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METEOROLOGIA

Mundo entra em terreno perigoso se não cumprir metas climáticas

Os cientistas insistem no perigo que representa cada décimo de grau de aquecimento acima de +1,5°C, que acarretará efeitos imprevisíveis para os ecossistemas e a vida humana

Pessoas em uma praia às margens do Rio Guama observam navios de cruzeiro atracados no Porto de Outeiro, que receberá delegações que participarão da COP30Pessoas em uma praia às margens do Rio Guama observam navios de cruzeiro atracados no Porto de Outeiro, que receberá delegações que participarão da COP30 - Foto: Carlos Fabal / AFP

A sombra de um fracasso coletivo no esforço para reduzir as emissões de gases de efeito estufa paira sobre as negociações climáticas no Brasil, após a ONU declarar que o aquecimento global ultrapassará o limite acordado de +1,5°C.

As tensões geopolíticas, a incerteza econômica e a política antiecológica do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desviaram a atenção política da luta para reduzir as emissões que causam o aquecimento global.

Mesmo antes da abertura da conferência sobre o clima (COP) em Belém do Pará, o secretário-geral da ONU, António Guterres, explicou que o limite de +1,5°C em relação à era pré-industrial será inevitavelmente ultrapassado durante este século.

"O caminho para um futuro viável está cada dia mais difícil. Mas não há razão para desistir", disse ele na terça-feira em uma mensagem de vídeo.

Os cientistas insistem no perigo que representa cada décimo de grau de aquecimento acima de +1,5°C, que acarretará efeitos imprevisíveis para os ecossistemas e a vida humana, entre ondas de calor, secas, incêndios, inundações, tempestades, aumento do nível do mar, danos à biodiversidade, etc.

O diretor do Instituto de Pesquisa Climática de Potsdam (PIK), Johan Rockström, estima que talvez sejam necessários entre 50 e 70 anos de esforços drásticos antes de ser possível voltar a ficar abaixo desse limite de +1,5°C.

"Isso significa que, com uma probabilidade de 100%, enfrentaremos uma época muito difícil antes que, potencialmente, as coisas melhorem", explicou à AFP.

O Acordo de Paris foi assinado em 2015 com o objetivo de limitar o aquecimento "bem abaixo" de 2°C, ou até mesmo de 1,5°C, se possível.

"Modo desastre" 
Embora ultrapassar o limite - ou seja, que a temperatura supere a marca de +1,5°C antes de voltar a baixar - não seja um conceito novo na ciência, muitas figuras destacadas do campo climático mostraram-se desconfortáveis em falar sobre isso.

"Não queria dar a impressão de que não há problema se ultrapassarmos o limite", declarou este ano à AFP Patricia Espinosa, ex-diretora da ONU Clima. "Queria manter-me muito, muito firme".

Para que essa fase seja o mais breve possível, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indica que, idealmente, as emissões de gases de efeito estufa deveriam ter atingido seu pico em 2020 e depois ter diminuído aproximadamente pela metade até 2030. Estamos na metade da década e elas ainda não começaram a diminuir.

Portanto, a mensagem está mudando.

"A primeira coisa que devemos dizer com sinceridade à humanidade, mas também a todos os líderes políticos que se reúnem em Belém, é que devemos reconhecer nosso fracasso", segundo Rockström, que faz parte da equipe de assessores do secretário-geral da ONU.

"Não há evidências que demonstrem que podemos nos adaptar a nada acima de +2°C", acrescentou. Quanto a +3°C, seria "modo desastre" para bilhões de habitantes do planeta, alertou.

As energias renováveis e a proteção das florestas e dos oceanos, indispensáveis para a absorção de carbono, são prioridades. Uma vez alcançado o objetivo de emissões líquidas zero em 2050, será necessário também pensar nos meios para capturar o CO2 da atmosfera, que ainda não são bem dominados.

"O panorama geral sugere que haverá cada vez mais dificuldades se dependermos do sistema terrestre para absorver o carbono", comentou Bill Hare, especialista da Climate Analytics. "Agora nos encontramos em uma zona muito perigosa".

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