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Incidentes antissemitas durante protestos anti-Israel preocupam Europa

Apoiadores pró-palestinos protestam contra a violência em Israel e na Faixa de Gaza na Praça Dam, em AmsterdãApoiadores pró-palestinos protestam contra a violência em Israel e na Faixa de Gaza na Praça Dam, em Amsterdã - Foto: Evert Elzinga / ANP / AFP

Incidentes antissemitas em meio a protestos – majoritariamente pacíficos – contra o conflito Israel-Gaza fizeram soar o alerta em governos de vários países europeus. Eventos racistas foram relatados na Alemanha, na Áustria e no Reino Unido, e a Justiça da França proibiu manifestações para evitar conflitos.

As marchas pediam em sua maioria o fim dos ataques de Israel à faixa de Gaza – o mais recente conflito entre forças israelenses e o Hamas ultrapassa uma semana e já matou mais de 190 palestinos e ao menos 9 israelenses. Neste domingo (16), 10 crianças e 32 adultos foram mortos em Gaza, segundo autoridades locais de saúde.

Apesar de minoritários, episódios racistas nas manifestações pró-palestinos preocuparam governos. "Não vamos tolerar a queima de bandeiras israelenses em solo alemão nem ataques a instalações judaicas", declarou o ministro do Interior alemão (responsável por segurança), Horst Seehofer, após relatos de ataques a sinagogas e faixas e cantos antissemitas em manifestações no sábado (15).



Em Gelsenkirchen, cidade de 260 mil habitantes no oeste da Alemanha, cerca de 200 pessoas marcharam até uma sinagoga gritando slogans de ódio e jogaram pedra contra as janelas do edifício. A polícia prendeu alguns manifestantes, e ativistas antipreconceito organizaram uma vigília em frente ao templo, em repúdio ao antissemtisimo.

Num país marcado pela perseguição nazista aos judeus, manifestações antissemitas de qualquer grau são consideradas crime e a violência deve ser punida com "toda a força da lei", afirmou nesta segunda Wolfgang Schäuble, presidente do Bundestag (equivalente à Câmara dos Deputados). "A política de Israel pode ser duramente criticada, mas não há justificativa para antissemitismo, ódio e violência", disse o parlamentar à mídia local.

A condenação dos políticos aos ataques contra judeus foi apoiada por entidades pró-palestinos, como o Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha – que chamou os incidentes de "ataques nojentos contra nossos concidadãos judeus" – e a União Turco-Islâmica para Assuntos Religiosos, que pediu aos muçulmanos que se afastassem de extremistas.

O governo britânico também prendeu quatro manifestantes que atravessaram uma região de Londres onde se concentram judeus gritando, entre outros insultos, que iriam "estuprar suas filhas". Eles serão investigados por "crimes contra a ordem pública racialmente agravados".

As tensões no Reino Unido começaram a esquentar na última terça (13), quando pró-israelenses abriram bandeiras de Israel durante um protesto pró-palestinos. Manifestantes críticos de Israel tentaram atacá-los aos gritos de "malditos judeus", mas foram contidos pela polícia.

Nos dias seguintes, mais bandeiras israelenses foram queimadas e, em Norwich, no leste da Inglaterra, uma sinagoga recebeu pichações antissemitas, incluindo uma suástica. Nas redes sociais, a Federação Sionista da Grã-Bretanha desmarcou um ato em apoio a Israel que aconteceria no sábado: "Por enquanto, é muito perigoso para nós e para a polícia estar nas ruas".

Nesta segunda, o prefeito de Londres, Sadiq Khan, afirmou na TV que elevou policiamento na cidade "para tranquilizar os londrinos, especialmente aqueles de comunidades judaicas". O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, também condenou os incidentes dizendo que "não há lugar para antissemitismo no Reino Unido".

Na Áustria, manifestantes ameaçaram judeus citando a batalha de Khaybar – oásis na Arábia Saudita em que judeus foram derrotados por tropas lideradas por Maomé, no ano 628. "Judeus, lembrem-se de Khaybar, o exército de Maomé está voltando" era o slogan gritado por alto-falante e repetido por manifestantes, segundo jornais austríacos.

Na França, país onde convivem a maior população muçulmana da Europa (quase 6 milhões de pessoas, ou 8,8% da população) e a terceira maior comunidade judaica do mundo (cerca de 550 mil pessoas, atrás de Israel e EUA), a polícia conseguiu na Justiça a proibição das manifestações, por temer confrontos violentos como os que ocorreram durante 2014, também detonados por conflitos entre Israel e palestinos.

"Todos nós nos lembramos daquele protesto extremamente preocupante onde frases terríveis como 'morte aos judeus' foram gritadas", disse a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, à agência AFP. No episódio, sinagogas e instituições judaicas e israelenses foram atacadas.

Neste final de semana, mais de 4 mil policiais foram colocados nas ruas para impedir que cerca de 5 mil pessoas se reunissem nos arredores de Paris, onde há concentração de imigrantes muçulmanos. As marchas foram dispersadas com gás lacrimogêneo e jatos d'água.

Além dos confrontos físicos, autoridades policiais e ativistas mencionam uma escalada de ataques e insultos pelas redes sociais. Para eles, se o conflito entre Israel e Gaza se acentuar, a tendência é de escalada também no extremismo e na violência na Europa.

 

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