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Micose rural invade meio urbano

Esporotricose, que sempre existiu no campo, fica intensa na cidade relacionada à zoonose provocada por gatos doentes

A esporotricose tem nos gatos o trampolim da transmissão para os humanosA esporotricose tem nos gatos o trampolim da transmissão para os humanos - Foto: Ministério da Saúde/Cortesia

Os casos de esporotricose, doença dermatológica provocada por fungos e que causa nódulos inflamatórios e ulcerações graves na pele, cresceram em Pernambuco nos últimos dois anos. De 2016 a 2017 houve um aumento de 262% nos casos de doentes humanos e 214% de animais. A situação mudou o perfil de ocorrência da enfermidade, que passou a ser considerada endêmica na Região Metropolitana do Recife (RMR). As cidades que concentram a maioria dos casos são Olinda, Igarassu, Camaragibe, Recife, Jaboatão e Paulista. No Estado, anteriormente relacionada ao meio rural e de contaminação no manejo de solo, agora a micose vem se fixando no meio urbano e tendo nos gatos o trampolim da transmissão para os humanos.

A chefe do ambulatório especializado em esporotricose do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Cláudia Ferraz, estuda o porquê da elevação da doença, que pode estar relacionada à entrada de uma nova espécie do fungo causador da enfermidade.

“A doença sempre existiu, mas o que víamos eram casos isolados, bem restritos à área rural e em pessoas que trabalhavam com agricultura, jardinagem. Eram dois ou no máximo três casos no ano. Esse perfil está mudando desde o ano passado e sendo relacionado à zoonose da esporotricose do gato. Estamos coletando dados no ambulatório para chegar às respostas desse cenário”, diz.

Também segundo a médica, a suspeita é de que uma nova espécie de Sporothrix pode haver chegado na região, assim como aconteceu no Rio de Janeiro. Entre os cariocas, os atuais surtos da doença têm sido atribuídos à espécie Sporothrix brasiliensis.

As análises de biologia molecular para identificar o fungo responsável pelos casos em Pernambuco ainda não foram concluídas. Cláudia Ferraz comentou ainda que muitos dos pacientes que chegam no ambulatório narraram um contato anterior com um gato doente - seja do pet doméstico, seja de animais vadios durante um resgate de rua - ou com veterinários e auxiliares que acabaram sendo expostos ao patógeno.

Precariedade
O gerente de Vigilância e Controle de Zoonoses do Estado, Francisco Duarte, vai além e aponta que o cenário explicita ainda a precariedade de políticas municipais sobre animais de rua e falta de consciência das pessoas sobre os bichos. “A doença está hoje muito presente na Região Metropolitana no Recife, nos grandes centros. Se você fizer uma relação, são cidades que tem uma grande população de gatos nas ruas. Em todo o Brasil, observa-se o aumento do caráter zoonótico (transmissão do animal para humanos) da doença e isso é muito grave, porque vemos uma população enorme de gatos nas ruas e cada vez mais pessoas abandonando esses animais, o que também é um crime ambiental”, aponta.

Outro alerta de Francisco Duarte é sobre o destino final desses gatos contaminados em caso da morte. “Jogar no meio ambiente favorece a proliferação de mais fungos naquele espaço. O correto é incinerar os cadáveres e não jogar fora ou enterrar”, explica o gerente.

Para frear a ocorrência da doença, o gestor lista que gestores públicos e a população têm seus papéis. Entre eles estão os programas de castração de animais de rua e domésticos, a limpeza dos ambientes com água sanitária, a posse responsável de animais, o tratamento e o isolamento dos bichos doentes e a utilização de equipamentos de proteção individual ao manipular um animal suspeito.

“O fungo sempre vai estar na natureza. Não tem como acabar. Ele vai estar nas plantas, nas palhas, no solo. E o gato se contamina, briga na rua, se machuca e tem aí a porta de entrada. O fungo é violento nos animais”, assegura Duarte.

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