Mentor do 'tarifaço' minimiza xingamento de Elon Musk: "Já me chamaram de coisas piores"
Assessor econômico de Trump afirma estar de bem com o bilionário, que se referiu a ele publicamente como 'imbecil'
Peter Navarro, um dos principais assessores comerciais de Donald Trump, insistiu que “está tudo bem” com Elon Musk, depois que o colega assessor da Casa Branca e dono da Tesla, SpaceX e X o chamou de “idiota”. Musk, que lidera os cortes de gastos públicos iniciados pelo presidente dos EUA, entrou em conflito com Navarro por causa da guerra tarifária que o economista ajudou Trump a iniciar.
Ao se opor à política protecionista implementada por Trump, o bilionário chamou publicamente um dos principais assessores comerciais da Casa Branca de "imbecil". Navarro é “um verdadeiro idiota” e “mais burro do que um saco de tijolos”, publicou o homem mais rico do mundo em sua rede social X na semana passada, durante uma discussão sobre as peças automotivas dos EUA usadas nos veículos da Tesla.
Mais tarde, ele apelidou o conselheiro de Trump de “Peter Retarrdo” em outra postagem.
— Já me chamaram de coisas piores. Está tudo bem com Elon — disse Navarro neste domingo na NBC. — Elon está fazendo um trabalho muito bom com sua equipe em relação a desperdício, fraude e abuso. É uma tremenda contribuição para os Estados Unidos— acrescentou ele, sobre os cortes liderados por Musk por meio do chamado Departamento de Eficiência Governamental (Doge).
Leia também
• Premiê do Japão diz que política comercial dos EUA pode mudar o sistema econômico global
• Facebook enfrenta hoje julgamento histórico nos EUA e pode ter que se desfazer do Instagram; entenda
• China pede aos EUA que 'eliminem completamente' as tarifas recíprocas
Peter Navarro é reconhecido pela influência nos planos econômicos do presidente dos Estados Unidos e considerado o mentor do "tarifaço" anunciado este mês.
O economista americano de 75 anos foi nomeado por Trump em dezembro como conselheiro sênior para comércio e manufatura. Navarro já havia atuado na primeira passagem do republicano pela Casa Branca, no comando do recém-criado Conselho Nacional de Comércio e, mais tarde, do Escritório de Políticas Comerciais e Manufatura. Ele é doutor em Economia, com formação na Universidade Tufts e na Universidade de Harvard.
"Durante o meu primeiro mandato, poucos foram tão eficazes ou determinados quanto Peter ao aplicar minhas duas regras sagradas: comprar produtos americanos e contratar americanos", afirmou Trump em sua rede Truth Social ao confirmar em dezembro o nome de Navarro para seu governo 2.0.
De volta ao cargo, Navarro foi incumbido de levar adiante a política protecionista que Trump vislumbrava.
Antes disso, o americano apareceu com destaque na imprensa internacional ao se tornar o primeiro ex-funcionário da Casa Branca a ser preso por desacato ao Congresso. Em janeiro de 2024, foi condenado a quatro meses de prisão por se recusar a cumprir uma intimação judicial e entregar documentos à comissão da Câmara dos Representantes que investigava o ataque ao Capitólio de 6 de janeiro de 2021, quando apoiadores de Trump invadiram o prédio para tentar impedir a certificação da vitória do democrata Joe Biden.
Depois de deixar a prisão, Navarro discursou na Convenção Nacional Republicana em Milwaukee e recebeu aplausos de pé da plateia.
Durante o primeiro mandato de Trump (2017-2021), a imprensa americana revelou que Peter Navarro citou repetidamente em livros um especialista aparentemente inventado, Ron Vara, cujo nome é um anagrama do seu. Dos 13 livros publicados por Navarro, o suposto especialista formado em Harvard aparece em seis, incluindo na obra "Death By China", de 2011.
Foi uma professora da Universidade Nacional Australiana quem analisou as citações mais a fundo, "por acidente", para um artigo seu sobre a retórica anti-China e acabou por descobrir a invenção do alter ego, segundo a rede SBS.
O canal afirma que Tessa Morris-Suzuki recebeu de Harvard a confirmação de que não havia registros de um Ron Vara na renomada universidade. Ao Chronicle of Higher Education, Navarro disse ter recorrido a um "pseudônimo para opinião e puramente entretenimento, não fonte de fatos".
De acordo com a imprensa americana, Navarro é considerado um dos principais defensores da manutenção das tarifas contra outros países a longo prazo. As ideias do economista serviram de base para a elaboração do Projeto 2025, um guia de políticas publicado pelo think tank conservador Heritage Foundation.
A publicação defende a imposição de taxas adicionais contra países e blocos com "déficits comerciais relativamente grandes com os EUA", como China, Vietnã, Japão e União Europeia (alguns dos mais atingidos pelo tarifaço). O guia também ressalta a importância do aumento de tarifas contra a China para "bloquear" produtos chineses.
O tarifaço não só gerou rusgas entre Washington e vários de seus aliados comerciais como gerou intrigas públicas entre seus principais conselheiros. O homem mais rico do mundo e braço direito de Trump, Elon Musk, chamou Navarro de "imbecil" depois que o economista disse que ele "não é um fabricante de automóveis", mas sim "um montador", que trabalha com peças importadas da Ásia.
— O que queremos, e é aqui que temos pontos de vista diferentes de Elon, é que pneus e motores sejam fabricados nos Estados Unidos — explicou Navarro num vídeo retirado de entrevista à CNBC.
— Navarro é realmente um idiota. O que disse é falso e fácil de provar — Musk rebateu.
Em outra mensagem, o bilionário garantiu que, de todas os fabricantes, a Tesla era a que tinha mais componentes "americanos". "Navarro deveria perguntar ao falso especialista que inventou, Ron Vara", concluiu ele, em referência ao escândalo do especialista inventado.