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Caso Carlinhos

‘Meu filho está em casa e estou muito feliz’, diz mãe de Carlinhos após volta do menino ao Recife

Sequestrado pelo pai em 2015, adolescente retornou ao Brasil após passar mais de cinco anos na Argentina

Cláudia Boudoux, mãe do adolescente CarlinhosCláudia Boudoux, mãe do adolescente Carlinhos - Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Foram pouco mais de cinco anos de uma intensa batalha judicial e angústia para a fisioterapeuta pernambucana Cláudia Boudoux recuperar a guarda do filho, Carlinhos, que foi sequestrado pelo pai, o advogado argentino Carlos Attias, no Natal de 2015. Desde então, Cláudia não havia visto o filho e lutava na Justiça para trazê-lo de volta ao Recife.

Na última segunda-feira (8), a história, que alcançou repercussão nacional e internacional, ganhou um capítulo feliz com a volta do agora adolescente de 13 anos à família.

Em conversa com a Folha de Pernambuco, nesta quinta-feira (11), dia em que voltou ao trabalho, Cláudia Boudoux afirmou "estar em estado de graça" com o retorno do filho. “Meu filho está em casa e estou muito feliz”, disse a fisioterapeuta.

“Estou com uma dívida de gratidão muito grande com meu Deus. Tenho graça pela minha família, que sempre me ajudou. Eu pedi tanto. Estou muito agradecida a todo mundo. Agradeço a amigos que me ajudaram até financeiramente, ao Governo do Estado, ao secretário Pedro Eurico e sua equipe, que fizeram tudo para que desse certo”, acrescentou, em agradecimento.

Em 31 de janeiro, Cláudia viajou à Argentina com a filha de 15 anos e o secretário-executivo de Direitos Humanos, Eduardo Figueiredo. A viagem foi possível graças a uma documentação especial, uma vez que as fronteiras da Argentina estão fechadas para os brasileiros por conta da pandemia de Covid-19.

No país vizinho, à ordem do juiz local, não houve nenhum contato entre Cláudia e Carlinhos. “Cheguei lá no domingo e estava ansiosa porque não tinha resposta do juiz, que se pronunciou que Carlinhos iria voltar, mas que não era bom eu vê-lo agora, que ele iria junto com a juíza e iriam resolver qual seria a melhor estratégia para ele voltar”, contou.

O juiz inclusive chegou a proibir Cláudia de dar entrevistas a qualquer veículo de comunicação brasileiro ou argentino até ela chegar em Pernambuco. “Como meu objetivo era levar meu filho, eu tive que atender. Foi dura essa espera. No sábado de manhã foi quando foi resolvido tudo”, acrescentou.

Na audiência, ocorrida no sábado (6), o juiz autorizou a volta de Carlinhos ao Brasil, que ocorreu na segunda-feira (8). Carlinhos e Cláudia continuaram sem se ver. Na volta, o adolescente foi levado por policiais ao Aeroporto de Buenos Aires e não teve nenhum contato com a mãe e a irmã.

“Nem no avião eu pude falar com ele. Ficamos escondidas até São Paulo. Quando o avião desceu, entraram dois policiais federais no e tiraram Carlinhos e Eduardo [secretário-executivo de Direitos Humanos]. Fiquei esperando e cinco minutos depois vieram mais dois policiais e tiraram eu e minha filha”, completou Cláudia.

Em Guarulhos/SP, a filha de 15 anos de Cláudia abraçou o irmão. “Ela deu um abraço nele e fiquei de longe olhando, porque tive receio da reação dele. Foi um momento bonito. Tentei pegar na mão dele e vi que ele não queria e respeitei”, continuou a fisioterapeuta.

Todos então embarcaram de Guarulhos para o Recife. O voo com Cláudia e Carlinhos pousou no Aeroporto Internacional dos Guararapes às 2h13 da terça-feira (9). "Quando chegamos no Aeroporto, foi um choque grande, acho que caiu a ficha para ele [Carlinhos]. Ele não queria falar comigo”, disse Cláudia.

A mãe diz que a família toda estava no Aeroporto do Recife, mas Carlinhos não quis abraçar ninguém. “Ele estava muito arredio, mas hoje está muito bem. Ainda não me abraçou, acredito que nosso amor por ele vai curar isso e vai dar tudo certo aos poucos”, espera.

Cláudia agora aguarda a resolução de trâmites burocráticos para Carlinhos voltar ao estudos. O garoto será atendido por psicólogos.

Em relação a Carlos Attias, a fisioterapeuta afirma que quer “levantar a bandeira branca”.

“Quero me dedicar aos meus três filhos. Queria não ter que entrar na Justiça de novo, acho que já deu, foram cinco anos. Prefiro entregar para que pode julgar, não tenho direito mais de jugar. O que eu podia fazer já fiz”, finalizou a fisioterapeuta.

Carlos Attias foi preso em janeiro de 2019. Ele cumpre prisão domiciliar, na qual foi colocado por causa da pandemia. A Folha de Pernambuco tentou contato com o advogado argentino, mas não houve retorno. 

Caso Carlinhos
Carlos Attias Boudoux, o Carlinhos, havia viajado, em 2015, para a Argentina para passar o Natal com o pai, o advogado Carlos Attias, e a irmã mais velha. Desde então, Carlos nunca devolveu o garoto à mãe, a fisioterapeuta pernambucana Cláudia Boudoux. 

A Polícia Federal foi acionada e uma batalha judicial foi iniciada. O Governo de Pernambuco, através da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH) começou então a acompanhar o caso.

Em fevereiro de 2019, após dar entrada na Justiça argentina com um pedido de guarda, Cláudia recebeu uma decisão favorável. Apesar disso, o menino seguia desaparecido desde então. Carlos Attias foi preso em janeiro de 2020 e segue em prisão domiciliar, por conta da pandemia de Covid-19. Ele chegou a pagar uma idosa e o filho dela para manterem o menino em cárcere privado.

Após passar mais de um ano desaparecido em Buenos Aires, Carlinhos foi até uma delegacia da cidade afirmando ser o garoto, no último dia 18 de janeiro. Até a volta ao Brasil, ele ficou em um abrigo.

Após os trâmites judiciais e uma documentação especial conseguida pela SJDH, já que as fronteiras da Argentina estão fechadas por causa da pandemia de Covid-19, o garoto finalmente pôde voltar à guarda da mãe.

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