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Oposição venezuelana volta às ruas para exigir eleições

Milhares de chavistas marcharam no centro de Caracas em "defesa da revolução"

Protesto estudantil contra o governoProtesto estudantil contra o governo - Foto: George Castellanos/AFP

Cerca de duas mil pessoas foram às ruas na Venezuela, nesta segunda-feira (23), para exigir a antecipação das eleições como caminho para tirar o presidente Nicolás Maduro do poder e resolver a grave crise política e econômica do país.

Agentes da Polícia Civil e Militar impediram a multidão de avançar até a sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), em Caracas. Na capital, as manifestações transcorreram sem incidentes graves, enquanto pequenos distúrbios foram registrados em outros pontos do país.

"Viemos exigir o direito que os venezuelanos têm a votar. É a única maneira de mudar isso", declarou o presidente do Parlamento, Julio Borges, ao entregar uma carta com esse pedido a Luis Emilio Rondón, único dos cinco reitores do CNE alinhado com a oposição.

Rondón compareceu à marcha na avenida Libertador, ponto onde a multidão foi contida pela Polícia. Ele prometeu tramitar a solicitação, afirmando que a crise é "impossível de ser escondida" e "as instituições têm de responder".

Milhares de chavistas marcharam no centro de Caracas em "defesa da revolução".

"O povo está na rua apoiando o presidente. Não vamos permitir que acabem com nossa revolução, que nos dá tantos benefícios sociais", defendeu Pedro Camargo.

A tensão entre o governo e a Mesa da Unidade Democrática (MUD) voltou a subir nas últimas semanas. Um grupo de opositores, entre eles um suplente de deputado, foi detido pelo recém-criado "comando antigolpe", liderado pelo vice-presidente Tareck El-Aissami, um chavista radical.

Eleições já!


As manifestações contra e a favor de Maduro acontecem em uma data simbólica. É em 23 de janeiro que se comemora a queda da ditadura militar de Marcos Pérez Jiménez.

Essa é a primeira marcha organizada pela MUD, desde que o CNE suspendeu em outubro passado o processo sobre o referendo revogatório contra Maduro e a oposição iniciou um diálogo com o governo. Essa tentativa de diálogo desativou os protestos provisoriamente.

"Vim porque quero eleições. É a melhor forma de sair um governo que nos faz tão mal", disse à AFP Dora Valero, uma enfermeira aposentada de 63 anos, que segurava um cartaz com a frase "Eleições já", na concentração no leste de Caracas.

O CNE havia adiado para 2017 as eleições regionais, as quais deveriam ter sido realizadas em dezembro passado.

"Neste momento, não há qualquer garantia de eleições no país. E não há democracia sem votos", ressaltou o ex-candidato presidencial pela oposição Henrique Capriles.

Segundo pesquisas de institutos privados, oito em cada dez venezuelanos reprovam o governo, cansados da severa escassez de alimentos e de remédios e de uma inflação que bateu 475% no ano passado - segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) - e que deve pular para 1.660% em 2017.

Na contramão dessas previsões, o governo prometeu que este será um ano de "recuperação". Para isso, em parte, trocou o presidente do Banco Central no domingo.

"O governo teme que uma reação em cadeia das ruas, pela terrível situação econômica, possa criar uma tempestade perfeita que saia do controle", disse à AFP o analista Diego Moya-Ocampos, do IHS Markit Country Risk, de Londres.

Dividida entre o diálogo e a estratégia para tirar Maduro do poder, a oposição congelou as negociações, em 6 de dezembro passado. A alegação é que o governo descumpriu acordos já feitos, entre eles a definição do cronograma eleitoral.

Ambos os lados se acusam de descumprir a palavra empenhada ao papa Francisco. No fim de semana, nos esforços para descongelar o processo, delegados do Vaticano e da Unasul propuseram um mecanismo para verificar o cumprimento dos acordos.

A oposição respondeu que estudará a proposta, mas garante que não abrirá mão de eleições.

"O povo vai continuar na rua até conseguir o voto", garantiu Julio Borges, durante a manifestação.

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