise, dois aviões foram enviados para buscar um grupo de brasileiros que estava no epicentro da doença, na região de Wuhan. Eles estão em quarentena em Anápolis (GO).

A paulista Joyce Pereira, 43, iria embarcar com a mãe, Ana Cleia Pereira, 66, e mais oito pessoas da família, que vive em São Vicente, no litoral do estado. Eles desistiram e vão entrar na Justiça contra a MSC caso não cheguem a um acordo.
"Não faz sentido ir de encontro à tragédia. Era para ser um cruzeiro do sonho e está virando um pesadelo", diz Joyce. "A empresa quer que a gente cancele como se fosse desejo nosso, mas não acho justo pagar por uma epidemia."

A jornalista aposentada Eliane Costa, 63, é apaixonada por cruzeiros. "Fiz muitas travessias e todas muito felizes", diz a paulistana, que já tem outra rota na agenda: Nova York, Canadá e Miami, em outubro. Mas não esperava ter que lidar com o estresse da ida à Ásia.

"Com navios à deriva, tantos mortos, a MSC insiste em dizer que não vai mais parar na China, Hong Kong e Taiwan, onde estão proibindo os navios de atracar. Tailândia também proibiu e deve ser mais uma mudança. Já não é a viagem que a gente queria fazer", afirma.

Luciano Nunes Volkart, 55, que vive em Bombinhas (SC), ao contrário, vai fazer a rota de qualquer jeito. "Só não vou se eles cancelarem tudo. Acredito que daqui a 36 dias, quando vamos embarcar, o governo chinês já tenha arrumado uma solução para a crise."

Ele também acha que o esquema de não embarcar passageiro com sintomas vai dar certo. "Estou bem tranquilo quanto a isso. Tive leucemia, fiquei com a imunidade baixa, mas não acho que o vírus vá circular dentro do navio. A companhia vai estar preocupada porque é prejuízo para eles próprios."

Para a indústria de cruzeiros, o coronavírus é mesmo um pesadelo publicitário. Há mais de uma semana, o navio Diamond Princess está em quarentena no porto japonês de Yokohama, com seus 3.600 passageiros e tripulantes presos e o número de pessoas infectadas pelo coronavírus chegando a pelo menos 175.

Uma segunda embarcação que navegava pelo Mar do Sul da China foi recusada em cinco portos por temores de que uma pessoa a bordo estivesse infectada pelo vírus. Segundo o Procon, consumidores que compraram passagens ou pacotes para os países que confirmaram casos de coronavírus têm direito a fazer o cancelamento sem ônus ou negociar a remarcação com o pagamento de multas no menor valor possível.

Sites de reservas com escritórios no Brasil, agências de turismo ou companhias aéreas poderão oferecer uma alternativa ao consumidor, como reagendamento ou troca de destino, mas deverá prevalecer a decisão do cliente.

O Código de Defesa do Consumidor (CDC) prevê a possibilidade de rescisão de contratos diante de situações em que há risco à vida, à saúde ou à segurança do cidadão. A regra se aplica a serviços turísticos em situações como terremoto, guerra e epidemia, por exemplo.

Em Nota, a MSC diz que os passageiros estão sujeitos à política de cancelamento padrão. "Caberá às pessoas solicitar o reembolso por meio de seu seguro de viagem pessoal", diz o texto.

A companhia diz ainda que está verificando portos alternativos para a escala que deveria acontecer em Shenzen, na China.

Quais os seus direitos
Quem tem pacote, passagem e hospedagem reservadas para a China pode pedir o ressarcimento ou substituição dos serviços, sem pagamento de multa. O entendimento do Procon é que a regra vale apenas para a China, em razão de ser reconhecida área de risco da doença. Não se aplica, por exemplo, a países próximos, como Tailândia ou Japão. Quem não conseguir fazer acordo amigável com o fornecedor deverá procurar o Procon da cidade.

Veja também

Conheça Irmã Marluce, pernambucana de 61 anos que tem ganhado as redes com vídeos de cross training
Nunca é tarde

Conheça Irmã Marluce, pernambucana de 61 anos que tem ganhado as redes com vídeos de cross training

Cônsul-Geral da China quer fortalecer amizade entre País asiático e Nordeste brasileiro
NORDESTE

Cônsul-Geral da China quer fortalecer amizade entre País asiático e Nordeste brasileiro

Newsletter