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Itália anuncia intenção de emprestar peças e 'know how' para recuperação do Museu Nacional

A intenção dos italianos é de que as peças fiquem por cerca de 20 anos no país

Museu Nacional, destruido por um incêndio em setembro do ano passadoMuseu Nacional, destruido por um incêndio em setembro do ano passado - Foto: Tânia Rego/ Agência Brasil

Estava cheio o salão do Instituto Italiano de Cultura, no centro do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira (19). Por lá circulavam autoridades italianas, diretores de museus, curadores e pesquisadores que participavam do evento "O museu como laboratório". O ponto alto do dia, conforme adiantava o texto de divulgação do simpósio, seria um anúncio de cooperação entre Itália e Brasil para a recuperação do Museu Nacional, atingido por um grande incêndio em setembro do ano passado.

Os italianos manifestaram a intenção de ajudar por meio de duas principais iniciativas: fazendo um empréstimo a longo prazo de peças do parque e do museu arqueológico de Herculano e Nápoles, respectivamente, e oferecendo "know how" para a restauração e recuperação das peças atingidas pelo fogo. O incêndio destruiu a maior parte do acervo do Museu Nacional, gerando grande comoção e doações para a instituição.

A ideia das autoridades italianas, representadas no evento por Lucia Borgonzoni, vice-ministra de Bens e Atividades Culturais, e por Antonio Bernardini, embaixador da Itália no Brasil, é levar para o Instituto Italiano de Cultura no Rio um determinado número de peças de Herculano e Nápoles.

Quando o Museu Nacional estivesse recuperado e pronto para abrigar as coleções, o material seria transferido para a instituição. A intenção dos italianos é de que as peças fiquem por cerca de 20 anos no país. "Infelizmente não podemos fazer doação de patrimônio", disse Borgonzoni, membro do partido ultradireitista Liga.

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O anúncio dos italianos e o evento no instituto, no entanto, ocorreram ainda na fase inicial de conversações e antes do efetivo firmamento do acordo de cooperação.

O diretor do Museu Nacional Alexander Kellner disse à Folha de S.Paulo que vê com bons olhos a iniciativa do governo italiano, mas que não há acordo firmado entre o país e a instituição. Ele afirma que a prioridade no momento é a obtenção de verbas, até mesmo para a construção de um centro educacional com áreas para exposição.

"Apreciamos a intenção dos italianos, mas tem que ficar claro que a gente não consegue recuperar as coleções com empréstimos. Neste momento não nos interessa porque não temos onde colocar", diz Kellner.

O diretor também é resistente à ideia de expor as peças primeiramente no Instituto Italiano de Cultura porque avalia que, ao chegarem ao Museu Nacional, o ineditismo em torno da coleção já teria passado e o público teria um interesse menor em conhecê-la.

"Nossa prioridade é o centro educacional, onde, aí sim, poderia haver uma exposição, quem sabe, de Herculano e Pompeia", diz Kellner. O objetivo é construir o centro em um terreno adjacente ao Museu Nacional, com áreas para exposição e atividades recreacionais.

Outros países já estabeleceram cooperações com a instituição. O governo alemão doou quase R$ 1,5 milhão em verbas, enquanto o British Council repassou R$ 150 mil.

"Conseguimos recuperar vários materiais da [imperatriz] Tereza Cristina graças à verba do governo alemão. É isso que a gente precisa agora. 'Know how' sozinho não é suficiente. O Brasil tem gente que sabe fazer", afirma Kellner.

A imperatriz de origem italiana, casada com D. Pedro II, foi lembrada pelas autoridades da Itália durante o anúncio da cooperação. Tereza Cristina trouxe ao Brasil peças recuperadas em escavações promovidas em Herculano e Pompeia -e que séculos depois seriam atingidas no incêndio no Museu Nacional.

Em conversa com jornalistas, a vice-ministra Lucia Borgonzoni disse que é interessante para a Itália reconstruir esta coleção, por considerá-la importante em termos de acesso à cultura de seu país.

Brasil e Itália vêm estreitando laços desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que tem ascendência italiana. Em abril, o filho do presidente, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), foi ao país se encontrar com o líder da Liga, o vice-premiê e ultradireitista Matteo Salvini, que costuma fazer acenos ao presidente.

Borgonzoni, membro do mesmo partido, jantou nesta terça-feira (18) com o ministro da Cidadania Osmar Terra. Ela disse que conversou com o ministro sobre a possibilidade de intensificar a valorização da língua italiana no país.

"Fiquei muito impressionada com a ligação com a Itália, quase todo mundo aqui é descendente de italiano. A relação do Brasil com a Itália vai além das questões políticas, é uma origem comum que une os dois povos. Tem uma questão de solidariedade", afirmou.

O anúncio da possível cooperação foi realizado após uma reunião no início do mês entre Alberto Bonisoli, ministro dos Bens e das Atividades Culturais da Itália, e Antonio Patriota, embaixador do Brasil na Itália. Segundo nota do ministério, ambos conversaram sobre como fortalecer as relações entre os dois países e Bonisoli informou que a Itália colaboraria com o empréstimo de peças ao Museu Nacional.

"O objetivo é permitir que o público brasileiro, em particular jovens e estudantes, voltem a desfrutar aquela parte da herança cultural de origem italiana que foi destruída pelo incêndio", diz o texto. 

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