Lula reúne Brics em cúpula que pretende rejeitar o protecionismo de Trump
O grupo representa quase metade da população mundial e cerca de 40% do PIB
Sem Xi Jinping e com Vladimir Putin em participação online, o grupo Brics iniciou neste domingo (6) uma reunião de cúpula no Rio de Janeiro que pretende rejeitar o protecionismo, no momento em que Donald Trump se prepara para implementar tarifas elevadas contra vários países.
Ao abrir a cúpula de dois dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo aos países do grupo para que defendam o multilateralismo, ao mesmo tempo que pediu que não permaneçam "indiferentes" ao "genocídio" de Israel em Gaza.
"Absolutamente nada justifica as ações terroristas perpetradas pelo Hamas. Mas não podemos permanecer indiferentes ao genocídio praticado por Israel em Gaza e à matança indiscriminada de civis inocentes", disse Lula, que sempre se mostrou muito crítico à campanha israelense.
O grupo, formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, foi recentemente ampliado para 11 países e representa quase metade da população mundial e cerca de 40% do PIB.
"Com o multilateralismo sob ataque, nossa autonomia está novamente em xeque. Avanços arduamente conquistados, como os regimes de clima e comércio, estão ameaçados", afirmou Lula.
A reunião acontece depois que o presidente Trump alertou que enviará, nos próximos dias, cartas aos aliados comerciais dos Estados Unidos para informar sobre a implementação de suas já anunciadas tarifas.
Em sua declaração final, os membros do Brics expressam "séria preocupação com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio", segundo o rascunho do texto ao qual a AFP teve acesso.
Mas declaração acordada entre os negociadores não menciona diretamente o presidente Trump, enquanto vários países, como a China, negociam de modo bilateral com os Estados Unidos suas disputas tarifárias.
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- Dólar impera -
Paralelamente, após as ameaças de Trump de impor tarifas de 100%, não se espera que prospere a ideia de impulsionar uma moeda alternativa ao dólar para o comércio entre os membros dos Brics, apesar do apelo de Lula nesse sentido.
"Se a gente não encontrar uma nova fórmula, a gente vai terminar o século XXI igual a gente começou o século XX", afirmou o brasileiro na sexta-feira.
A presidente do banco do Brics, ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, descartou a ideia.
"Hoje não tem ninguém querendo assumir o lugar dos Estados Unidos (...) Como é que você fornece uma moeda hegemônica para o resto do mundo?", questionou no sábado. "Não vejo possibilidade de que isso esteja ocorrendo", acrescentou.
- Consenso sobre o Oriente Médio -
Os negociadores alcançaram, no sábado, um consenso sobre a escalada bélica no Oriente Médio, que envolveu um de seus membros, o Irã.
Sócio do grupo desde 2023, Teerã aspirava um tom mais duro do Brics sobre o conflito na região, segundo uma fonte que participou das negociações.
Mas a declaração final manterá a "mesma mensagem" que o grupo emitiu em um comunicado em junho, no qual manifestou sua "profunda preocupação" com os bombardeios contra o Irã, sem mencionar Israel e Estados Unidos.
Israel iniciou uma campanha aérea sem precedentes em 13 de junho contra o Irã, país que acusa de ter a intenção de desenvolver armamento nuclear. Teerã nega.
O governo dos Estados Unidos se uniu à ofensiva israelense com bombardeios contra as instalações nucleares. O Irã respondeu com ataques a Israel e contra uma base americana no Catar, antes de Trump anunciar uma trégua do conflito.
- Ausências notáveis -
Esta é a primeira cúpula do Brics sem a presença do presidente chinês Xi Jinping desde que ele assumiu o poder em 2012.
Também não viajaram ao Rio o presidente iraniano Masud Pezeshkian e o russo Vladimir Putin, alvo de um mandado de prisão internacional por supostos crimes de guerra na Ucrânia, embora sua participação por videoconferência esteja prevista.
O Brics também divulgará declarações sobre mudanças climáticas - tema crucial para o Brasil, que receberá a COP30 na cidade de Belém no final do ano -, inteligência artificial e cooperação na área de saúde.
As Forças Armadas mobilizaram mais de 20.000 militares para o esquema de segurança da reunião de cúpula no Rio de Janeiro, que tem o espaço aéreo vigiado por caças com mísseis.