Logo Folha de Pernambuco
inteligência artificial

Meta vai criar um novo laboratório de IA para buscar a 'superinteligência'; entenda

O novo laboratório, que incluirá o fundador da Scale AI, Alexandr Wang, faz parte de uma reorganização dos esforços de inteligência artificial da Meta sob a liderança de Mark Zuckerberg

Meta é responsável pelas redes sociais WhatsApp, Facebook, Instagram e ThreadsMeta é responsável pelas redes sociais WhatsApp, Facebook, Instagram e Threads - Foto: Kirill Kudryavtsev/AFP

A Meta está se preparando para lançar um novo laboratório de pesquisa em inteligência artificial dedicado ao desenvolvimento da chamada “superinteligência”, um sistema hipotético de IA que superaria as capacidades do cérebro humano, numa tentativa da gigante da tecnologia de se manter competitiva na corrida tecnológica. As informações foram confirmadas por quatro pessoas com conhecimento dos planos da empresa.

A Meta recrutou Alexandr Wang, de 28 anos, fundador e diretor executivo da start-up de IA Scale AI, para integrar o novo laboratório, disseram essas pessoas, e está em negociações para investir bilhões de dólares na empresa dele como parte de um acordo que também traria outros funcionários da Scale AI para a Meta.

A empresa ofereceu pacotes de remuneração entre sete e nove dígitos a dezenas de pesquisadores de empresas líderes em IA, como a OpenAI e o Google, com alguns deles já tendo aceitado as propostas, segundo essas fontes.

O novo laboratório faz parte de uma reestruturação mais ampla dos esforços da Meta em inteligência artificial, relataram as fontes. A empresa, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, tem enfrentado recentemente dificuldades internas de gestão envolvendo a tecnologia, além da saída de funcionários e lançamentos de produtos que fracassaram, segundo duas das pessoas ouvidas.

Mark Zuckerberg, diretor executivo da Meta, já investiu bilhões de dólares para transformar sua empresa em uma potência em IA. Desde o lançamento do ChatGPT pela OpenAI, em 2022, a indústria de tecnologia tem corrido para desenvolver sistemas de IA cada vez mais poderosos.

Zuckerberg tem pressionado para que a IA seja incorporada em todos os produtos da empresa, incluindo seus óculos inteligentes e um aplicativo recém-lançado, o Meta AI.

Manter-se na corrida é crucial para a Meta, Google, Amazon e Microsoft, com a tecnologia apontada como o futuro do setor. Essas gigantes têm investido fortemente tanto em start-ups quanto em seus próprios laboratórios de IA. A Microsoft já aplicou mais de US$ 13 bilhões na OpenAI, enquanto a Amazon destinou US$ 8 bilhões à start-up de IA Anthropic.

Essas grandes empresas também gastaram bilhões para contratar funcionários de start-ups de destaque e licenciar suas tecnologias. No ano passado, o Google concordou em pagar US$ 3 bilhões para licenciar tecnologias e contratar engenheiros e executivos da Character.AI, uma start-up que desenvolve chatbots para conversas pessoais.

Em fevereiro, Zuckerberg, de 41 anos, afirmou que a IA é “potencialmente uma das inovações mais importantes da história”. Ele acrescentou: “Este ano vai definir o rumo do futuro.”

O que é a superinteligência?
A superinteligência é considerada por pesquisadores líderes da área como um objetivo futurista do desenvolvimento da IA. OpenAI, Google e outras empresas afirmam que seu objetivo mais imediato é construir uma “inteligência artificial geral” ou AGI, sigla para um sistema capaz de realizar qualquer tarefa intelectual humana — uma ambição que ainda carece de um caminho claro para ser atingida. A superinteligência, se um dia for desenvolvida, superaria em muito a AGI em capacidade.

A Meta investe em IA há mais de uma década. Zuckerberg criou o primeiro laboratório dedicado exclusivamente à IA da empresa em 2013, após perder para o Google a disputa pela aquisição da start-up DeepMind, considerada essencial. A DeepMind é hoje o núcleo dos esforços de IA do Google.

Desde então, as pesquisas da Meta têm sido supervisionadas pelo cientista-chefe de IA da empresa, Yann LeCun, que também é professor da Universidade de Nova York. LeCun é um pioneiro das redes neurais, a tecnologia que sustenta o ChatGPT e sistemas similares.

Com o sucesso do ChatGPT, a Meta passou a alocar mais recursos para desenvolver sua própria IA. Criou um grupo dedicado à IA generativa, liderado por Ahmad Al-Dahle, vice-presidente da empresa. O grupo de pesquisa de LeCun também começou a trabalhar no que ele considera ser a próxima geração de sistemas de IA.

LeCun, que foi um dos três pesquisadores de IA a vencer o Prêmio Turing em 2018 — considerado o Nobel da computação — é altamente respeitado no campo. Mas suas opiniões sobre a IA divergem das de muitos no Vale do Silício. Enquanto alguns acreditam que as tecnologias atuais podem atingir a AGI nos próximos anos, LeCun defende que serão necessárias ideias totalmente novas para alcançar tal objetivo.

Uma das estratégias da Meta para ganhar terreno em IA tem sido o uso do chamado “código aberto”, disponibilizando gratuitamente seus sistemas para que desenvolvedores e outras empresas adotem suas ferramentas. A empresa lançou o modelo de IA de código aberto Llama e seu chatbot Meta AI. O Meta AI foi incorporado ao Facebook, Instagram, WhatsApp e aos óculos inteligentes Ray-Ban da empresa. Em maio, Zuckerberg anunciou que mais de um bilhão de pessoas usam o Meta AI todo mês.

Mais recentemente, a divisão de IA da Meta perdeu funcionários para empresas concorrentes, segundo duas fontes próximas ao assunto. As saídas ocorreram devido ao ritmo exaustivo de desenvolvimento de produtos, conflitos entre líderes de equipes e a alta competitividade do mercado de trabalho.

Em abril, Zuckerberg anunciou duas novas versões dos modelos de IA Llama, que ele afirmou terem desempenho igual ou superior aos modelos equivalentes da OpenAI e do Google, com base em testes realizados pela própria Meta.

Pouco depois, pesquisadores externos descobriram que os testes da Meta haviam sido projetados para fazer um dos produtos parecer mais sofisticado do que realmente era. Alguns desenvolvedores ficaram indignados com o que consideraram uma tentativa da Meta de manipular os resultados.

Mas ninguém ficou mais indignado do que o próprio Zuckerberg, que ficou furioso ao saber que as pessoas achavam que ele estava tentando encobrir o fraco desempenho do lançamento mais recente, disseram duas das fontes.

Agora, a aposta da Meta é que Alexandr Wang a ajude a recuperar a liderança na corrida pela IA.

Mas essa movimentação exige cautela. Recentemente, a Comissão Federal de Comércio dos EUA levou a Meta a julgamento na Justiça federal por suas aquisições do Instagram e do WhatsApp. Um acordo de investimento com estrutura incomum com a Scale AI pode ajudar a Meta a contornar parte dessas preocupações regulatórias.

Wang fundou a Scale AI em 2016 ao lado da engenheira Lucy Guo, que mais tarde foi demitida da empresa. A Scale AI auxiliava outras companhias no desenvolvimento de tecnologias de IA. Ela contratava grandes volumes de trabalhadores terceirizados para vasculhar e rotular enormes quantidades de dados, limpando essas informações para que pudessem ser utilizadas no treinamento de sistemas complexos de IA. Entre seus clientes estavam a OpenAI, a Microsoft e a Cohere, uma start-up de IA com sede em Toronto.

Mais recentemente, a Scale AI passou a expandir sua atuação no setor corporativo e público, enviando consultores e engenheiros para trabalhar com empresas e governos na criação de softwares baseados em IA.

Wang chegou a morar na mesma casa que Sam Altman, diretor-executivo da OpenAI. Em janeiro, os dois foram fotografados lado a lado no Capitólio, durante a posse do presidente Donald Trump. No dia seguinte, a Scale AI publicou um anúncio no jornal The Washington Post, no qual Wang apelava a Trump para que aumentasse os investimentos em IA ou arriscasse ver os EUA serem ultrapassados pela China.

“Caro presidente Trump”, dizia o anúncio, “os Estados Unidos precisam vencer a guerra da inteligência artificial.”

Veja também

Newsletter