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Confira os cenários possíveis de um governo paralelo na Venezuela

Os cenários vislumbram um ponto crítico no qual os Estados Unidos e os militares venezuelanos fariam pender a balança

Juan Guaidó, líder parlamentar que se autoproclamou presidente interino, e o presidente da Venezuela, Nicolás MaduroJuan Guaidó, líder parlamentar que se autoproclamou presidente interino, e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro - Foto: Yuri Cortez, Federico Parra/AFP

A autoproclamação do opositor Juan Guaidó como presidente interino estreitou o campo de batalha na Venezuela. Os cenários vislumbram um ponto crítico no qual os Estados Unidos e os militares venezuelanos - sustentação do presidente Nicolás Maduro - fariam pender a balança.

Guaidó, presidente do Parlamento de maioria opositora, deu este passo alegando uma vacância no poder, com o apoio do chefe de Estado americano, Donald Trump, e capitalizando o enorme descontentamento provocado pelo colapso econômico na Venezuela. Maduro, que por causa disso rompeu com a Casa Branca, enfrenta esta situação tendo ao seu lado a Força Armada e o controle institucional.

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Mas também com sua base popular dizimada. Durante seu governo, iniciado em 2013, a Venezuela mergulhou na pior crise de sua história moderna, com escassez de alimentos e medicamentos e uma inflação que o FMI projeta em 10.000.000% para 2019. Segue a seguir uma lista com os rumos que a crise pode tomar.

Transição

Guaidó propõe um "governo de transição" que convoque eleições e pede aos militares para romper com a "ditadura" em troca de anistia. Mas a Força Armada diz ser leal a Maduro e que não se prestará a um "golpe de Estado". Se a oposição superar suas divisões e o bloco militar se mantiver compacto, a "perspectiva de mudança" dependerá de que os adversários do governo moderem suas exigências e aceitem uma "transição a longo prazo", avalia Peter Hakim, do Diálogo Interamericano.

O processo se simplificaria se os militares apoiarem uma mudança de governo, o que demandaria anistia para eles e funcionários civis, vários deles acusados pelos Estados Unidos de corrupção, violações dos direitos humanos e narcotráfico. A possibilidade de Trump sancionar as exportações petroleiras da Venezuela - da qual compra um terço de sua produção - acabaria por estrangular a economia e afetaria o apoio a Maduro, adverte a consultoria Capital Economics.

A Venezuela possui a maior reserva petroleira do mundo, embora sua produção tenha caído aos piores níveis em três décadas até 1,3 milhão de barris diários (mbd). Em 2018, exportou aos Estados Unidos 510.000 barris por dia, mantendo-se como terceiro provedor.

Maduro aferrado

Embora muitos esperem que os militares abandonem Maduro e apoiem Guaidó, "é pouco provável que isto aconteça" depois do apoio renovado da Força Armada, destacou Michael Shifter, do Diálogo Interamericano.

"Se a oposição não se unificar e os militares mantiverem o apoio a Maduro, isto significaria continuar com o governo chavista, certamente com Maduro no poder", disse Hakim. O presidente socialista foi reeleito até 2025 em uma votação boicotada pela oposição e não reconhecida pela União Europeia e vários países latino-americanos.

Com a ameaça de Trump de novas sanções e em default, Maduro poderia buscar apoio financeiro de seus aliados China, Rússia e Irã, "mais unidos em contrabalançar os interesses dos Estados Unidos do que por qualquer simpatia a Maduro", comentou Paul Hare, da Escola Pardee de Estudos Globais da Universidade de Boston.

A Venezuela envia à China 300.000 barris diários, em pagamento a uma dívida de 20 bilhões de dólares. O país deve à Rússia 10,5 bilhões de dólares, segundo consultorias. "China e Rússia podem tentar salvar o regime, exigindo algumas reformas econômicas sérias e a reestruturação do negócio do petróleo, e inclusive pedir que Maduro de retire e tente instalar um líder politicamente menos tóxico", acrescentou Hare.

Militares no comando

Se a Força Armada retirar seu apoio a Maduro e as divisões persistirem na oposição, os militares poderiam tomar o controle, "ao menos por um tempo", afirma Hakim. As soluções de fato estão dispostas diante da "falta de um árbitro institucional imparcial", adverte Benigno Alarcón, especialista em segurança e defesa. "O governo e a oposição não têm outra opção que responder com muita força; quem não o fizer, terá que se sentar em uma mesa e negociar sua saída", destacou Alarcón.

Uma intensificação da "repressão" ou um conflito civil não estão descartados e são o "pior cenário", diz Shifter, ao advertir para os "riscos de ter governos paralelos". Trump disse que todas as opções estão sobre a mesa, "as mais fortes e as menos fortes", em alusão a uma intervenção militar.

Negociação

Maduro assegura que está disposto a se reunir com Guaidó, mas ele diz que não se prestará a um "diálogo falso". Embora considere ilegítimo o mandato de Maduro, iniciado em 10 de janeiro, a UE não reconheceu Guaidó como presidente encarregado e promove um "grupo de contato" para aproximar as partes. México e Uruguai também propõem uma negociação, que ocorreria após quatro tentativas fracassadas.

"O melhor e mais realista cenário é uma negociação prolongada entre uma oposição unida e um governo na defensiva", avalia Shifter. Segundo analistas, novas negociações poderiam incluir de eleições a benefícios para evitar a prisão de militares e membros do governo.

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