Luto

Morre padre Reginaldo Veloso, ex-pároco do Morro da Conceição

Recentemente, por projeto do deputado João Paulo (PT), o padre foi nomeado cidadão de Pernambuco

Padre Reginaldo VelosoPadre Reginaldo Veloso - Foto: Josiane Holz/Divulgação

Morreu, na noite de quinta-feira (19), aos 84 anos, o padre Reginaldo Veloso, ex-pároco do Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife, e referência na luta popular. Ele fazia tratamento contra um câncer.

O velório começará às 15h desta sexta-feira (20), na escola estadual Padre João Barbosa, localizada na Rua do Morro da Conceição, próxima à Igreja Nossa Senhora da Conceição. No local, haverá uma celebração religiosa às 8h deste sábado (21), dia em que ocorrerá o sepultamento, às 11h, no Cemitério de Santo Amaro, região central do Recife.

Em mensagem compartilhada nas redes, a esposa e filho do padre lamentaram a morte de Reginaldo:

Amigas e amigos, o nosso guerreiro descansou, lutou toda sua vida, pelo que acreditava, em 19/05, às 23:00, Reginaldo Veloso encerrou sua participação especialíssima no palco da vida " aqui e agora", para continuar sua contribuição junto a papai do céu, como ele constumava dizer, pode ir em paz, meu amado gigante, nós te amaremos para sempre, e estarás presente em nossas vida, com tua força, tua alegria de viver, com teu amor pelos empobrecidos da terra, com tuas músicas, teus pensamentos e tuas ações. Até logo nosso grande amor. Com amor, Edileuza e João.

Por meio de nota, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, externou pesar pelo falecimento do padre, de quem destacou o trabalho humanista.

Nos despedimos hoje do padre Reginaldo Veloso, um humanista que dedicou sua vida às causas sociais e ao trabalho pelos mais necessitados. Nas décadas de 70 e 80, à frente da emblemática paróquia de Nossa Senhora da Conceição, no Recife, este alagoano de alma e cidadania pernambucana, adepto da Teologia da Libertação, deixou uma marca na luta contra a repressão e em favor de uma igreja democrática e do empoderamento popular, construindo uma bonita trajetória, recentemente retratada nas telas. Quero externar meu profundo pesar por sua partida e me solidarizar com seus familiares, amigos e seguidores neste momento de dor e tristeza. Que ele esteja em paz.

Paulo Câmara
Governador de Pernambuco

Em nome da Arquidiocese de Olinda e Recife, o vigário geral Monsenhor Luciano José Rodrigues Brito emitiu comunicado expressando condolências.

"Cai a tarde, vem a noite, a tristeza, o pranto, a dor; de manhã renasce o sol, novo dia, alegria!"

Após um período de hospitalização, em que enfrentava a batalha contra o câncer, faleceu ontem, dia 19 de maio, José Reginaldo Veloso de Araújo. A Arquidiocese de Olinda e Recife vem expressar as mais sinceras condolências por sua morte à sua família e amigos.

Reginaldo Veloso foi presbítero na Arquidiocese de Olinda e Recife, onde exerceu seu ministério sacerdotal na Paróquia Santa Maria Mãe de Deus, no bairro da Macaxeira, e na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, no Morro da Conceição. Muito contribuiu para o Setor de Música Litúrgica da CNBB com suas composições, muitas das quais cantadas nas celebrações litúrgicas em todo o Brasil.

Que seja concedido a Reginaldo Veloso cantar diante do Senhor Ressuscitado: Senhor, piedade, vem me socorrer! Minha dor e meu pranto mudaste em prazer; teu nome para sempre eu irei bendizer!

Recife, 20 de maio de 2022

Monsenhor Luciano José Rodrigues Brito 
Vigário Geral

Em publicação em seu perfil no Instagram deputada Teresa Leitão ressaltou que permanece o legado do padre Reginaldo.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Recentemente, por projeto do deputado João Paulo (PT), o padre foi nomeado cidadão de Pernambuco.

Padre Reginaldo foi destituído de suas funções sacerdotais em 1989 pelo arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho. Desde então, passou a atuar como Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

Monge beneditino e escritor, o teólogo pernambucano Marcelo Barros afirmou que Reginaldo Veloso "foi e é a figura de um amigo". "Sempre convivemos e em muitos trabalhos trabalhamos juntos. É uma notícia que entristece, me deixa com a sensação de profunda perda, saudade, luto. O Evangelho diz que, quando Jesus soube que o amigo dele Lázaro tinha morrido, é a única vez que contém a palavra 'Jesus chorou'. Chorou com a morte de um amigo. Eu também me sinto assim: chorando com a morte de um amigo", disse à Folha de Pernambuco.

Barros também citou ainda a herança deixada por Veloso de uma sociedade justa e uma humanidade renovada. "Ele optou para ir, ainda nos anos 1960, morar nos morros de Casa Amarela e trabalhar naqueles morros dos quais ele conhecia cada beco e conviver com os povos da periferia e organizar as pessoas para lutarem por uma vida nova, uma vida justa, por melhores condições. Ele fez isso a vida inteira", completou o teólogo.

Em relação aos ensinamentos que ficam do padre Veloso, Marcelo Barros disse que o ex-pároco do Morro da Conceição foi um exemplo de como se ligar a profunda fé cristã à vida como compromisso social. "Fica o ensinamento a essa convite: a fé vivida como acolhimento do amor, nós somos as pessoas que acreditamos no amor, diz uma Carta de João. Vivemos num mundo onde o amor é raro", finalizou Marcelo Barros. 

Vida do padre Reginaldo Veloso
Reginaldo Veloso
nasceu em São José da Lage, Zona da Mata de Alagoas, em 3 de agosto de 1937. Ele veio ao Recife para estudar Teologia aos 13 anos e saiu para morar em Roma, onde foi ordenado padre, em 1961. Era adepto da Teologia da Libertação, corrente da Igreja Católica que luta contra opressão e fome.

Presbítero da Arquidiocese de Olinda e Recife (AOR), Veloso foi um dos divulgadores do documento “Eu Ouvi os Clamores do Meu Povo”, de 1973, durante a Ditadura Militar. O documento reivindicava trabalho para a multidão de desempregados da época e o atendimento de necessidades básicas, como moradia, transporte e outros direitos.

Como resultado, o padre Reginaldo foi levado para interrogatório por agentes do Dops. “Queriam saber quem eram os autores do documento. E eu respondia com os nomes da extrema-direita”, conta o padre no documentário ‘Reginaldo Veloso: O Amor Mais Profundo’, que narra sua vida sacerdotal e de militância social e política.

Reginaldo foi pároco por 10 anos da Paróquia de Santa Maria, na Macaxeira, e, por 11 anos, da igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Morro. Foi afastado em 1989 depois da renúncia de Dom Helder Câmara, de quem era muito ligado, quando padres progressistas foram expulsos. Na época, moradores do Morro esconderam a chave da igreja em protesto com seu afastamento. Reginaldo continuou na luta como presbítero das Comunidades de Base.

Destituído da paróquia, o padre foi suspenso de suas funções sacerdotais, como celebrar missas e batismos e assistir matrimônios. Ele casou-se com sua antiga secretária, Edileuza Osório Pereira, com que tem teve um filho, João José.

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