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FRANÇA

'Je suis Marine': extrema direita europeia apoia Le Pen após condenação por desvio de fundos

Francesa foi sentenciada a quatro anos de prisão, multa de 100 mil euros e ficará inelegível pelo prazo de cinco anos

'Je suis Marine': extrema direita europeia apoia Le Pen após condenação por desvio de fundos'Je suis Marine': extrema direita europeia apoia Le Pen após condenação por desvio de fundos - Foto: Alain Jocard/AFP

Os líderes de extrema direita europeia cerraram fileiras nesta segunda-feira em torno de Marine Le Pen e, para a alegria de Moscou e com o apoio de Elon Musk, atacaram a União Europeia, que eles consideram ser a principal responsável pela desqualificação política da líder da ultradireita francesa por cinco anos por apropriação indevida de fundos do Parlamento Europeu. A menos que o recurso legal anunciado seja bem-sucedido, a sentença complica muito suas chances de concorrer à Presidência da França nas eleições de 2027, para as quais ela estava despontando como favorita.

A condenação de Le Pen é uma “declaração de guerra de Bruxelas em um momento em que os impulsos beligerantes de [Ursula] Von der Leyen e [Emmanuel] Macron são aterrorizantes”, declarou o vice-primeiro-ministro italiano e líder da Liga, Matteo Salvini, nesta segunda-feira, em referência à presidente da Comissão Europeia e ao líder francês e seus esforços para pressionar pelo rearmamento europeu e pelo aumento da segurança diante da ameaça russa.

“Não vamos nos intimidar, não vamos parar: vamos com tudo, meu amigo", escreveu Salvini, que também já teve problemas com o sistema judiciário de seu país, em apoio a Le Pen.

Na visão do líder da Liga, esse cenário, no qual Le Pen foi proibida de ocupar cargos públicos por cinco anos, lembra os recentes acontecimentos políticos na Romênia, onde o candidato de extrema direita, Calin Georgescu, foi excluído da corrida presidencial pelo Tribunal Constitucional. Ele venceu contra todas as probabilidades no primeiro turno da eleição de 24 de novembro, mas a votação foi posteriormente anulada em uma decisão incomum na União Europeia.

“Je suis Marine! (Eu sou Marine!)”, escreveu o líder húngaro, Viktor Órban, ecoando o slogan "Je suis Charlie", amplamente usado para denunciar em 2015 o ataque terrorista ao jornal satírico Charlie Hebdo praticado por jihadistas em Paris depois que o semanário publicou uma charge de Maomé.

Para Órban, cujo partido Fidesz tem assento com o Reagrupamento Nacional (RN)de Le Pen no grupo dos Patriotas no Parlamento Europeu em Bruxelas, a líder francesa se junta às fileiras de “patriotas” que foram vítimas de um complô, como o presidente dos EUA, Donald Trump, ou o vice-premier italiano, Matteo Salvini, afirmou.

“Eles não conseguirão silenciar a voz do povo francês”, alertou o líder do partido de extrema direita espanhol Vox, Santiago Abascal, que convidou Le Pen para ir a Madri em fevereiro, junto com Órban e outros líderes do grupo parlamentar Patriotas pela Europa, encorajados pelo retorno de Trump à Casa Branca.

Na Holanda, o líder do partido de extrema direita que lidera a coalizão governista, Geert Wilders, disse que estava “chocado” com o que descreveu como uma sentença “incrivelmente dura”.

“Estou convencido de que ela ganhará a [apelação] e se tornará presidente da França”, afirmou no X.

De acordo com o líder político sérvio da Bósnia, Milorad Dodik, “os tribunais se tornaram as ferramentas daqueles que temem a democracia”.

"Marine Le Pen foi condenada porque é uma ameaça a um sistema que não sabe perder", disse Dodik, que foi recentemente condenado pelo Judiciário bósnio a uma pena de prisão e proibido de ocupar cargos públicos. "Je suis Marine."

O líder do partido Reformista do Reino Unido, Nigel Farage, disse que Le Pen foi “cancelada” pelo que ele descreve como “uma acusação muito forjada”, informou a BBC.

“Neste país, temos nove eleições municipais em 1º de maio que não acontecerão, e talvez não aconteçam por anos. E na França, eles cancelaram um candidato. Um candidato que, sem dúvida, teria vencido a próxima eleição presidencial francesa. E sabe de uma coisa, isso me parece uma acusação muito forjada”, afirmou.

A visão dos líderes europeus de extrema direita coincide com a de Moscou, que não perdeu a oportunidade de lançar um novo ataque contra a UE e seus valores:

— Cada vez mais as capitais europeias estão escolhendo o caminho do atropelamento das normas democráticas — disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acrescentando que, para Moscou, a condenação de Le Pen mostra que os governos europeus não se importam em “ultrapassar os limites da democracia”, depois que a Rússia apoiou publicamente Le Pen em eleições anteriores, além de ter financiado seu partido quando os bancos franceses fecharam as portas para ela.

Elon Musk, proprietário do X e aliado do presidente dos EUA, Donald Trump, também aproveitou a oportunidade para mais uma vez atacar o que ele chama genericamente de “esquerda radical” da Europa.

“Quando a esquerda radical não consegue vencer por meio do voto democrático, ela abusa do sistema legal para prender seus oponentes. Esse é seu manual padrão em todo o mundo”, comentou o bilionário, que usou sua plataforma digital para apoiar publicamente o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) nas eleições alemãs de fevereiro.

A única exceção entre os grupos europeus de extrema direita foi justamente a AfD, que, quando perguntada pela AFP, se recusou a reagir. O Reagrupamento Nacional havia se distanciado desse partido com posições muito radicais por causa de vários escândalos.

A líder de extrema direita da França, Marine Le Pen, foi condenada pela justiça francesa nesta segunda-feira por desvio de verbas públicas europeias em benefício do RN, partido que ajudou a transformar em uma das principais forças políticas do país. Le Pen foi sentenciada a quatro anos de prisão, que deverão ser cumpridos com uso de tornozeleira eletrônica, ao pagamento de uma multa de 100 mil euros (cerca de R$ 624 mil no câmbio atual), e ficará inelegível pelo prazo de cinco anos — o que, na prática, frustra seus planos de concorrer à Presidência em 2027.

O caso envolvendo Le Pen, e outras oito figuras do Reagrupamento Nacional, trata de um esquema de uso indevido de fundos da União Europeia, desviados para benefício do partido. A promotoria acusa o RN — e seu antecessor, a Frente Nacional — a usar a alocação orçamentária de 21 mil euros (R$ 131 mil) para subsídio mensal de assessores parlamentares de eurodeputados, para pagar funcionários que na verdade trabalhavam para o partido na França, que se concentravam em temas de política interna, entre 2004 e 2016. Le Pen nega irregularidades e diz que a promotoria está buscando sua "morte política".

Doze assistentes também foram condenados por ocultação de crime, com o tribunal estimando que o esquema desviou 2,9 milhões de euros (R$ 18,1 milhões). Todos os funcionários do RN, incluindo Le Pen, foram proibidos de concorrer a cargos, com a juíza especificando que a sanção deve entrar em vigor com efeito imediato, mesmo que um recurso seja interposto.

O veredicto é um grande golpe para as ambições presidenciais de Le Pen, uma política nacionalista e anti-imigração que era amplamente vista como uma das favoritas na corrida de 2027, apesar de três tentativas fracassadas no passado. (Com AFP)

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