Jornais israelenses amanheceram com capas pretas em luto por democracia, um dia após avanço da refor
Ação foi financiada por grupos de manifestantes da alta tecnologia em repúdio à votação da medida no dia anterior
Jornais israelenses amanheceram com as capas pretas nesta terça-feira, em protesto à aprovação de uma cláusula-chave da controversa reforma do Judiciário promovida pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e sua coalizão de extrema direita. A ação foi financiada por grupos de manifestantes da alta tecnologia em repúdio à votação da medida no dia anterior, que já provocou recursos judiciais e intensos protestos nas ruas de todo o país, suscitando também críticas de aliados no exterior.
"Um dia sombrio para a democracia de Israel", lia-se, em uma fonte pequena, nas capas dos jornais. No topo, em letras ainda menores, aparecia a palavra "publicidade". Porém, apesar de todas as publicações — o Yediot Aharonot, Calcalist, Israel Hayom e Haaretz, segundo o site Jerusalem Post — divulgarem que se tratava de um anúncio pago, muitos leitores reclamaram que a informação não estava explícita o suficiente.
"Eles nos pegaram! Nós nos esforçamos tanto para esconder nosso logotipo, [está na] página 2 do jornal", respondeu no Twitter o grupo financiador — que engloba representantes, funcionários, acionistas e CEOs de companhias do setor em Israel — ao reivindicar publicamente os anúncios.
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Por sua vez, o ministro ultranacionalista da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, reagiu dizendo que "não é assim que se parece um protesto popular", criticando a ação de "entidades estrangeiras que financiam as manifestações" ao gastarem milhões de shekels pelas publicações. O radical ministro também afirmou que esses grupos estão tentando "fazer uma campanha para destruir o país".
Um anúncio de primeira página em um jornal israelense custa aproximadamente de 295 mil shekels, algo em torno de R$ 379 mil, disse a agência Zenger News citando postagens de usuários do Twitter que comentaram o assunto. Dessa forma, o custo total da iniciativa promovida pelo grupo seria de ao menos R$ 1,5 milhão.
'Etapa democrática necessária'
Na véspera, a votação na Knesset, o Parlamento de Israel, concentrou-se na chamada cláusula de "razoabilidade", que limitará a capacidade da Suprema Corte de anular decisões do governo. Críticos temem que a reforma seja uma ruína para a democracia em Israel ao remover os freios e contrapesos do Executivo. Por sua vez, em discurso transmitido pela televisão, Netanyahu defendeu a aprovação da cláusula como "uma etapa democrática necessária".
Em suma, o texto proíbe completamente os tribunais de usar o critério para invalidar ou discutir decisões tomadas pelo governo e outras autoridades eleitas, conforme estabelecido em lei. Na prática, impedirá que a Corte bloqueie decisões do governo que não considerem razoáveis, algo que Netanyahu, em julgamento por corrupção, e seus aliados afirmam ser necessário para conter a "politização" do Judiciário.
Desde o anúncio deste polêmico projeto em janeiro, dezenas de milhares de pessoas se manifestaram todas as semanas em Israel, no que é considerado um dos maiores movimentos de protesto da História do país, despertando também um raro repúdio público dos aliados na Casa Branca.
Os protestos atraíram o apoio de todos os estratos políticos e sociais, tanto da esquerda quanto da direita, grupos seculares e religiosos, ativistas pela paz e reservistas militares, além dos profissionais do setor de tecnologia, fundamental para a economia do país. (Com AFP.)