Guatemala

Guatemaltecos queimam a sede do Congresso após cortes na saúde, educação e combate à pobreza

O Congresso destinou a maioria dos fundos de orçamento para 2021 a infraestruturas com o setor privado

Centenas de manifestantes queimaram a sede do Congresso da GuatemalaCentenas de manifestantes queimaram a sede do Congresso da Guatemala - Foto: Johan Ordonez / AFP

Alegando cansaço e abuso, centenas de guatemaltecos queimaram no sábado (21) a sede do Congresso e exigiram a renúncia do presidente Alejandro Giammattei, após a aprovação do orçamento de 2021, o mais alto na história do país, que não contempla aumentos na esfera social e prevê um forte endividamento público. O orçamento aprovado não prevê aumentos nos investimentos em saúde, educação ou no combate à pobreza e à desnutrição infantil. 

As chamas no palácio Legislativo eram vistas da rua. A Cruz Vermelha atendeu várias pessoas com intoxicação, disse à imprensa Andrés Lemus, porta-voz da organização.

Paralelamente, manifestantes reunidos pacificamente em frente ao antigo palácio do governo, no centro histórico da capital e próximo ao Congresso, exigiam a renúncia do presidente.

Erguendo bandeiras azul e branco do país e cartazes que diziam "Chega de corrupção", "Fora Giammattei" e "Se meteram com a geração errada", os manifestantes encheram a praça central em frente à antiga sede do governo.

"A Guatemala chora sangue, o povo já está farto de viver pisoteado por mais de 200 anos", disse um manifestante que não se identificou.

Na manifestação do Congresso, a polícia prendeu mais de vinte pessoas e quase cinquenta foram hospitalizadas por lesões, uma delas em estado grave.

"Eu estava caminhando e me agarraram. Não fiz nada, tenho meu direito constitucional de greve", alegou outro manifestante.

Os uniformizados lançaram gás lacrimogêneo aos manifestantes pacíficos da praça onde havia dezenas de crianças que entraram em pânico, segundo imagens divulgadas nas redes sociais.

Além da rejeição ao novo orçamento, a indignação também diz respeito à opacidade na gestão dos recursos utilizados para enfrentar a pandemia de coronavírus, assim como a rejeição à criação de um superministério liderado por um jovem próximo ao presidente.

"Estamos cansados, não há outra forma para demonstrar nosso repúdio, nossa exaustão, estamos cansados de tanto abuso por parte das autoridades", disse uma manifestante que também não se identificou.

O orçamento

O Congresso, em sua maioria composto pelo oficialismo e partidos afins, aprovou nesta semana um orçamento de quase 12,8 bilhões de dólares, 25% maior que o deste ano.

A maioria dos fundos está destinada a infraestruturas com o setor privado e não prevê aumentos nos investimentos em saúde, educação ou no combate à pobreza e à desnutrição infantil.

59,3% da população de quase 17 milhões de habitantes da Guatemala vive na pobreza e a desnutrição infantil afeta quase 50% das crianças menores de cinco anos.

Além disso, várias entidades econômicas e analistas alertam que há um risco que um terço do orçamento seja financiado por dívida.

O Congresso aprovou empréstimos de mais de 3,8 bilhões de dólares para atender a pandemia, embora menos de 15% desses recursos tenham sido concedidos para tal objetivo.

 Renúncia

Para complicar a situação, o vice-presidente do país, Guillermo Castillo, pediu a Giammattei na noite de sexta-feira que renuncie.

"Pelo bem do país, peço que apresentemos juntos a renúncia ao cargo", disse Castillo em um discurso à nação através das redes sociais.

O vice-presidente afirmou que comentou com presidente que "as coisas não vão bem" e admitiu que não tem uma boa relação com ele.

Se os dois governantes renunciarem, o Congresso terá que juramentar o chanceler. 

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