Notícias

Maia e Alcolumbre dizem esperar que Bolsonaro não mude política de isolamento

Presidentes da Câmara e do Senado e governadores realizaram declarações sobre saída do ex-ministro

Presidentes do Senado e da Câmara, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e Rodrigo Maia (DEM-RJ)Presidentes do Senado e da Câmara, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e Rodrigo Maia (DEM-RJ) - Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), divulgaram nota conjunta na noite desta quinta-feira (16) em que dizem esperar que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não mude a polícia de isolamento social no combate à proliferação do coronavírus com a demissão de Luiz Henrique Mandetta do ministério da Saúde.

"A maioria das brasileiras e dos brasileiros espera que o presidente Jair Bolsonaro não tenha demitido Mandetta com o intuito de insistir numa postura que prejudica a necessidade do distanciamento social e estimula um falso conflito entre saúde e economia", dizem os presidentes das Casas.

Leia também:

Após demitir Mandetta, Bolsonaro agradece ex-ministro e volta a criticar excessos de governadores

Novo ministro da Saúde, Nelson Teich é ligado ao bolsonarismo, mas defende isolamento social 

Na nota, Maia e Alcolumbre elogiaram o trabalho desenvolvido por Mandetta durante o período que ficou frente à pasta. Segundo eles, a saída de Mandetta não é positiva.

"O ministro Luiz Henrique Mandetta foi um verdadeiro guerreiro em prol da saúde pública nesse período em que esteve à frente do Ministério, especialmente no enfrentamento firme ao Covid-19. O trabalho responsável e dedicado do ministro foi irreparável. A sua saída, para o País como um todo, nesse grave momento, certamente não é positiva e será sentida por todos nós.

Os parlamentares afirmaram que esperam que o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, dê continuidade ao trabalho que já vinha sendo desenvolvido pelo antigo ministro.

"O Congresso Nacional espera que o novo ministro, Nelson Teich, dê continuidade ao bom trabalho que vinha sendo desempenhado pelo Ministério da Saúde, agindo de forma vigorosa, de acordo com as melhores técnicas científicas. A vida e a saúde dos brasileiros devem ser sempre nossa maior prioridade.

Mais cedo, Maia já havia exaltado o trabalho de Mandetta durante sessão para votação da ampliação do auxílio emergencial de R$ 600 pela Câmara dos Deputados, pouco depois de a demissão de Mandetta ser oficializada.

"A nossa homenagem ao ministro Mandetta, à sua dedicação, ao seu trabalho, à sua competência, à sua capacidade de compreensão do problema, de construir as soluções, diálogo com toda a sociedade e com o Parlamento brasileiro", disse.

"Tenho certeza de que [...] o ministro Mandetta deixa um legado para que, em conjunto com o governo federal, estados e municípios, principalmente, tenham condição de atender sobre a base do que foi construído pelo ministro Mandetta, as condições para atender da melhor forma possível a sociedade brasileira, mas principalmente os brasileiros que precisam do sistema SUS", afirmou.

Deputados e senadores lamentaram a decisão do presidente de demitir Mandetta, defendendo o rigor técnico do auxiliar e o uso da ciência no combate ao coronavírus.

O vice-presidente do Senado, Antonio Anastasia (PSD-MG), afirmou que a demissão acontece em um momento traumático, lamentou a mudança e falou que o presidente responde pelas consequências de seus atos.

"Já estamos num momento traumático. Não tenho um relacionamento próximo com o Mandetta, mas ele agiu de forma técnica. Lamento, mas o presidente tem a responsabilidade dos seus atos e também das consequências."

Primo do ministro demitido, o deputado federal Fábio Trad (PSD-MS) afirmou que Mandetta será "absolvido" pela história.

"Mandetta, esta mensagem é para o primo e não para o ministro: para quem é punido por suas virtudes e não pelos defeitos, não se deixe abater com a demissão pois ser demitido deste governo é ser absolvido pela história."

O líder do Cidadania, Arnaldo Jardim (SP), afirmou que Mandetta desempenhou um bom papel na condução da grave crise de saúde e que espera que a ciência siga como o principal norte do ministério, no enfrentamento à Covid-19.

"É ciência, é ciência e ciência. Esperamos que esse seja o parâmetro do novo titular da Saúde", disse o parlamentar, que espera a continuidade de políticas adotadas na gestão Mandetta, como o isolamento social, a transparência na divulgação de dados e a integração da pasta com municípios e estados.

O líder da minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) chamou a decisão do presidente de irresponsável.

"Demitir o ministro da Saúde durante a mais grave crise sanitária da nossa história, e o ministro que estava dando a condução correta a todos os cidadãos, que é a única alternativa prevista na ciência para o enfrentamento da pandemia, que é o isolamento social."

O DEM, partido do ex-ministro, afirmou que Mandetta é um motivo de orgulho para o Democratas e que tem o total apoio e solidariedade da sigla.

O líder do partido na Câmara, Efraim Filho (PB), disse que o ex-titular da Saúde, com sua postura técnica, conquistou a confiança e respeito da família brasileira.

"Íntegro, permaneceu até o último minuto servindo ao país. Sai com sentimento de dever cumprido, salvou muitas vidas enquanto prevaleceram suas orientações."

A bancada do PSB na Câmara divulgou uma nota manifestando preocupação com a
demissão em meio à "maior crise sanitária da história" e criticou que "disputas políticas menores" tenham desviado o foco do governo, que deveria ser a saúde e a vida dos brasileiros. A bancada cobrou que a condução da crise seja feita de forma responsável e técnica.

Mesmo líderes governistas ressaltaram que Mandetta vinha realizando um bom trabalho, mas que a tensão existente entre ministro e presidente prejudicavam o trabalho de combate ao coronavírus.

"O Mandetta vinha fazendo um bom trabalho, mas não pode olhar só no foco da saúde e acabou virando um confronto que piorou a situação", disse o vice-líder do governo no Senado, Izalci Lucas (PSDB-DF). Para o senador, todos os lados foram radicais.

​"Tinham de ter conversado mais, todo mundo muito radical. Agora é hora de sentar, conversar e tentarmos seguir um foco único. Não dá para cada um seguir andando para um lado", afirmou.

GOVERNADORES
Governadores externaram preocupação com a demissão de Mandetta, que, segundo eles, estava realizando um trabalho técnico e sem ideologias. Para João Doria (PSDB-SP), que vem antagonizando com Bolsonaro na crise, a saída "é uma perda para o Brasil".

"Agradeço o apoio e contribuição com o Estado de São Paulo no combate à pandemia. Desejo êxito ao novo ministro da Saúde, Nelson Teich, e espero que siga procedimentos técnicos e atenda às recomendações da OMS [Organização Mundial da Saúde]", escreveu o tucano em uma rede social.

Wilson Witzel (PSC-RJ) afirmou que, "entre a saúde dos brasileiros e a política", o presidente "preferiu a política".

"Que Deus nos ajude", completou o governador do Rio, dando parabéns a Mandetta "pelo belo trabalho" e pedindo que o novo ministro siga as orientações da OMS.

"O ministro Mandetta demonstrou conduzir seu trabalho com rigor técnico necessário, colocando a ciência em primeiro lugar, sem ideologia ou partidarismo, que são questões inaceitáveis nesse momento. Sua saída representa uma enorme perda para o Brasil", disse o governador do Ceará, Camilo Santana (PT).

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM) ressaltou que o ex-ministro salvou milhares de vidas e que pode considerar a sua missão cumprida. Caiado era aliado de Bolsonaro, mas rompeu o relacionamento por conta de divergências nas políticas de enfrentamento ao coronavírus.

A entrevista do ex-ministro ao Fantástico, da Rede Globo, o estopim da mais recente crise com Bolsonaro, foi dada a partir do Palácio Esmeralda, sede do governo do estado de Goiás.

O ministro foi demitido nesta quinta após um longo processo de embate entre eles diante das ações de combate ao coronavírus.

O presidente convidou o oncologista Nelson Teich para o lugar de Mandetta. Em discurso logo após assumir o posto, o novo titular da pasta disse que economia e saúde não competem entre si.

Mandetta confirmou sua demissão por meio de sua conta no Twitter. "Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde. Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar", escreveu.

"Agradeço a toda a equipe que esteve comigo no MS e desejo êxito ao meu sucessor no cargo de ministro da Saúde. Rogo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida que abençoem muito o nosso país", completou.

A divulgação da demissão de Mandetta foi seguida de panelaços contra Bolsonaro em bairros de São Paulo e do Rio.

Na última quarta-feira (15), em uma entrevista em tom de despedida ao lado de sua equipe, Mandetta afirmou que havia descompasso com o Palácio do Planalto e indicou a sua demissão como certa.

Mandetta voltou a defender a manutenção do caminho da ciência, em uma crítica indireta às pressões que sofre do presidente, contrário ao isolamento social e defensor do uso de medicamento sem eficácia e segurança comprovadas.

Bolsonaro vinha batendo de frente com seu auxiliar e, nos últimos dias, deu celeridade à busca por um substituto.

Desde o início da crise, Bolsonaro tem ignorado orientações sanitárias, sem demonstrar preocupação com a crise do coronavírus, e ao mesmo tempo pressiona governadores e prefeitos a abrandar a política de isolamento social.

Já Mandetta é crítico da aglomeração de pessoas e defensor do isolamento horizontal, em linha com a diretriz da OMS para evitar o contágio do novo coronavírus. 

Acompanhe a cobertura em tempo real da pandemia de coronavírus

Veja também

Em alerta vermelho, China enfrenta chuvas torrenciais
MUNDO

Em alerta vermelho, China enfrenta chuvas torrenciais

Palácio de Buckingham abre ala inédita ao público após mais de 170 anos
mundo

Palácio de Buckingham abre ala inédita ao público após mais de 170 anos

Newsletter