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Iphan tomba, no Recife, o terreiro de Pai Adão

Por unanimidade, colegiado do Iphan concedeu o título de patrimônio cultural do Brasil ao terreiro de candomblé mais antigo de Pernambuco

O terreiro, localizado em Água Fria, na Zona Norte do Recife, foi fundado em 1875O terreiro, localizado em Água Fria, na Zona Norte do Recife, foi fundado em 1875 - Foto: Rafael Furtado

Mais antigo espaço destinado ao candomblé em Pernambuco, o terreiro Obá Ogunté Sítio de Pai Adão foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em reunião do colegiado no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro. A decisão foi unânime. O terreiro, localizado no Estrada Velha de Água Fria, na Zona Norte do Recife, foi fundado, segundo registros, em 1875 por Inês Joaquina da Costa (conhecida como Tia Inês ou Ifá Tinuké), nigeriana da cidade de Egbá, que veio para Pernambuco juntamente com o companheiro, João Otolú, e outros africanos. Originalmente, chamava-se de Obá Omi, que significa Ieman­já, orixá que rege a casa.

Com a morte de tia Inês, assumiu o comando do terreiro o filho adotivo dela, Felipe Sabino da Costa, ou Ope Watanan, o Pai Adão - que “gozava de grande estima e respeito da parte dos intelectuais que se pesquisavam sobre os Xangôs de Pernambuco”, segundo registrou o Iphan. O falecimento do sacerdote, em 1936, teve grande repercussão no Recife e seu velório reuniu centenas de pessoas e foi noticiado pela imprensa. Ele foi um propagador de conhecimento de sua crença e embasou escritos do escritor e jornalista Gilberto Freyre, do médico Gonçalves Fernandes e dos antropólogos Waldemar Valente e René Ribeiro, expoentes dos estudos sobre candomblé no Estado.

O terreiro possui relevância histórica para compreensão das religiões de matrizes africanas no Brasil. Todo o local remete a um ambiente rural que remonta ao início da ocupação do bairro de Água Fria, inicialmente conhecido como Beberibe de Baixo. Há mais de 30 anos, o sacerdote do terreiro é o pai de santo, filho de Iemanjá, Manoel Papai, neto de Pai Adão, um dos maiores propagadores do candomblé nagô no Recife.

Bisneta de Pai Adão, a ekédi Conceição Costa de Oxalá considera que o tombamento enaltece a importância do terreiro e o respeito que as religiões de matriz africanas merecem. “À nossa volta, não sofremos preconceito, a comunidade cresceu ao lado do terreiro. Mas, na rua, acontece ainda de sermos desrespeitados.”

Como é uma referência, o terreiro de Pai Adão recebe turistas durante todo o ano todo, e a casa ainda é aberta para interessados no jogo de búzios (às quartas e sábados, das 9h às 11h30). O visitante (que pode agendar pelo telefone 3267-3277) conhecerá espaços sagrados destinados ao culto dos orixás, a capela centenária de Santa Inês (construída nos moldes católicos para disfarçar a prática do candomblé; na época, os praticantes do “xangô” eram perseguidos), um baobá com mais de um século de existência, logo à entrada do terreno; e a gameleira (venerada como divindade Iroko, trazida por Tia Inês da Nigéria ao Brasil).

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