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França tem segundo dia de greve no setor ferroviário

Ferroviários estão em greve contra a supressão do estatuto especial que garanta o emprego para os novos contratados, contra a abertura do serviço ferroviário à concorrência e contra a transformação da empresa em sociedade anônima, o que, segundo eles, abr

Greve do setor ferroviário na FrançaGreve do setor ferroviário na França - Foto: Philippe Guguen / AFP

A França vive nesta quarta-feira (4) seu segundo dia de greve na empresa pública do setor ferroviário, a SNCF, um movimento em massa que afeta milhões de usuários e que representa um desafio para o programa reformista do presidente Emmanuel Macron.

Apenas um em cada sete trens de alta velocidade (TGV) e um em cada cinco trens regionais operavam hoje, de acordo com estimativas da direção da Empresa Ferroviária Estatal (SNCF).

Os sindicatos convocaram um movimento de greves intermitentes, de dois dias por semana, o qual deve durar três meses em princípio. Na terça-feira (03), primeiro dia de greve, circulou apenas um TGV em cada oito e um trem regional em cada cinco. Por esse motivo, muitos franceses optaram por trabalhar de casa.

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A greve também provocou grandes engarrafamentos nas principais cidades do país. Nesta quarta (04), por volta das 5h30 GMT (2h30 em Brasília), já havia congestionamentos de 350 quilômetros na região parisiense, ou seja, o dobro do atual. "Entro para trabalhar às 13h. Sabem a que horas tive de levantar? Às 5h!", desabafou Jean Nahavua, um assistente de gerência em uma empresa atacadista que vive em Lille e trabalha em Paris.

"Três meses de greve é muito", diz Françoise Sirugue, que esperava um trem na estação de Dijon (leste). "Ontem, fiquei em casa, mas não posso ficar em casa todos os dias", completou.

Os ferroviários protestam contra a supressão do estatuto especial que garanta o emprego para os novos contratados, contra a abertura do serviço ferroviário à concorrência e contra a transformação da empresa em sociedade anônima, o que, segundo eles, abriria caminho para uma futura privatização - o que o governo nega.

Para isso, criou-se um novo conceito de mobilização, com uma greve de dois dias a cada cinco, ou seja, um total de 36 dias de paralisia alternados até o final de junho. O primeiro-ministro Edouard Philippe admitiu ontem que as pessoas que usam a rede ferroviária SNCF - 4,5 milhões de usuários por dia - têm "dias difíceis pela frente".

'Manter o rumo'


Macron, que assumiu a Presidência em maio passado com a vontade de "transformar" a França, conseguiu impor suas reformas, até agora sem grande resistência, incluindo uma polêmica reforma trabalhista. Desta vez, enfrenta uma tarefa muito mais difícil, ao tentar reformar uma empresa de 147.000 funcionários que conseguiu conter a vontade reformista de vários governos franceses nas últimas décadas.

Para justificar sua reforma, o governo aponta a enorme dívida da empresa pública, a necessidade de prepará-la para a próxima abertura para a concorrência, assim como seus custos significativos. "Fazer um trem circular na França custa 30% mais caro do que em outras partes", repete.

Contra a ofensiva do governo, o primeiro sindicato francês, a CGT, convocou uma "convergência das lutas" para defender os serviços públicos e o famoso "modelo social francês".

Outras frentes


 Em paralelo à greve ferroviária, estudantes universitários também manifestavam sua insatisfação nesta quarta contra uma lei que pretende modificar o acesso à universidade, a qual, segundo eles, cria um sistema de seleção nos estabelecimentos públicos.

A Faculdade de Letras da Universidade de Sorbonne estava fechada hoje, devido a um bloqueio dos estudantes, um movimento que já tomou várias universidades em Toulouse, Bordeaux e Rouen.

Funcionários da Air France, garis e alguns trabalhadores do setor energético também organizaram paralisações separadas na terça-feira, em uma crescente atmosfera de revolta com as reformas do governo.

Os analistas estimam que a queda de braço com o setor ferroviário pode ser um momento perigoso para Macron, se a opinião pública ficar do lado dos grevistas. "A grama está seca e não precisa de muito para pegar fogo", afirmou o chefe do sindicato da Força Operária, Jean-Claud Mailly.

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