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DITADURA

Justiça concede pensão vitalícia à viúva de Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura

A família Herzog e o Instituto Vladimir Herzog comemoraram a decisão

Vladimir Herzog morreu em 25 de outubro de 1975, no mesmo dia em que se apresentou voluntariamente ao Destacamento de Operações de Informações (DOI)Vladimir Herzog morreu em 25 de outubro de 1975, no mesmo dia em que se apresentou voluntariamente ao Destacamento de Operações de Informações (DOI) - Foto: Divulgação

A Justiça Federal determinou que a União pague uma pensão vitalícia de R$ 34.577,89 à publicitária Clarice Herzog, viúva do jornalista Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura militar em 1975. A decisão foi proferida pelo juiz Anderson Santos da Silva, da 2ª Vara Federal Cível do Distrito Federal.

A medida tem caráter liminar e foi concedida com tutela provisória de urgência. O juiz considerou que há "fartas evidências" da perseguição sofrida por Vladimir Herzog e destacou o estado de saúde de Clarice, que tem 83 anos e Alzheimer em fase avançada. A União pode recorrer da decisão.

O valor da pensão foi calculado com base no cargo ocupado por Vladimir Herzog à época de sua morte, de diretor do Departamento de Jornalismo da TV Cultura. Segundo a decisão judicial, a quantia ainda pode ser reavaliada no decorrer do processo.

A família Herzog e o Instituto Vladimir Herzog comemoraram a decisão.

"Esta importante decisão, que ainda não é definitiva, acontece no marco de 50 anos desse crime e de incansável luta de Clarice por justiça para Vlado", afirmaram em nota.

O Instituto destacou que a liminar representa um "importante marco" no processo que busca a anistia política post-mortem de Vladimir Herzog. Segundo os advogados Beatriz Cruz e Paulo Abrão, ainda haverá uma análise de mérito pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).

Em abril do ano passado, a Comissão de Anistia reconheceu que Clarice Herzog também foi perseguida pelo Estado brasileiro devido à sua luta por justiça após a morte do marido. O colegiado determinou que ela tem direito a uma reparação econômica, a ser paga pelo Ministério do Planejamento.

Vladimir Herzog foi convocado pelo Exército para prestar depoimento sobre suas ligações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). No dia 25 de outubro de 1975, ele compareceu ao DOI-Codi e nunca mais foi visto com vida.

A versão oficial divulgada pelos militares afirmava que o jornalista teria se suicidado dentro da cela, mas laudos e investigações posteriores comprovaram que ele foi torturado e assassinado pelo regime.

Em 2013, a Justiça de São Paulo determinou a retificação da causa da morte no atestado de óbito de Vladimir Herzog. A nova versão substituiu "asfixia mecânica por enforcamento" por "lesões e maus-tratos sofridos durante interrogatório em dependência do 2º Exército (DOI-Codi)".

O juiz da 2ª Vara Federal Cível fundamentou sua decisão na Constituição de 1988 e na Lei nº 10.559, de 2002, que regulamenta a anistia política no Brasil. Também citou a Convenção Americana de Direitos Humanos, que obriga o Estado brasileiro a cumprir decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

A União será citada para apresentar contestação. A defesa de Clarice Herzog, representada pelo filho do casal, Ivo Herzog, terá a oportunidade de apresentar réplica e indicar as provas que pretende produzir ao longo do processo.

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