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Guatemala enfrenta ameaças à democracia a um mês da eleição

O vencedor do segundo turno substituirá o presidente Alejandro Giammattei, que deve entregar o poder em 14 de janeiro de 2024, pondo fim a 12 anos de governos de direita

GuatemalaGuatemala - Foto: Johan Ordonez/AFP

A um mês de uma eleição presidencial inédita entre dois candidatos social-democratas, Sandra Torres e Bernardo Arévalo, a Guatemala vive na incerteza após sucessivas decisões judiciais que colocam em risco o sistema democrático, segundo analistas e diplomatas.

Recursos judiciais de partidos de direita que perderam o primeiro turno presidencial, em 25 de junho, e uma polêmica desabilitação do partido de Arévalo (anulada um dia depois), o Semilla, obscureceram a campanha para o segundo turno em 20 de agosto, além de um mandado de prisão a uma aliada deste candidato.

Para a analista guatemalteca independente Marielos Chang, a Guatemala vive uma situação sem precedentes desde que o país voltou à democracia em 1985, após três décadas de ditaduras militares.

"Isso é algo que a gente não via em nenhum outro processo [eleitoral], vejo um quadro complicado. Não é um segundo turno normal como temos em outros processos [desde 1985], será um segundo turno muito turbulento", disse a cientista política à AFP.
 

O chefe da missão eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA), ex-chanceler paraguaio Eladio Loizaga, disse na quarta-feira ao Conselho Permanente da organização que "o abuso de instrumentos jurídicos por parte de atores insatisfeitos com os resultados introduziu um alto grau de incerteza no processo eleitoral e pôs em risco a estabilidade democrática do país".

"O que está acontecendo na Guatemala afeta a todos nós, mina nossos compromissos com a Carta Democrática [Americana] e, mais importante, silencia as vozes do povo guatemalteco, que merece eleger seus próprios líderes", disse ao Conselho Permanente o embaixador dos Estados Unidos na OEA, Francisco Mora.

"Mais conflitos"
O vencedor do segundo turno substituirá o presidente Alejandro Giammattei, que deve entregar o poder em 14 de janeiro de 2024, pondo fim a 12 anos de governos de direita.

Arévalo foi a surpresa do primeiro turno, pois estava em oitavo lugar nas pesquisas anteriores.

Até aquele dia, ele era desconhecido para milhares de guatemaltecos, mas seu discurso anticorrupção parece conquistar eleitores nas urnas, o que deixa desesperados alguns de seus proeminentes adversários políticos.

Em 12 de julho, o juiz Fredy Orellana desabilitou a candidatura do partido Semilla, a pedido do procurador Rafael Curruchiche, que acusa esse partido criado em 2017 de irregularidades no registro de filiados.

A decisão do juiz retirou Arévalo da disputa eleitoral e foi altamente polêmica, já que a própria lei guatemalteca estabelece que "um partido não pode ser suspenso após a convocação de uma eleição e até que ela seja realizada".

O mesmo juiz emitiu esta semana um mandado de prisão contra Cinthya Rojas, líder do Semilla, que levou Arévalo a denunciar uma "perseguição política" contra seu partido.

"Os níveis de conflito" podem aumentar se "mais mandados de prisão contra outros membros" do Semilla continuarem, alertou Chang.

Poucos dias depois do primeiro turno, nove partidos derrotados denunciaram uma suposta fraude na contagem dos votos. A Justiça determinou uma nova apuração, que confirmou os resultados.

Todas essas manobras obrigaram Arévalo e Torres a atrasar o início da campanha eleitoral por mais de duas semanas.

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