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FEMINICÍDIO

Justiça: homem que jogou ácido sulfúrico e matou ex-companheira é condenado a 30 anos de prisão

Mayara Stefany passou 21 dias internada no Hospital da Restauração, no Recife

Julgamento do caso Mayara, atingida pelo ex-companheiro por ácido sulfúrico no rosto, em 2019Julgamento do caso Mayara, atingida pelo ex-companheiro por ácido sulfúrico no rosto, em 2019 - Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

Após mais de 12 horas de julgamento, William César dos Santos foi condenado pelo crime de feminicídio, na noite desta quinta-feira (20), quatro anos depois de ter matado a sua ex-companheira, Mayara Stefany França Araújo, arremessando ácido sulfúrico - um composto químico corrosivo - em seu rosto. Ele havia colocado o líquido num pote de sorvete de cor preta. O crime ocorreu no dia quatro de julho de 2019, no Recife.

O homem foi condenado por homicídio quadruplamente qualificado, por torpeza, meio cruel, recurso que impossibilitou defesa da vítima e feminicídio. A sentença foi de 30 anos, três meses e 15 dias em regime fechado. Ele também vai pagar as custas processuais.

Para cometer o crime, William César contou com o apoio de um amigo, responsável por segurar Mayara, que tinha 19 anos à época, enquanto ele a atingia com ácido sulfúrico. Esse outro homem, Paulo Henrique Vieira dos Santos, ainda não tem data para ser julgado.

William César se entregou à polícia cinco dias depois de haver cometido o crime e, no dia 12 de julho daquele ano, foi indiciado, junto com o amigo, por tentativa de feminicídio.

Com a morte de Mayara, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) então requisitou uma alteração para que o crime fosse classificado como homicídio qualificado consumado, sendo o feminicídio uma das qualificadoras. A dupla já estava detida no Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife.

O crime aconteceu três meses após a separação do casal, no dia quatro de julho de 2019, próximo à residência onde o casal morava com o filho, à época com apenas dois anos. A residência fica no bairro de Nova Descoberta, na Zona Norte do Recife.

Familiares de Mayara acompanharam o julgamento com faixas e camisas em memória da vítima (Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco)

A mulher foi socorrida inicialmente para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas, por conta do contato do ácido com a pele, precisou ser internada no Hospital da Restauração (HR), na área central da capital pernambucana. Ela chegou a ser entubada e teve face, mãos e tórax como áreas mais afetadas. Ao todo, 35% do seu corpo foi queimado.

Entre os familiares da vítima que acompanharam o julgamento no Fórum Rodolfo Aureliano, no bairro de Joana Bezerra, estava a tia de Mayara, Ana Paula Gomes de Farias, de 45 anos. Ela disse que, ao todo, a sobrinha já havia procurado a Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) oito vezes, acusando o ex-companheiro de agressões físicas e psicológicas.

A mulher celebrou a condenação e desmentiu a fala do homem que, ao tentar se defender durante o julgamento, disse que não mantinha uma relação abusiva com Mayara, com quem dividiu quatro anos de relacionamento.

“O sentimento é o de justiça sendo feita. A gente viu ele alegando que nunca batia nem fazia nada de mal com ela, mas, no dia a dia, a gente sabia. A gente que via ela chegar machucada e escondendo isso, porque gostava dele. Quando ela deu um basta, ele não quis deixar ela livre”, disse a tia.

Ela também se voltou ao filho do casal, Pedro William, hoje com seis anos. A criança, segundo a tia, não sabe o que aconteceu com a mãe.

Ana Paula fez alerta sobre presença de comportamentos abusivos dentro de relacionamentos amorosos, o que aconteceu com Mayara (Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco)

“Além da ausência dela, temos o fruto dela. Não podemos dizer a ele o que realmente aconteceu. É massacrante. Não podemos dizer a ele o grau de perversidade do que foi feito com a mãe dele”, lamentou.

Ana Paula também citou a evolução de presença de comportamentos abusivos dentro de um relacionamento amoroso, tanto em caráter físico como psicológico.

“A partir do primeiro grito ou quando diz que não pode ir com tal roupa, já é um sinal de alerta. Hoje impede você de ir com uma roupa ou na casa do seu parente, depois de amanhã vem uma tapa ou a morte”, alertou.

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