Joias e carro de luxo: saiba como Ana Paraguaia ostentava e comandava negócios do CV e do PCC
Quadrilha, que agia a partir do Mato Grosso do Sul, intermediava compra drogas e armas entre fornecedores do Paraguai para abastecer o Complexo do Alemão
A polícia desbaratou uma quadrilha que agia a partir de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, onde intermediava a compra de armas e drogas que abasteciam o tráfico do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, e a facção criminosa Comando Vermelho (CV)
De acordo com investigações da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD), o bando, com integrantes também ligados de alguma maneira à facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), teria movimentado R$ 250 milhões entre 2020 e 2022. Entre as mercadorias vendidas por fornecedores do Paraguai para os traficantes estão fuzis, pistolas e metralhadoras antiaéreas.
No Rio, o negócio era controlado pelo traficante Fhillip da Silva Gregório, o Professor, que morreu no dia 1º de junho. Ele revendia parte do produto que recebia para outras comunidades em que o tráfico é controlado pelo CV.
Durante a ação de ontem, foram cumpridos dois mandados de prisão e 57 de busca e apreensão, em Rio, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná. Uma terceira pessoa está foragida. A operação foi batizada de Bella Ciao, em referência à canção que embalou a série espanhola “Casa de Papel”, em que um personagem conhecido como Professor era o chefe de uma quadrilha de roubo a banco.
Uma das presas é Ana Lúcia Ferreira, a Ana Paraguaia. Ela foi foi detida em Taubaté, São Paulo. De acordo com os delegados Vinicius Miranda e Pedro Cassundé, da DCOC-LD, a mulher era a encarregada de negociar em Ponta Porã a compra de armas e drogas com fornecedores. Também seria a responsável pela logística para transportar o material para o Complexo do Alemão.
Ana morava em um apartamento avaliado em R$ 1 milhão. Segundo dados da investigação, el ostentava imóveis e joias, e usava uma BMW que está em nome de outra pessoa. Recentemente, teria adquirido um Citroën C3 zero quilômetro, carro que acabou sendo apreendido.
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Interlocutora no crime
Ana foi casada com Elton Leonel da Silva, o Galã, preso em 2018, em Ipanema, na Zona Sul do Rio. Na época, ele era considerado o principal fornecedor de drogas e armas da América Latina e um dos chefes do PCC. Após a prisão de Galã, ela se envolveu com outro homem, com quem teve uma filha. Mais tarde, assumiu o lugar do traficante e passou a intermediar negociações com fornecedores.
Posteriormente, segundo a polícia, ela teria tido um caso com Professor — que conheceu quando ele trabalhava como uma espécie de representante de Galã para a venda de drogas e armas —, que a esta altura já se intitulava dono do tráfico na Fazendinha, no Complexo do Alemão. A relação dois dois teria durado até 2022.
"Ela (Ana) assumiu de forma velada o lugar do Galã na matutagem interestadual. Tinha contatos dos fornecedores e passou a ser a interlocutora em Ponta Porã. Negociava a compra de armas e drogas" disse o delegado Pedro Cassundé.
Além de Ana Paraguaia, a polícia prendeu ontem, na Pavuna, Gustavo Miranda de Jesus. Apontado como braço-direito do traficante Professor, ele tinha negócios, entre eles uma pastelaria e um mercadinho, usados para lavar dinheiro do tráfico. Além disto, segundo os delegados, também usava uma conta bancária e contas de pessoas jurídicas para pagar por drogas e armas compradas em Ponta Porã. E ainda para receber dinheiro da venda de drogas enviadas por Professor a outras comunidades, e para pagar despesas com bailes funks e shows na Fazendinha.
A polícia procura ainda por Luiz Eduardo Grego, o Cocão. Ele é suspeito de dar suporte operacional no transporte de armas e drogas. Segundo os delegados Vinícius Miranda e Pedro Cassundé, Grego estava sendo treinado por Ana para a substituir na negociação com fornecedores do Paraguai.